CODESRIA
Tema: Desporto e género no desenvolvimento de África
Data: 23 a 25 de Novembro
Local: Cairo , Egipto
Em conformidade com o seu mandato que consiste em desenvolver, promover, consolidar e difundir uma pesquisa aprofundada sobre a África, o Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA) irá organizar de 23 a 25 de Novembro, no Cairo (Egipto), um simpósio sobre o Género. O simpósio sobre o Género é um fórum anual que se debruça sobre as questões do género. A edição de 2009 terá como tema “o Desporto e o Género no Desenvolvimento de África”
Desde o início dos anos 90, o CODESRIA foi pioneiro na mobilização de universitários africanos com vista ao alargamento das fronteiras da produção do saber sobre as questões de género. No âmbito das análises realizadas, procedeu desta forma para que o género seja integrado tanto pelas suas redes de pesquisa nas quais evoluíam numerosos universitários, como nos outros lugares de produção da investigação académica. Estas acções foram realizadas de acordo com o compromisso do Conselho em produzir um saber não somente ancorado nas realidades do continente africano mas que contribua igualmente para a transformação progressiva dos modos de vida. Os resultados das experiências do Conselho e de outras instituições congéneres contribuíram para a multiplicação de estudos sobre os diversos aspectos das dinâmicas do género no desenvolvimento e para a expansão da comunidade universitária africana interessada na pesquisa sobre o género bem como para a conexão desta comunidade a nível sub-regional e pan-africana.
Apesar dos progressos realizados na promoção do género através da pesquisa em ciências sociais e dos projectos de transformação social, ainda há muito trabalho a fazer. São muitos os desafios e estes giram essencialmente em torno do reforço das inúmeras críticas que têm surgido a partir de diferentes perspectivas de género, em matéria de desenvolvimento. Introduzir a dimensão género na análise do desenvolvimento africano exige uma atenção sustentada em relação aos instrumentos analíticos do investigador e em relação à crítica relativamente ao conceito de desenvolvimento, o que implica questionar igualmente as bases sobre as quais repousa o processo de desenvolvimento africano, bem como os pré-requisitos avançados em termos de novas abordagens e teorias políticas. Por conseguinte, torna-se necessário que haja uma mudança total dos paradigmas, o que implica por sua vez proceder a novas pesquisas.
De acordo com os autores, foram identificados diferentes pontos de vista sobre os projectos de desenvolvimento de África, mas o importante é realmente constatar que um projecto de desenvolvimento, qualquer que seja a sua natureza, não pode ter êxito sem uma total integração do género na sua definição. Ora, apesar das declarações oficiais feitas pelos governos sobre a promoção dos direitos das mulheres e da igualdade entre os homens e as mulheres, é precisamente sobre este ponto que os silêncios têm sido mais reticentes. O início dos processos contemporâneos de globalização criou inicialmente um optimismo geral que prometia novas oportunidades para o alargamento das fronteiras dos direitos das mulheres; contudo, passados vários anos, este optimismo resfriou-se tanto devido aos elementos bloqueadores gerados pela mundialização como devido à distribuição desigual das oportunidades que lhe é associada. Existem nomeadamente limitações severas impostas à expansão da cidadania social pela ancoragem neoliberal da ideologia e pelas políticas ligadas à mundialização contemporânea.
O mundo do desporto como campo de jogo global, não foi poupado por estas tendências que se faziam sentir no xadrez mundial. Embora o desporto apresente uma oportunidade de participação, local e global no processo de desenvolvimento tanto para os homens como para as mulheres, tal participação não deixa de colocar os seus próprios problemas, o que deve conduzir-nos a olhar com as lentes do género, os processos gémeos do jogo e o desenvolvimento, bem como a sua aplicabilidade e o seu lugar no contexto africano. O desporto é um domínio onde as divisões de género são gritantes, diferenciando os homens e as mulheres, os rapazes e as raparigas, de uma maneira largamente aceite em numerosas sociedades. São organizadas inúmeras actividades desportivas não somente de acordo com modalidades duplas mas com padrões de competitividade aplicados de acordo com o sexo, sendo os padrões femininos frequentemente inferiores como é o caso do salto em altura e o salto em comprimento. Com o tempo e com a comercialização do desporto à escala mundial, esta diferenciação traduziu-se numa hierarquização do valor financeiro do desporto no qual o desporto feminino pesa menos sobre a balança financeira. A remuneração no desporto tem tendência a ser menor para as mulheres enquanto que os homens são mais bem pagos. Do mesmo modo, os desportos masculinos beneficiam de mais atenção e, consequentemente, de maior reputação e valor nacional/continental que os desportos femininos. Devido a todas estas diferenças, o desporto apresenta um interesse para qualquer projecto de desenvolvimento democrático que toma em consideração o género. A maior parte das actividades desportivas oferece, com efeito, oportunidades de participação inclusiva sem prejuízo de sexo, de classe, de raça, de educação e outras considerações na base das quais poderia operar-se uma marginalização.
Alias, nos últimos anos, inúmeras actividades desportivas contribuíram, de várias maneiras, para o desenvolvimento de indivíduos, comunidades, países, e mais globalmente do continente africano. Em África, a nível político, o desporto tornou possível a expressão e a renovação de uma identidade continental africana, particularmente na perspectiva do próximo Campeonato do Mundo de futebol a ter lugar em 2010. Apresentado como um acontecimento continental, foi descrito como “a viagem da esperança para a África” rumo à libertação do continente da guerra, da tirania, das divisões, da fome e da recusa da dignidade humana. O acontecimento de 2010 é importante não só porque o futebol é um desporto popular em África e se tornou parte integrante da paisagem cultural africana, mas igualmente porque beneficia da maior audiência a nível mundial, o que é economicamente muito lucrativo. Por conseguinte, permitimo-nos colocar a questão de saber em que medida o futebol e os outros desportos apresentam verdadeiras oportunidades para um projecto de desenvolvimento africano que tem em conta o género?
Muitas pesquisas sobre o desporto centraram-se sobre a sua dimensão financeira local/mundial, a sua importância política e sobre a sua dimensão em termos de espectáculo. A pesquisa nesta matéria oferece igualmente possibilidades interessantes de exploração das dinâmicas complexas do género na evolução e no desenvolvimento das sociedades porque o desporto é frequentemente praticado para além dos limites dos terrenos de jogos. O desporto, como numerosos aspectos do jogo é um elemento de cultura com um papel significativo nos processos de socialização entre os géneros. Como instituição, o desporto pode ser analisado e compreendido em termos de participação social e de desenvolvimento democrático, que permite reflectir sobre as questões críticas de governança, em relação à participação feminina/masculina e das recompensas que vão para além do material, assim como na expressão de identidade do género, quer seja masculina ou feminina tal como praticado por um ou outro ou por ambos os sexos. Dar uma dimensão histórica à pesquisa sobre o desporto oferece possibilidades interessantes em relação à adaptação sociocultural do desporto às dinâmicas do género nas sociedades africanas, à exploração dos modelos culturais, com o passar dos anos, e às possibilidades de estabelecer perspectivas nas relações que podem existir entre os jogos de crianças e os desportos de adultos e as suas ramificações para uma participação cidadã nos processos de desenvolvimento.
Os participantes no simpósio 2009 do CODESRIA sobre o género são convidados a ter em conta as diferentes dimensões da problemática do género e o domínio com múltiplas facetas que é o desporto, nomeadamente o atletismo, o cricket, o jogo praticado pelas crianças africanas como os desportos de bola e balões, com o objectivo de reflectir sobre as possibilidades e as barreiras que surgiram ao lado dos obstáculos existentes que persistiram tanto na procura como no processo que conduz a um projecto de desenvolvimento africano que inclua a dimensão género. Entre outras coisas, o simpósio irá avaliar:
I) As teorias sobre o jogo e o desenvolvimento, numa perspectiva género, incluindo as formas de jogos entre crianças e adultos;
II) O género, o desporto e as teorias do espaço em termos de desenvolvimento;
III) As práticas desportivas tradicionais e modernas - e as interfaces entre elas - estudadas numa perspectiva de género;
IV) O género, o desporto e as questões de audiência e de participação;
V) Os modos e modelos de refracção da diferenciação entre os géneros na gestão e na participação nos desportos locais/globais;
VI) O impacto dos processos mundiais nas lutas locais tendo em consideração o género no
desporto;
VII) O papel da sociedade civil local/mundial na mobilização de um desenvolvimento que tem em conta o género através do desporto;
VIII) Desportos, género e trabalho;
IX) As dialécticas de identidades múltiplas e de cidadania na prática do desporto a nível mundial;
X) Desporto, género e violência;
XI) Os aspectos género do desporto considerados espectáculo;
XII) O desporto e a articulação de identidades tendo em conta o género, nomeadamente a nível nacional, cultural, subcultural e as articulações literárias;
XIII) As novas formas de mercado desportivo internacional e as suas implicações a nível do género;
XIV) Novas formas de comércio transnacional de desportistas e desportistas potenciais e as implicações do seu desenvolvimento numa perspectiva género;
XV) O desporto como actividade económica mundial e as suas implicações para o mundo em desenvolvimento em termos de género;
XVI) Desporto, meios de comunicação social e género no desenvolvimento de África;
XVII) Reconsiderar o género e o desenvolvimento na era da mundialização do desporto: Alternativas abertas às mulheres e os homens na procura de igualdade entre os géneros.
O simpósio terá lugar de 23 a 25 de Novembro de 2009 no Cairo (Egipto). A participação será através de convite feito pelo CODESRIA aos universitários que trabalham neste domínio. Convidam-se os interessados a enviarem um resumo da sua contribuição o mais tardar até 31 de Agosto de 2009. Se a sua contribuição for aceite, a mesma deve ser entregue ou enviada ao CODESRIA o mais tardar até 30 de Setembro de 2009 para avaliação antes de uma confirmação da selecção definitiva feita pelo CODESRIA.
Para mais informações sobre o simpósio sobre o género 2009 ou para participar, contacte o programa através do seguinte endereço:
Symposium sur le genre 2009,
CODESRIA, BP 3304, CP 18524 Dakar, Sénégal.
Tel: +221 – 33 825 9822/23
Fax:+221- 33 824 1289
E-mail: gender.symposium@codesria.sn
Site Web: http://www.codesria.org
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