Presença do ex-bastonário dos advogados gera murmúrios entre militantes
…tudo porque ao nível da província, os militantes da Frelimo nunca conheceram as conexões de Carlos Cauio com o partido
Nampula (Canal de Moçambique) – A presença do antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Carlos Cauio, na sessão que reuniu os militantes da Frelimo que elegeram os candidatos a deputados da AR (Assembleia da República) em Nampula gera sururu na sala onde decorreu o encontro.
A sessão foi marcada com a presença de altos quadros do partido a todos os níveis, desde o topo até a base, incluindo figuras que nunca antes os membros e simpatizantes daquela formação partidária conheceram a sua ligação com o partido. Cauio foi um dos exemplos, aliás, a sua intervenção vinha agendada no programa.
O sururu na sala foi de tal forma até que um membro, algo corajoso, saiu dos murmúrios e questionou a presença do antigo bastonário, supostamente, tal como argumentou, por esse ilustre ser desconhecido no seio do partido, pelo menos ao nível de Nampula. Veio em socorro de Cauio, Manuel Tomé, membro da brigada central do partido. De acordo com Tomé, Cauio estava na sala no sentido de intervir, logo após a votação, “para explicar os critérios da fase que se segue à eleição dos candidatos sobretudo no que diz respeito a organização das listas”.
Mesmo depois desta justificação dada pelo chefe da brigada central, ainda se podia ouvir nos bastidores os murmúrios, ao que tudo indica, porque os militantes da Frelimo em Nampula não acharam convincente a explicação do chefe Tomé.
O partido Frelimo, na província de Nampula, esteve reunido ontem, domingo, na capital daquela província nortenha do país, para a eleição dos noventa e dois candidatos para deputado da AR, dos quais quarenta e seis efectivos e igual número de suplentes.
Refira-se que ao todo a província de Nampula o partido Frelimo dispunha de um total de 170 candidatos nas eleições internas, dos quais 29 da lista de continuidade, 117 para a renovação e 24 para os antigos combatentes.
Mudança de discurso
Uma outra questão que foi motivo de inquietação tratou-se da mudança de discurso de Manuel Tome no tocante ao modelo da vitória que a Frelimo pretende conseguir nas próximas eleições.
Outrora, Manuel Tome, à semelhança de outros altos quadros do partido, apostava em como a Frelimo queria abocanhar todos os assentos na posse da Renamo na Assembleia da República.
Para o espanto dos membros das bases que já anunciaram nos seus círculos que a Frelimo tem como meta ganhar tudo nas próximas eleições, depenando assim a perdiz e impedindo outros de terem veleidades, Manuel Tome veio a terreiro anunciar, desta vez, ser intenção do seu partido vencer com marca retumbante e esmagadora e nunca conquistar todos os lugares na AR.
Na verdade, comenta-se que a mudança do discurso, que para muitos significava o retorno ao monopartidarismo deve-se a pressão externa. O mais provável, diz-se por cá por Nampula, é a pressão vir dos doadores que contribuem com mais de 60% do Orçamento Geral do Estado (OGE). Sendo o voto secreto, não fica grande margem para se poder acreditar em pressões para se alterar o que os eleitores decidirem nas urnas. Há quem admita que a mudança do discurso arrogante de vitória retumbante que certos dirigentes do partido Frelimo vinham debitando, se deve a uma apreciação mais objectiva do que está a ser a tendência real do eleitorado.
(Aunício da Silva)
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