Lucrecia Paco, actriz
Lucrécia Paco narra o episódio triste vivido no Brasil
A actriz moçambicana Lucrécia Paco viveu, recentemente, um episódio de discriminação racial no Brasil, onde se encontrava a participar num festival de diferentes expressões culturais. No entanto, foi surpreendida pelo “festival de racismo” que se registou poucas horas antes de se apresentar em palco.
O racismo verifica-se em quase todo o mundo. Certamente que já acompanhou casos de outras pessoas que passaram por situações de discriminação racial.Quer comentar sobre o episódio de racismo que viveu? Para mim, o que aconteceu foi um incidente ultrapassado, não quero me agarrar a isso. E a partir daí assumo que as pessoas são diferentes. Depois dessa situação, encontrei uma menina que quer tanto ser negra, que me admirava... me pegava... e dizem que come muito chocalate, pois tem a ideia de que é assim que se fica negro. ela impressiona-se com a cor preta.
Como aconteceu e como se sentiu perante a situação?
Estava numa casa de câmbios no centro comercial paulista, precisava de trocar dólares. Não sei nem assumo que toquei na senhora. Ela virou e puxou a sua bolsa. pedi desculpas mesmo sem assumir que a toquei. Ela pôs-se a gritar: “vou chamar a polícia”. Ela apostava que eu era uma imigrante ilegal. tirei o passaporte e mostrei-lhe. Irritada, eu disse que o meu país tem estado a receber muitos brasileiros, que “vivo num país tão belo que os brasileiros quando lá vão querem instalar-se”. Eu acho que ela é doida. Tudo isso aconteceu numa altura em que estava preocupada com a minha timbila, que ficou na hora de ambarcar. E o senhor do caixa, que é o chefe das bagagens da SA, entendeu que a mesma timbila que uma semana antes tinha passado com ela para Espanha já não a podia levar para Brasil como bagagem simplesmente porque não lhe apetecia, e teve a ousadia de me dizer.
Como reagiu?
Normalmente.
Se tivesse vivido uma situação do género no seu país, a reacção seria a mesma?
Não vejo a possibilidade de viver isso no meu país, porque estou no meu espaço. digo isso porque aqui somos multiraciais, vivemos bem, não é por acaso que as pessoas quando vêm para aqui querem ficar. não imagino que possa passar por uma situação do género no meu país. Prefiro continuar a julgar as pessoas pela sua competência, pelas suas capacidades, e não pela cor da pele.
Sei que o dia em que foi humilhada publicamente era o mesmo em que ia apresentar a peça “mulher asfalto”. De que forma o sucedido terá abalado o seu estado de espírito, tendo em conta a sua apresentação?
Ahh... foi uma das melhores apresentações. Não posso negar que realmente no Brasil é dificil ser preto. “mulher asfalto” já diz “eu estou aqui, eu existo”. Não abalou o meu espírito, naquele momento disse para mim mesma “Sou negra, mas estou aqui e vocês estão a aplaudir”.
Com esse triste incidente, terá mudado a imagem que tem do Brasil?
Não significa que vou olhar para o brasileiro com olho torto, ela (a senhora) não conseguiu criar em mim um desejo de vingança.
Sei que se casou com um homem branco. sentia maus olhares quando estivesse com ele?
Algumas pessoas olham e gostam, outras desdenham. Casei-me com o homem que amo, não tenho como ser racista nem preconceituosa com a questão da cor.
Qual foi a reacção da família dele quando a conheceu?
Fui muito bem aceite pela família. sempre fui adorada por todos. Houve sempre respeito tanto por parte da minha família, assim como da dele. Não houve quem se opusesse.
Quarta, 15 Julho 2009 12:35 Felicidade Zunguza
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