EDITORIAL
Anda, por aí à solta, uma corja de cobardes, escondida por detrás de um número de telemóvel, a enviar-nos, insistentemente, mensagens engraçadas e reveladoras do seu baixo nível cultural e da sua profunda incultura política, tentando-nos intimidar, sob a ameaça de morte, caso continuemos a criticar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. São mensagens que espelham um elevadíssimo nível de malcriadez e uma avassaladora pobreza de espírito, provavelmente, sem paralelo para quem vive num país com aspirações democráticas, como o nosso.
A mais recentes de todas, que recebemos às 15.28 desta segunda feira diz:
“Boa tarde senhor maiena, estamos a controlar tudo aquilo que anda a fazer e queremos te ver como vai viver neste país só iremos deixar te livre se deixar de escrever aquela sua merda de propaganda contra o líder da renamo, Afonso Jacamo. Se voci queri escrever la do seu pai ladrau de voto e muiti coiza ande mal na pais nau escrevi so abuzar Jacamo tu vai ver o qui vai acontecer com voci macaco vai dormir com rosaelia como tu é muita puta. Merda maiana”
É desse tipo de lixo político-literário que a nossa caixa de mensagens está cheia, desde a noite da terça-feira, dia 18 de Maio corrente. Trata-se de mensagens, enviadas a partir do mesmo número de telemóvel, número esse ora em poder das autoridades de investigação criminal, para os devidos efeitos.
Embora escritas de diferente forma, todas as mensagens a nós enviadas possuem alguns aspectos em comum: fazem ameaça de morte e se dizem defensoras da imagem de Afonso Dhlakama, líder da Renamo. Aliás, quase todas se referem à esposa do líder, D. Rosária Dhlakama, sugerindo que o facto de nós termos escrito que ela anda abandonada pelo respectivo marido, significa que nós queremos adoptá-la como nossa esposa! Longe de nós tamanha pretensão! Longe de nós tamanha falta de respeito para com uma senhora da categoria da D. Rosária, que nunca ofendeu ninguém publicamente e, portanto, merecedora do nosso maior respeito. Uma senhora que não tem culpa de que alguém se valha de arruaceiros, do calibre dos que nos enviam mensagens, para lhe faltar ao respeito em público.
Seria bom, se calhar, começar, precisamente, por explicitar que quando nos preocupamos com a esposa do líder, que se diz abandonada pelo marido, estamos a manifestar uma preocupação humanitária básica, pois ninguém deve, em princípio, ficar abandonado por ninguém, sobretudo quando quem assim procede tem aspirações presidenciais.
Outro ponto essencial para os arruaceiros que nos ameaçam é o seguinte: nunca deixaremos de criticar figuras públicas, como Afonso Dhlakama, quando as mesmas se colocam na posição merecedora de crítica pública.
Se acatássemos tais ordens emanadas por bandidos e cobardes, que não têm a coragem de nos enfrentar abertamente, estaríamos a pedir demissão da nossa nobre profissão, abraçada há cerca de trinta anos.
Se calhar seja bom informar aos que nos ameaçam que quando iniciamos esta profissão, há cerca de trinta anos, não havia nenhum Dhlakama na cidade de Maputo, nem Nampula, mas nós já exercíamos a crítica incisiva contra figuras públicas que se colocassem na linha de serem criticadas, como Dhlakama gosta de se colocar.
Em segundo lugar, informar aos enviados de Dhlakama que nós temos agenda editorial própria, pelo que não carecemos de alguém nos dizer sobre o que escrever e o que não escrever.
A nossa agenda editorial é nossa, é ditada por nós e não carece nem de sugestão nem de ordens de agentes enviados para nos ameaçar, pelo que Dhlakama e seus manipulados devem procurar outra ocupação mais rentável do que andar a tentar intimidar pessoas que sabem o que estão a fazer.
A chave para deixarmos de criticar Dhlakama não está connosco. Está com ele mesmo. Está no seu comportamento público. No dia em que deixar de se comportar como um adolescente indisciplinado e passar a comportar-se como líder político com aspirações presidenciais, nós seremos dos primeiros a elogiá-lo, tal como já o elogiamos no passado, quando tinha um comportamento público de um verdadeiro líder político.
Não existe em Moçambique, jornalista nenhum que já elogiou tanto Dhlakama do que nós, sobretudo quando nas eleições de 1999 esteve a um passo da Ponta Vermelha, devido ao seu desempenho político exemplar.
Onde estavam, nessa altura, os cobardes que hoje nos ameaçam com SMS devido à nossa postura crítica?
O próprio Dhlakama, possivelmente, mandante destes arruaceiros já nos confidenciou, inúmeras vezes, a sua gratidão pela nossa postura independente.
Agora, dá para ver que, se calhar, para Dhlakama, a postura independente significa criticar os outros e não a ele! Se calhar, pensava que éramos muito independentes quando falávamos do vandalismo eleitoral da Frelimo, em Gaza, em que a Renamo era a parte mais prejudicada. Mas, logo que começamos a falar da postura ridícula e falsa do líder da Renamo perdemos, aos olhos do líder, a nossa postura independente e passamos a ser conotados com jornalistas tribalistas que criticam Dhlakama por não ser do Sul!
Para a informação de Dhlakama e seus sequazes, nós nunca tratamos pessoas em função da sua origem regional, nem étnica e, muito menos, tribal. Nós tratamos pessoas de acordo com o seu desempenho público, independentemente, do lugar de nascimento, residência e/ou região de origem. Fazemos isso desde 1974, quando despertámos e descobrimos a beleza da moçambicanidade.
Nunca mais voltámos atrás, pelo que nos recusamos, redondamente, a cumprir ordens retrógradas e cobardes provenientes de gente que, devido à sua miopia
política, se refugia na ameaça e amordaça para lograr seus intentos inconfessáveis.
Nessa empreitada, não contem connosco, pois nós sabemos o que queremos e como queremos!
Os nossos princípios são inegociáveis.
smoyana@magazinemultimedia.com
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