'Zambézia, quem te vê e quem te viu'
Todos movimentos de contestação da ordem simbólica são importantes pelo facto de porem em questão o que parece óbvio; o que é posto fora da questão, indiscutido. É o caso do movimento feminista que não podemos arrumar dizendo que é obra de burguesas.
(Pierre Bourdieu)
A oposição foi dada o aviso a navegação na província da Zambézia, a qual só lhe resta um único caminho, a de capitulação, porque não terá espaço de manobra, pelo menos naquela parcela do país, segundo nos fez entender o Governador Itai Meque.
Não se trata da oposição política que pretendo aqui focalizar e interagir com os leitores, mas sim, sobre a oposição a que chamaria de “oposição social” e
defino esta oposição como sendo aquela que tem por objectivo perturbar a ordem social, não se trata de oposição que luta pelo poder, esta luta pela desordem
social.
Conforme os relatos que temos vindo a acompanhar, a província da Zambézia está a ser assolada pela cólera desde o início do presente ano, com maior destaque para o distrito de Gurué onde já se registaram óbitos. Esta situação criou alguma agitação social no seio da população, devido a uma onda de desinformação, que segundo alguns populares, esta doença é provocada pelos agentes da saúde que usam o cloro para
propagarem a cólera.
Uma autêntica aberração se assim se pode dizer, não cabe na cabeça de um mundano em pleno século XXI dizer coisa parecida.
Contudo, tem a sua explicação no seio daqueles residentes, na medida em que relacionam o cloro com a cólera. Até aí tudo bem, assumimos que o analfabetismo
em Moçambique ainda é uma realidade e ir ao campo dizer estas palavras tal como elas são a um camponês analfabeto como se estivesse a falar para um universitário ou um londrino, um lisboeta, só pode trazer confusão.
Porém, a maior aberração é quando um dirigente máximo da província, o qual o povo esperava dele que fosse dar uma explicação mais didática e um consolo às pessoas que perderam os seus ente queridos na sequência desta confusão de palavras (cloro vs
cólera), ao invés disso, foi complicar mais a situação ao considerar que os acontecimentos de Lioma é obra da oposição.
Assim também não Sr. Governador, aí metemos mais água.
Politicamente pode ser correcto levar estas mensagem ao povo no âmbito da governação
aberta que Sua Excia Sr. Governador tem feito à província, onde mantém um contacto directo com as massas. Diferentemente quando vamos junto a esse mesmo povo viver uma situação de tragédia, um momento díficil de suas vidas, acho que precisamos de mudar de postura e discurso, porque numa situação destas o povo já não ouve e nem quer a
política, espera que a autoridade mais alta da sua comunidade, do seu distrito, da sua província e do país em geral lhe traga palavras de apreço, solidariedade e consolo.
A oposição social de que me refiro vem a proposito destes pronunciamentos que amiude
surgem nos discursos dos nossos dirigentes, quando no país acontecem sismos sociais desta natureza que se chega a conclusões sem serem problematizados. Pierre Bourdieu,
dizia que não podemos arrumar o movimento feminista dizendo que é obra de burguesas, ou seja, quando estamos diante de um fenómeno social que não conseguimos dar
uma explicação, recorremos ao obscuro, ao externo, a mão invisível, a uma oposição sem rostro, isso pode ser um fatalismo intelectual porque caimos na obviosidade.
Numa sociedade como a nossa não podemos colocar os fenómenos sociais que ocorrem como questões óbvias e sem explicação. O óbvio nos conduz ao extremismo político,
enquanto que os factores são de natureza social e atropológica.
Como bem dizia Bourdieu, que “a ausência de teoria, de análise teórica da realidade, coberta pela linguagem de aparelho, faz nascer monstros”. O nosso país está repleto
de exemplos de fenómenos socioculturais e económicos que são tidos como óbvios e associados a factores políticos.
O memorável 5 de Fevereiro foi interpretado como sendo obra de uma mão invisível, de agentes do exterior ou que era obra da oposição. Muitos debates ocorreram na altura, tanto nos blogues, assim como nos diversos órgãos de informação e algumas destas opiniões convergião neste sentido e chegou-se inclusive, ao ponto de
alguns serem chamados de profetas da desgraça.
No período compreendido entre Dezembro de 2001 e Janeiro de 2002, eclodiu um surto de cólera na zona costeira da província de Nampula e as populações criaram a
Zambézia, quem te vê e quem te viu Todos movimentos de contestação da ordem imbólica são importantes pelo facto de porem em questão o que parece óbvio; o
que é posto fora da questão, indiscutido. É o caso do movimento feminista que não podemos arrumar dizendo que é obra de burguesas.
(Pierre Bourdieu)
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Diário da Zambézia Jornal Electrónico – Quarta – feira – 17/03/10 – Edição nº 768– Página 04/ 04.
German Christmas market attack suspect remanded
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A 50-year-old man has appeared at a district court after a car drove into a
crowd in the city of Magdeburg, killing a nine-year-old boy and four other
people.
1 hour ago