Friday 17 December 2010

WikiLeaks faz tremer “numenklatura”


Frelimo inviabiliza ida do Governo ao Parlamento para falar dos “telegramas” americanos
A ex-primeira ministra Luísa Diogo diz que o Governo de Moçambique não tem de explicar nada, alegadamente porque “a maior parte dos líderes e políticos do mundo chamados a comentar sobre os conteúdos dessas revelações, recusaram-se a fazê-lo, alegando a falta de fundamento e base de sustentação, e porque, na maioria dos casos, se tratavam de meras conjecturas sem qualquer base factual.”

Maputo (Canalmoz) – A bancada parlamentar da Frelimo, na Assembleia da República (AR), inviabilizou, ontem, o agendamento do debate sobre as bombásticas informações publicadas pelo Wikileaks, que envolvem nomes de altos dirigentes do Estado e do partido Frelimo em operações de narcotráfico e outras actividades ilícitas. Chegaram inclusivamente a indiciar o próprio chefe de Estado, Armando Guebuza, e o seu antecessor, Joaquim Chissano, de serem condescendentes ou “cúmplices” de narcotraficantes. E Luísa Diogo de ser uma colectora de gorjetas para o seu partido.
A bancada parlamentar da Renamo submeteu na quarta-feira última, o pedido de agendamento “urgente” do caso Wikileaks. A Renamo pretendia um debate com a presença do Governo, no qual este explicaria aos moçambicanos o que se está a passar.
Na sua fundamentação, a Renamo refere-se “preocupada com o facto de figuras importantes do Estado moçambicano tais como as do ex-chefe de Estado (Joaquim Chissano) e do actual (Armando Guebuza), a ex primeira-ministra (Luísa Diogo), o ex-chefe da bancada parlamentar da Frelimo (Manuel Tomé), entre outros, serem referidos como estando ligados ao narcotráfico”.
A Comissão Permanente, maioritariamente dominada pela Frelimo, decidiu levar o assunto para votação, ou seja, o agendamento do assunto e a consequente presença do Governo ficou dependente dos 191 deputados da Frelimo. E como era de esperar, a Frelimo votou contra o agendamento do caso Wikileaks e a presença do Governo no parlamento. Costuma-se dizer que quem não deve não teme, mas ficou a ideia de que o Partido Frelimo está com receio de esclarecer o que se está a passar e porque razão há indícios da natureza referida nos “telegramas” americanos de Maputo para Washington.

Luísa Diogo diz que é um assunto sem interesse

Para justificar o posicionamento da bancada parlamentar da Frelimo, foi indicada a deputada Luísa Diogo, ex-primeira ministra, que também é citada nos “telegramas” como sendo uma das altas figuras da Frelimo que recebe subornos provenientes do narcotráfico. Foi a primeira vez que Luísa Diogo intervém no parlamento desde que tomou posse como deputada.
Luísa Diogo começou por dizer que não consta que o Governo de Moçambique tenha sido notificado oficialmente sobre a matéria em causa. Para a Frelimo, segundo Diogo, a motivação usada pela Renamo para solicitar o agendamento do debate resulta, em alguns casos, de desabafos, juízos opinativos, ou comentários, sem qualquer base factual, não constituindo assim fonte credível ou oficial.
Luísa Diogo diz que o Governo de Moçambique não tem de explicar nada, alegadamente porque “a maior parte dos líderes e políticos do mundo chamados a comentar sobre os conteúdos dessas revelações, recusaram-se a fazê-lo, alegando a falta de fundamento e base de sustentação, e porque, na maioria dos casos, se tratavam de meras conjecturas sem qualquer base factual”.
Para Luísa Diogo, a ex-número dois do Governo da Frelimo liderado por Guebuza, os deputados da Assembleia da República foram eleitos para discutir assuntos de interesse nacional, e para apresentar projectos e ideias que contribuam para o desenvolvimento do País. Sentenciando, Diogo disse que a tarefa do deputado “não é debater notícias divulgadas por jornais e baseadas em opiniões”.

Quem não deve, não teme

Perante o posicionamento dos deputados da Frelimo, a Renamo preferiu apelidar a cena de “vergonha nacional”. Segundo o deputado José Manteigas, a bancada da Frelimo mostrou que não está interessada em ver as coisas a andarem neste País, senão servir aos seus superiores em tudo. Manteigas disse que não é intenção da Renamo julgar os acusados de narcotraficantes, porque esta tarefa é do Tribunal, mas sim dar oportunidade para que o Governo se explique. “Não é intenção dos moçambicanos julgar as altas figuras acusadas, mas sim, isso sim: os moçambicanos querem saber o que eles têm a dizer sobre isso, porque assim também não podemos ficar”.
Ainda de acordo com Manteigas, parlamentar da maior bancada da oposição, se a bancada da Frelimo nega que o Governo explique aos moçambicanos sobre o que está a acontecer é porque “teme alguma coisa, que nós (a Renamo) não sabemos”. Este deputado lembrou a má imagem que o País agora tem além fronteiras, e lamentou que a Frelimo não queira que o Governo se explique.

Negamos ser cúmplices de narcotraficantes

A bancada parlamentar do MDM votou a favor do agendamento do debate e a presença do executivo de Armando Guebuza, por considerar um assunto de interesse nacional e que devia preocupar os visados. Segundo o deputado Ismael Mussa, que é simultaneamente o secretário-geral do partido liderado pelo engenheiro Daviz Simango, presidente do Município da Beira, o mais preocupante agora é o facto de a Embaixada dos EUA em Maputo, ter confirmado que aquela informação é classificada. Tendo sido libertos apenas quatro dos 940 ficheiros, o MDM diz-se preocupado com o que vem a seguir, particularmente as supostas cartas autorizando a libertação de contentores de narcotráfico.
Prosseguindo, o SG do MDM afirma que os moçambicanos como tal pretendem estar informados da honestidade dos dirigentes deste País, porque alegadamente a história de alguns implicados diz-se confundir-se com a história de Moçambique. “Somos pela presença do Governo no parlamento, porque não queremos ser cúmplices no futuro, de algo que não nos dignifica como moçambicanos e como Estado”, concluiu Ismael Mussa.

(Matias Guente)

1 comment:

Anonymous said...

Não vê o sr Araújo que Wikileaks protege os amigos de Israel? Cadê a corrupção no país irmão de Angola? É a Mossad que faz a segurança pessoal do presidente angolano. Porque convém colocar mal a Turquia e os regimes árabes? Segundo Wikileaks o presidente sudanês é um ladrão. Abra os olhos sr Araújo.