Compatriota Inácio Chire
A cidade ruralizou-se faz tempo. Cada um e de cada canto, o melhor sitio destribalizado que encontra eh na Cidade de Maputo. Não interessa se a pessoa tem parentes seguros para abandonar o seu habitual casulo e descer para Maputo. Para se compreender o drama eh dar uma voltinha aos bairros da capital, Chamanculo, Mafalala, Costa do Sol, Zimpeto, Zonas Verdes, Patrice Lumumba etc. etc. Uns procuraram Maputo para estudar, nessa lista estão os meus filhos. Outros vieram cumprir a vida militar e nunca mais regressaram. Outros estão pululando nas ruas vendendo alfinetes, piripiri, roupa usada, sapatos usados e vadiando a liberdade. Num fim de semana quem quer se chatear com qualquer coisa que vá ao Xipamanine, não faltara algo para criar um aborrecimento. Os cadastrados que fogem de diversos cantos de Moçambique encontram em Maputo local ideal para passarem despercebidos, justificando de tempos a tempos subida de criminalidade em Maputo. A abertura de fronteiras não fica longe das analises para interpretar a subida do numero de falecimentos.
No meio de tudo isto o HIV-SIDA, não assumido primeiramente, já fermentou em muitas pessoas e esta com a foice de colheita empunhada, chamando a si e ao destino, nossos familiares minuto a minuto. Uns assumiram o desafio da infecção e contra tudo e todos arremessam dardos para Ivo Garrido não acabar com o Hospital Dia. Outros discretos fazem o seu tratamento em família, no silencio da agonia. Uma grande parte, por dificuldades financeiras, suspenderam o tratamento, reduzindo suas esperanças de coabitar entre vivos. Mas a maioria mesmo sabendo-se infectada não acredita no malefício, não abandona a barraca onde bebe que nem uma esponja, o que inviabiliza os possíveis tratamentos para adiar a morte. Quando se fala de 500 pessoas infectadas por dia temos que traduzir isso na vida real, e Lhanguene eh o espelho fundamental. Muita gente morre pela doença do Século, pelo SIDA. Essas pessoas morrem em condicoes extremamente difíceis, na mais abjecta desgraça.
Não terimos um grande numero de corpos não reclamados se muitas pessoas vivessem em Maputo com um parente, num clima familiar ou de amizade responsável. Ate meninos crescem nos esgotos, nas ruínas, nos prédios abandonados, onde a doença eh o mais fiel companheiro etc. etc. Quando morrem mesmo tendo família por perto, nessas circunstancias eh difícil saber que o parente fulano de tal perdeu a vida. Os que desaparecem das Províncias, depois de protagonizar desacatos familiares, ou movidos pela vontade de curtir cidade, abandonando a dignidade do meio rural dificilmente são reclamáveis em caso de morte. Os acidentes de viação constituem o pior tormento da actualidade. Parece que devíamos ter ruas esburacadas ou arquitectonicamente lombadas para reduzir a velocidade e respeitar a vida dos demais utentes das vias de acesso. Aumentaram as escolas de condução, tal como boutiques, salão de cabeleireiro, cantinas e o resultado equaciona-se em Lhanguene. Os baleamentos sob variados prismas, as matanças por brigas, ciumes alcoolizados, problemas de feitiçaria e outras motivacoes nao vou me reter a eles.
Amigo Chire, a morte foi banalizada na nossa sociedade també m já faz tempo. Desde as historias de Garagua, de Sitatongas I e II, de Muiravale, Basilio, Mussaraua, Mugema, Taninga, Gorongosa e outros, que morte, cadáver, deixaram de fazer parte dos nossos cultos mais solenes, cobertos de cerimonias ritualizadas da mais pura africanidade. Ja nao somos os mesmos, situação que se entrou na Politica, na Governação, na educação, nos projectos de desenvolvimento, temos feito tudo como se não fossemos conhecedores do que efectivamente somos, entramos num longo processo de faz de conta. Não vou falar do comportamento funerário urbano, onde algumas damas entram na capela do velório com as suas flores a ultima hora, para captar visibilidade e merecer um olhar de cobiça por um possível cavalheiro ali presente. Mas a moral baixou negativa e perigosamente entre nos, atingindo o nível de escândalo colectivo. Hoje ninguém liga ninguém e pior quando morto...
Pedro Lavieque
26.Agosto.2009
Bosnian-Serb leader sentenced to jail in landmark trial
-
Dodik's trial had been widely seen as a test for the Balkan nation's weak
central government.
32 minutes ago
No comments:
Post a Comment