Será desta que nos desenvolvemos?
O que falta a África para desenvolver e sair da humilhação e subserviência dos outrora colonizadores? Esta é a pergunta recorrente para qualquer atento sabedor das riquezas infindáveis no subsolo deste continente a procura dos seus melhores caminhos estratégicos. Em resposta, os saudosistas dos anos 50 dirão “falta a África a audácia de imitar certo o que os países do 1º mundo lhes impõem a fazer”. Outros, à Mugabe, dirão que África nunca pode apostar cegamente nas receitas prescritas por aqueles que durante séculos escravizaram e delapidaram sua riqueza e, não contentes com isso, ao nos dar independência afastaram a possibilidade de qualquer compensação. Mais ainda, exigem pagamentos de dívidas infindáveis. Por último, os últimos, mas não menos importantes, dirão que África deve confiar na ajuda dos então colonizadores para, por si, delinear estratégias que garantam a segurança alimentar africana. Posição esta recentemente defendida pelo Bingo Wa Mutarica na sua tomada de posse como “boss” da União Africana.
Não querendo confrontar estes três pensamentos e ideias e sem medo de errar, é possível afirmar que wa Mutarica está no caminho certo ao priorizar a produção de comida na sua agenda para África. Concerteza, Bingo, depois de amadurecido, deve ter podado os exageros e arroubos da inexperiência, na forma de como os jovens quando muito jovens sonham ser alguma coisa na vida adulta, tencionando mudar tudo, consertar os problemas e transformar o seu mundo para o consumismo característico da vida ocidental. Bingo verificou que África só pode desenvolver depois de garantir sustentabilidade alimentar. Ou seja, África alimentar África!
Pensando nessas questões cheguei à conclusão que o discurso último de wa Mutarica, acompanhado atentamente pelas últimas gerações de jovens dos anos 60, muitos deles já adultos hoje em dia, é um discurso a ter em conta. A ter em conta porque o importante para África seria a trajectória para a produção de comida, e não o chegar à pressas, nalgum lugar ou situação, imaginário e desejado pelo fenómeno consumista. África não pode correr para ter automóvel Hummer, ter roupas de grife italiano, ter objectos que os tornam diferentes e “superiores” a outros, apesar de torná-los iguais a uma minoria. Minoria privilegiada, evidentemente. África, de facto, precisa alimentar-se primeiro para aspirar a desenvolver e não a se entreter com pensamentos sobre agricultura hidropónica enquanto mais de metade da sua população morre por não ter o que comer apesar da riqueza dos seus solos.
África tem que deixar de aceitar todos os dias ser massacrado, pela ideologia do Ter estimulada pela TV e a mídia de uma forma geral, inclusive cinema, instrumentos que desafiam a todos para o consumismo. É desejável que o discurso de Wa Mutarica venhe, de facto, potenciar a oportunidade de África iniciar um processo de transformação estrutural do modelo de sua agricultura de baixa utilização de insumos, investimento e valor reduzido, para um modelo de alta utilização de insumos e alto investimento para atingir o auto-sustento alimentar. E isso passa, entre outros, por investir em infra-estruturas rurais (estradas terciárias, inclusive) que permitam o escoamento agrícola do agricultor familiar.
Bem-haja a ideia de wa Mutarica, pois, pode ser essa a chave para sairmos da dependência crónica e desenvolvermos África!
miko cassamo
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