Monday, 9 November 2009

Falando na Beira onde acompanhou Brazão Mazula

Alice Mabota duvida da legitimidade das eleições de 28 de Outubro

“Se eu ganho o poder através de um vício eu teria vergonha” – Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) “Eu vi que houve muita viciação de votos”. “Eu confesso que tenho muitas dúvidas se as eleições moçambicanas foram livres, justas e transparentes. O que posso garantir é que foram ordeiras, o que significa que as filas decorreram de uma forma aceitável, as pessoas foram depositar o voto de uma maneira aceitável, não houve perturbações. Mas quanto a transparência, a justeza e liberdade, eu tenho muitas dúvidas” – idém “Enquanto estive em Maputo eu não tinha uma percepção sobre as eleições. Quando cheguei às províncias a minha percepção é já outra. Eu preciso reflectir muito sobre aquilo que vi e ouvi. É muito triste.” – idém

Beira (Canalmoz) - Alice Mabota, na sua qualidade de membro do Observatório Eleitoral, disse sábado na Beira, que duvida destas eleições. “Confesso que tenho muitas dúvidas se as eleições moçambicanas foram livres, justas e transparentes”. A presidente da Liga dos Direitos Humanos esteve na Beira na companhia de Brazão Mazula, que foi o primeiro presidente da CNE (Comissão Nacional de Eleições) a fim de procederem à entrega dos resultados eleitorais da contagem paralela efectuada pelo Observatório Eleitoral que deixa clara a percepção de que à medida que se afasta de Maputo o entendimento sobre o processo eleitoral pode ser outro.
Questionada pelo Canalmoz sobre a leitura que faz sobre as eleições do passado dia 28 afirmou: “É muito difícil fazer comentários. Enquanto estive em Maputo eu não tinha uma percepção sobre as eleições. Quando cheguei às províncias a minha percepção é já outra. Eu preciso reflectir muito sobre aquilo que vi e ouvi. É muito triste. É preciso fazer-se um trabalho grande para que no futuro as eleições em Moçambique sejam transparentes, o que significa que todos os processos que estão à vista e que são percebidos por toda a gente. Que sejam livres, quer dizer, para que toda a gente tenha liberdade de escolher o partido que quer e votar em quem quer. E que sejam justas, no sentido de que a justiça tem que ser igual para todos.”
Neste momento, conforme disse, “eu confesso que tenho muitas dúvidas se as eleições moçambicanas foram livres, justas e transparentes. O que posso garantir é que foram ordeiras, o que significa que as filas decorreram de uma forma aceitável, as pessoas foram depositar o voto de uma maneira aceitável, não houve perturbações. Mas quanto a transparência, a justeza e liberdade, eu tenho muitas dúvidas”.

“Se eu ganho o poder através de um vício eu teria vergonha”

O que terá visto nas províncias?, eis uma outra pergunta do nosso repórter.
“Eu vi que houve muita viciação de votos. É com muita tristeza que assisti a isso. Quer dizer, se eu ganho o poder através de um vício eu teria vergonha. Como sabem, eu sou sempre envergonhada. Só não tenho vergonha de dizer o que me vem na alma. Mas eu teria vergonha”, sustentou.
Recorde-se que Mabota esteve recentemente no centro de vários comentários quando num encontro tido entre o ex-presidente Joaquim Chissino e juristas ela afirmou que não votaria na Frelimo. Tal aconteceu quando terminado o discurso, Chissano pediu aos presentes para apresentarem as razões de eles, querendo, votarem na Frelimo e no seu candidato presidencial, como, assim havendo, quem não queira votar nos Camaradas, apresentar, igualmente, as suas razões.
Após cerca de cinco minutos de silêncio, Alice Mabota, que também é Presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, pediu a palavra e o micro para dizer o que lhe vinha na alma.
"Vou falar aquilo que eu sinto e penso. Não pretendo escovar ou ofender a ninguém, tanto mais que admiro e respeito muito o ex-chefe do Estado", assim introduziu Mabota, para, depois, gelar a sala com as seguintes palavras: "eu não vou votar na Frelimo e em Guebuza, porque a Frelimo humilha as pessoas, pisa as pessoas. Não concordo com o ex-chefe do Estado quando diz que tudo o que temos e somos, hoje, foi a Frelimo quem o fez. Será que, mesmo se o colono continuasse até hoje, Moçambique não estaria assim? Eu fui a primeira mulher negra a ter carro no período colonial, aqui em Moçambique e não era a Frelimo a governar".
Prosseguiu, no mesmo tom, dizendo que "o dinheiro que a Frelimo usa e tem vem dos nossos impostos, nós é que pagamos os impostos, por isso, não venham nos dizer que votem na Frelimo e em Guebuza, porque tudo o que existe e temos a Frelimo é que o fez, porque, se levarmos o mesmo dinheiro e o dermos a um outro partido, também esse pode fazer muitas coisas boas".
Sustentando as suas declarações, Alice Mabota fez saber, no entanto, que o facto de não votar na Frelimo e em Guebuza, não é sinal de que ela seja da aposição. "Com esta minha idade, não posso ser de um outro partido, senão a Frelimo, mas não tenho o cartão de membro, já o tive, mas, agora, não o quero ter, por causa das pessoas jovens que estão a dirigir agora. Por isso, não quero ter o cartão de membro e não quero votar na Frelimo e em Guebuza! Talvez se me dissesse que o governo que a Frelimo irá formar será inclusivo, mas, mesmo assim, não quero", disse então a presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos.
No contra-ataque, o orador de serviço, Joaquim Chissano, tentou contornar o embaraço, dizendo: “concordo com a doutora Alice Mabota quando diz que não vai votar na Frelimo por aquilo que fez. Eu, próprio, vou votar na Frelimo e em Guebuza, não por causa daquilo que fez, vou votar, sim, por causa daquilo que vai e pretende fazer". Mabota referiu ainda que "alguém me disse que os políticos são malabaristas e malabarismo para mim é sujeira, é crime, é corrupção. Por isso, não quero votar na Frelimo e em Guebuza".
Aliás, Chissano dissera, logo à sua chegada àquela sala, sobretudo depois de gritar viva Frelimo, viva Armando Guebuza que "eu sei que nem todos os que levantaram a mão a dizer viva o fizeram do coração; mas é normal, porque o que queria era apresentar as razões de se dever votar na Frelimo e em Guebuza".

Sobre o Observatório Eleitoral na Beira

Enquanto isto, instado a pronunciar-se sobre o propósito desta vinda à Beira, Brazão Mazula disse: “Como disse noutros momentos, nós do observatório eleitoral, fizemos a observação destas eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais. No nosso critério e método, entendemos que após produzirmos o relatório técnico preliminar tínhamos que o entregar aos três candidatos a presidência da república”.
Acrescentou que “o relatório é preliminar porque não é último, e depois foi um acto muito breve. O presidente do MDM entendeu também dar-nos informações daquilo que o MDM sentia do processo eleitoral. Ouvimos e agradecemos o facto de nos ter informado de vários aspectos, incluindo a câmera através da qual eles conseguiram filmar algumas mesas de voto sem os presidentes se aperceberem. E nós agradecemos e vamos reflectir sobre estes dados sem comentários neste momento”.
As imagens captadas irmão mudar a vossa forma de actuação futuramente? Perguntámos a Brazão Mazula. “Nós dissemos ao candidato do MDM que eu não sou Observatório, nem os dois que viemos. Portanto, vamos levar isso à equipa do observatório. Vamos analisar isto e ver quais os procedimentos a seguir”. Estes comentários foram a propósito da fraude filmada pelo MDM numa escola da Beira.

(Adelino Timóteo)

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