Wednesday 5 May 2010

Crédito bancário chega atrasado em cada campanha

Fábrica de caju vai encerrar em Manjacaze

Cerca de 250 trabalhadores vão perder o emprego


Maputo (Canalmoz) – A MADECAJU, Lda vai fechar este mês a sua fábrica de processamento de caju na província de Gaza, confirmou ao Canalmoz – diário digital, o seu sócio-gerente, Álvaro Martins.
A empresa tem sede em Manjacaze. Cerca de duzentos e cinquenta trabalhadores, entre efectivos e sazonais, vão perder os seus empregos.
O fundo de salários varia entre 200 e 250 mil meticais/mês.
Os trabalhadores sazonais ganham em função do rendimento. São remunerados com base no salário mínimo nacional para o sector, mas em função da produtividade média por trabalhador, explicou-nos o gerente da empresa.
O sócio-gerente da MADECAJU, ao confirmar-nos que a empresa vai fechar, como nos dissera fonte dos trabalhadores, explicou-nos que cidadãos indianos que estão no país com visto de turistas estão a comprar a castanha directamente aos produtores e a exportar.
“Durante a campanha do caju, esses comerciantes indianos vão ao terreno comprar caju. Vivem lá no interior em condições muito precárias, guardam a castanha em lojas antigas que estão em ruínas, e depois exportam”.
“Como a banca só tem desembolsado muito tarde os créditos para a campanha, nós não conseguimos competir” – disse-nos Álvaro Martins – “Mas a grande questão é que estamos a competir com quem vem comprar caju dentro do país com visto de turismo”.
“A empresa vai fechar por falta de garantias bancárias. A banca só financia em Janeiro / Fevereiro de cada ano, no meio ou já quase no fim da campanha anual do caju. Agindo dessa forma não nos permite adquirir a castanha a preços competitivos, que ocorrem no início de cada campanha ou época de castanha do caju”.
“Enquanto a indústria nacional não tem crédito bancário, quem vai comprando o caju são estrangeiros que vêm da Índia, com vistos de turismo. Compram a castanha a bom preço e depois exportam em bruto. No fim da campanha, a castanha que não conseguiram exportar das campanhas anteriores vendem às empresas nacionais, porque os créditos bancários vieram atrasados”.
Álvaro Martins é sócio da MADECAJU, Lda numa sociedade com o seu filho menor. A MADECAJU tem estado a explorar a fábrica de processamento da PROCAJU, que fechou no fim do século passado.
A PROCAJU pertence a Sara Daúde e José Carlos Borralho. O Estado tem os restantes 20%. Por estar inactiva, as suas instalações foram alugadas à MADECAJU, que agora também vai encerrar a actividade.
Só a partir de mil toneladas / ano de castanha para processamento é que a fábrica é rentável, disse-nos também o sócio-gerente da MADECAJU.
Disseram-nos que o governador da província tem conhecimento do caso e nada faz. Álvaro Martins riu, quando lhe colocámos a questão nestes precisos termos e rectificou: “O senhor governador sabe do caso, mas não sei se não está a procurar uma solução. Sei que ele ficou preocupado. Não sei se não está a fazer nada, como vos disseram”. “Disso eu não sei nada”, concluiu o gerente da MADECAJU.
Álvaro Martins está, no entanto convicto de que o Governo tem ao seu alcance a solução. “Qual?” – perguntámos. “Tem ao seu alcance pelo menos impedir que estrangeiros em visita ao país, com visto de turismo, estejam a ajudar a rebentar a indústria nacional do caju”.

(Fernando Veloso)

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