Monday 17 August 2009

OBRIGADO PELAS AUSÊNCIAS

ÁFRICA DO SUL 2009



Da África do Sul em 2009, ficará na memória de muita gente a feira internacional do livro da cidade do Cabo, a qual tive a honra e privilégio de participar representando Moçambique, através da Associação dos Escritores Moçambicanos.

Com efeito, após a participação tive uma grande ansiedade em escrever sobre a feira, mas essa predisposição não durou muito tempo. Porém, por insistência de amigos, tentarei colocar algum registo sobre a minha jornada:

Antes de tudo, permitam-me agradecer ao Ministério da Educação e Cultura por não me ter atrapalhado nessa viagem. Agradeço a amabilidade que os profissionais do Ministério tiveram de não entrar em contacto comigo (e claro nem eu com eles!). Agradeço também a Embaixada de Moçambique na África do Sul que não se dignou a me receber. Em particular aos Serviços Consulares na cidade do Cabo. Muito obrigado mesmo, do fundo do coração, por não enviarem um representante da Embaixada para ao menos me saudar no Hotel onde estava hospedado. Obrigado por não visitarem a estante de livros moçambicanos. Agradeço a ajuda não dada na ornamentação do espaço. Agradeço por não me emprestarem a bandeira nacional e outros símbolos representativos de Moçambique.

Lembrei-me logo no grupo Timbila Muzimba num festival no exterior em que durante a inauguração do mesmo era o único grupo que desfilava sem a sua bandeira nacional e nem acompanhamento dos diplomatas do seu país.

Os meus agradecimentos são extensivos a todas instituições que apoiam a cultura moçambicana, que neste preciso evento não puderam custear as despesas de passagem e acomodação à, pelo menos, um repórter de modo a fazer a cobertura do acontecimento. Obrigado por não me incomodarem com jornalistas e fotógrafos.

Tudo apresentado acima não é ironia é real ou surreal, se quisermos. A viagem a África do Sul fez-me sentir necessidade de ser simultaneamente embaixador, bandeira, fotógrafo, repórter, escritor, etc.

Lembro-me de certo dia estar em conversa com músicos moçambicanos, radicados no Cabo, e ter colocado a eventualidade de perdermos a vida naquele dia! Imaginamos logo um palhaço, fazendo-se passar por diplomata, falando em directo para um dos canais televisivos em Moçambique, anunciado a ocorrência!

Por falar nos meus amigos na Cidade do Cabo, talvés fosse interessante custear-se uma viagem a repórteres sérios, a fim de efectuarem uma recolha exaustiva do maravilhoso trabalho destes. O carinho, respeito e consideração que estes recebem na África do Sul é fenomenal! Lembro-me duma ocasião em que passeava no WaterFront com dois destes, um baterista e outro cantor, entramos numa loja de venda de discos musicais. O dono da loja reconheceu os músicos e acabamos ganhando acesso ao material restrito da loja. A tonalidade da voz do empresário era de admiração. Admiração não só aos músicos, mas também ao país!

Entretanto quando se regressa ao Aeroporto Internacional de Maputo, ninguém está para te receber! Convenhamos! A mim, para me receber no regresso a Maputo, não havia jornalistas. Não havia, ao menos, um técnico do Ministério da Educação e Cultura. Não havia um táxi pago por um empresário nacional. Não havia registo significativo e a questão que me ocorreu, naquele momento, foi "Afinal o que estou a fazer?". E a resposta veio de uma das canções do Alexandre Langa, que diz é preferível ir assistir futebol que tentar fazer cultura.

Domi Chirongo

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