No momento exacto em que ia postar este artigo recebi uma sms informando-me do falecimento, hoje dia 26 de Maio da tia Florencia, mae do Miko Cassamo, autor do artigo abaixo! Tia Florencia era mulher a quem tinha muito respeito e uma amizade profunda! Uma mulher impar, uma mulher de grande caracter, coragem e inteligencia! Faltam-me palavras...!
Ao tio Cristovao, ao Helio, Miko e todos irmaos aqui ficam os nossos mais sentidos pesames!
Paz a sua alma,
MA
Temos Identidade Nacional? (1)
Inicio hoje uma reflexão sobre um assunto que me irá ocupar, no mínimo, 3 edições. E tudo porque na minha crónica anterior sobre Gerações ter apelado para uma Identidade Africana e, por consequência, receber dos meus leitores amigos a pergunta: “Miko, com miscelânea e sincretismo a volta de África, será prudente afirmar que nações africanas têm uma Identidade”?
Os meus leitores secundavam suas observações com vigor porque, ultimamente, existem “estudiosos” preocupados com o conceito de Culturas Híbridas, resultante de fusão de várias culturas, que, obviamente (na óptica deles), afastam qualquer conceito de Identidade de uma Nação! Uff, que batata quente acabavam de me lançar.
Tentei retorquir que África tinha Identidade própria mas que os fazedores de opinião ocidentalizados tentavam fazer esquecer. Como a factuar a necessidade de África se organizar para fazer passar sua Identidade, reenviei ainda um convite sobre uma Palestra da Promoção de Identidade Africana a ser desenvolvida nos dias 26 a 28 de Maio pela South African Trust em parceria com a UEM e ISCTEM, ou seja, instituições académicas com a função de produção do saber! Este reenvio suscitou mais ânimos aos meus interlocutores que garantiram irem a Palestra para mostrar que Identidade Africana é uma falácia, um Chip Shot. Mas antes que a palestra chegue, procuro nesta coluna de Memórias & Esperanças trazer uma Reflexão em torno da existência ou não de uma Identidade Africana intrínseca as suas Nações.
É certo que em estudos do pós-colonialismo e pós-modernidade seja corrente vozes dos gurus da área, como Babha e Canclin, defenderem que “todas as culturas se cruzam uma com outra; nenhuma é individual e pura, todas são híbridas” e, por tal, não fazer sentido em sociedades contemporâneas falar em Identidades culturais rígidas. Sendo essa a opinião de muitos académicos do pós-colonialismo, afastados na sua maioria dos ideias nacionalistas dos libertadores africanos, é aceite fazer-se um esforço para os entender, mas já se estranha que se venha impor que cidadãos nacionais aceitem radicalmente esse pensamento, pois Identidade é Identidade por mais “hibridações” que sofram.
Uma viagem histórica aos ideias defendidos por nossos libertadores na sua luta pela descolonização, podem-nos ajudar a entender, afinal, o que é isso de Identidade Nacional. Assim, visionando escritos de alguns “crânios” nacionalistas como Cabral, Mondlane, Nkrumah e outros, que viveram a época do antes do fim do colonialismo é possível, tal como nas concepções correntes de desenvolvimento, encontrar um pensamento comum de que a “ liberdade verdadeira só se alcança se se conseguir tirar toda a dominação estrangeira sobre os destinos do País, principalmente em relação à economia, às riquezas naturais e a CULTURA. Aliás, Cabral, que priorizava a agricultura face a todos os outros sectores de desenvolvimento económico, se calhar pela influência da sua profissão de agrónomo tirada no ISA – Universidade Técnica de Lisboa, alertava que “devemos ter presente que não chega produzir, ter a barriga cheia, fazer boa política e fazer a guerra. Se o homem, a mulher, um ser humano faz tudo isso, sem ele próprio avançar como ser inteligente, como primeiro ser na natureza; sem ele próprio sentir que cada dia aumentam na sua cabeça os conhecimentos do meio, como do mundo em geral, quer dizer, sem ele avançar no plano cultural, tudo aquilo que faz produzir, fazer boa política, combater não dá resultado nenhum (Cabral 1979: 71)”.
Oh ooooh, eh eheeeeeeeeee … Esta concepção de Cabral e outros nacionalistas, além de inspirar o conceito de desenvolvimento humano usado hoje por várias agências internacionais, nomeadamente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), encara o desenvolvimento não só na sua dimensão material, mas igualmente na sua dimensão cultural e espiritual, incluindo o direito à educação, à participação cívica e à livre expressão da liberdade religiosa, o que significa lutar por uma Identidade Nacional, inquestionável para o desenvolvimento de uma Nação. Identidade que estava a ser relegada pela imposição colonial que procurava alienar sectores da sociedade para terem uma consciência oposta à ordem identitária africana, aos valores tradicionais linguísticos e culturais dos africanos, em troca de valores transnacionais ou modernos. Ou seja, os nacionalistas africanos tinham consciência que nenhuma luta poderia ser vencida se certas partes do território nacional fossem negligenciadas na promoção do desenvolvimento, sob pena de perigar o processo de construção nacional. Que só a Identidade Nacional pode congregar.
É certo que é bonito ver estudos do pós-colonialismos ou mesmo do pós-modernidade, mas há cautelas que devem ser tomadas em conta quando o que é o nosso por Legado procura-se apresentar no segundo plano como por exemplo resumir a nossa Identidade Cultural à capacidade de assimilar e exaltar comportamentos e práticas alheias à realidade da comunidade, aparições esporádicas na mídia com parcos relatos sobre guerra, crise, doença e fome (admira-me não haver cultura híbrida para esses casos), e ainda a imagem dos imigrantes africanos a chegarem todos os dias em embarcações precárias ao ocidente. Que marcos identitários!!!
Não me parece, por isso, que Cidadãos atentos a cultura Bantu que representa um terço da população negro-africana, onde a fronteira norte pode começar nas montanhas dos Camarões ou na desembocadura do Níger até ao sul da terra de Haile Gabre Salassié, incluindo a república centro Africana e sul do Sudão, possam dispensar a sua Identidade Bantu. Tanto mais quando sabem que os fazedores de opinião, e os que se acham arautos da verdade, arrepiam-se e nem querem ouvir falar numa possível Identidade Africana. Por saberem que isso lhes iria tirar a posição dominante que “sempre” ostentaram. Assim sendo, e não existindo grandes dúvidas de que há senhores com necessidades deliberadas de renegar a Identidade Africana, África terá que mostrar sua Identidade além fronteiras. Como? No próximo número de Memórias & Esperanças irei andar a volta disso.
Fuiii!
Miko Cassamo
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Tyson Fury refuses to accept he lost his rematch against unified
heavyweight champion Oleksandr Usyk and claims the judges gave him a
"Christmas gift".
11 hours ago
2 comments:
MiKo, os meus sentimentos, paz a alma da sua mae.
Desejo lhe muito folego para aguentar com a empreitada que e discutir identidades africanas. Outros paises africanos como Angola, Gana, Quenia, Nigeria, entre outros ja comecaram com essa discussao. Ca no nosso caso, uma meia duzia de artigos e conferencias foram realizadas nesse sentido. Estudos e discussao sobre o assunto sao uma raridade que nao lembra o diago, isto porque a nossa preocupacao e com infraestruturas, politica, cargos e desenvolvimento humano fica na cauda, porque nao enche a barriga.
Forca, ai...voltarei a este espaco para acompanhar as suas reflexoes e contribuir no que for possivel.
Abracos,
s
ah, para nao ser muito reducionista, sugiro a leitura de Mocambique - identidades, colonialismo e libertacao de jose Luis cabaco.
outro abraco,
s
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