Friday, 5 June 2009

COMUNICADO DOS BISPOS CATÓLICOS DE MOÇAMBIQUE


ÀS
COMUNIDADES CRISTÃS,
AOS NOSSOS COLABORADORES DIRECTOS,
A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE,


Saudação

1. Que o Senhor ressuscitado, vencedor das forças do mal, vos dê a Sua paz e seja a razão da nossa esperança. É assim que vos saudamos, queridos irmãos, a partir deste lugar habitual dos nossos encontros, o Seminário de Santo Agostinho, na Matola, onde nos reunimos, nos dias 20 a 29 do mês de Abril do ano de 2009.

Participantes e ambiente nas Dioceses

2. Para aqui convergimos das nossas Dioceses, terminadas as celebrações pascais, para aqui partilharmos a alegria das celebrações da Semana Santa, muito concorridas, ordeiras e espiritualmente muito vividas. Viemos para, juntos, em oração e reflexão, partilhar a realidade da nossa Igreja e do nosso País.

Para este encontro, vieram todos os Bispos, excepto Sua Excelência Reverendíssima D. Bernardo Filipe Governo, Bispo emérito de Quelimane que, devido ao seu estado de saúde, não pode deslocar-se até Maputo. Por ele, a nossa oração e votos de rápidas melhoras.

Novo Núncio Apostólico

3. O nosso encontro teve a particularidade da presença do novo Núncio Apostólico em Moçambique, Sua Excelência Reverendíssima D. António Arcari, acontecendo, assim, o seu primeiro encontro connosco. Sua Excelência Reverendíssima é de nacionalidade italiana e antes de Moçambique era Núncio Apostólico nas Honduras.

É para nós motivo de alegria e de estímulo receber este dom, na pessoa do Senhor Núncio Apostólico, que torna visível a pessoa do Santo Padre no meio de nós e é expressão da universalidade da Igreja.

Novo Bispo de Lichinga

4. Outra particularidade do nosso encontro foi a participação, pela primeira vez, do novo Bispo de Lichinga, Sua Excelência Reverendíssima D. Élio Greselin, que é membro da Congregação do Sagrado Coração de Jesus. Ele é natural de Vicenza, Itália e chegou em Moçambique, como missionário, em 1966. Trabalhou nas Dioceses de Quelimane e Guruè, onde esteve até à sua eleição. A sua ordenação episcopal teve lugar em Lichinga, no dia 22 de Março de 2009.

Sua Excelência Reverendíssima D. Élio é o quarto Bispo de Lichinga, sucedendo a Sua Excelência Reverendíssima D. Hilário da Cruz Massingue, por este ter sido transferido para a Diocese de Quelimane.

Ao novo Pastor de Lichinga, saudamos fraternalmente e auguramos-lhe um ministério sereno e fecundo.

Abertura da Assembleia

5. O primeiro acto da abertura da Assembleia foi a Celebração Eucarística, presidida por Sua Excelência

6. À Celebração Eucarística, seguiu-se a abertura da Assembleia propriamente dita, com o discurso de boas –vindas aos participantes, pelo Presidente da Conferência Episcopal, D. Tomé Makhwéliha.

Na sua intervenção, o Senhor D. Tomé evocou os acontecimentos eclesiais mais salientes, ocorridos desde a última Assembleia, em Novembro do ano findo. Nesta linha, ele saudou o novo Bispo de Lichinga, desejando-lhe boas-vindas no seio do episcopado moçambicano e agradeceu a Deus pelo dom de um irmão.

D. Tomé referiu-se ao facto de o Senhor D. Paulo Mandlate ter renunciado ao governo da Diocese de Tete, por ter atingido o limite de idade. Saudou o bispo emérito pelo seu abnegado trabalho de pastor e disse-lhe que a Conferência Episcopal conta com os bons serviços que ele ainda pode prestar à Igreja de Moçambique. D. Paulo dirigiu a Diocese de Tete durante 33 anos.

D. Tomé saudou também o Reverendo Padre Tiago Palagi, missionário comboniano, pela sua nomeação como Administrador Apostólico da Diocese de Tete, enquanto se espera pela nomeação de um novo Bispo para aquela Diocese. Padre Tiago é de nacionalidade italiana, missionário de longa data em Moçambique. No momento da sua nomeação, ele era mestre de Postulantes da sua Congregação. Ao Senhor Padre Tiago desejamos um fecundo e tranquilo ministério pastoral.



Na sua evocação do passado, o Senhor D. Tomé referiu-se à mudança do Núncio Apostólico em Moçambique: saída de Sua Excelência Senhor D. George Panikulam e chegada de D. António Arcari, novo Núncio, agradecendo o trabalho do primeiro, dando Boas-vindas ao segundo e desejando-lhe votos de um bom trabalho.

No seu discurso, o Senhor D. Tomé referiu-se à recente visita do Santo padre a África: Camarões e Angola, como sendo uma bênção e estímulo para os africanos, na sua árdua luta por uma vida digna e por um ambiente de paz e harmonia.

Por fim, o Senhor D. Tomé, convidou-nos a ter os olhos postos nas próximas eleições, que terão lugar no nosso País, no próximo dia 28 de Outubro do ano em curso, instando-nos a prepararmo-nos através da oração, para viver esses momentos importantes do nosso país.

Intervenção do Senhor Núncio Apostólico

7. Naquilo que constituiu a sua primeira intervenção, Sua Excelência Reverendíssima D. António Arcari, Núncio Apostólico em Moçambique, como recém-chegado, limitou-se a saudar a Conferência dos Bispos e expressou a sua disposição de trabalhar num espírito de comunhão e abertura. Terminou a sua breve intervenção tocando alguns aspectos práticos relacionados com o funcionamento da Conferência, tal como das nossas Dioceses, sobretudo no que concerne ao capítulo da comunicação. Seguiu-se um breve diálogo sobre os aspectos por ele tocados.



Ecos da Visita do Santo Padre a África

8. Durante a sua primeira visita a África: Camarões e Angola, o Santo Padre deixou-nos uma rica mensagem. Segundo as suas próprias palavras, ele veio para “confirmar os seus irmãos e minhas irmãs na fé”. Ele veio rezar connosco e por nós, para que tenhamos força e coragem de afrontar os desafios que temos pela frente, no nosso continente. Por isso disse: “Filhos e filhas de África, não tenhais medo de crer, de esperar, de amar, de dizer que Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Durante a sua visita, o Santo Padre realizou um gesto simbólico de grande significado para nós: a entrega do “Instrumentum Laboris”, texto que orientará os trabalhos da última fase da II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para África, fase essa que decorrerá em Roma, no próximo mês de Outubro.

II Sínodo Africano

9. Como sabemos, está em curso a preparação da II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para África, cujo tema é “A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz” vós sois o sal da terra… vós sois a luz do mundo”. (Mt. 5, 13. 14).

Na sua recente visita ao nosso Continente, o Santo Padre trouxe e entregou-nos o “Instrumentum Laboris”, que é o texto base, fruto das nossas contribuições no trabalho, que vai orientar os trabalhos da fase final do Sínodo.
Nesta recta final, devemos continuar a trabalhar, ajudando os nossos delegados a prepararem-se para essa última fase, que terá lugar em Roma, no mês de Outubro do ano em curso. A delegação da CEM ficou assim constituída:

Bispos: D. Lúcio Andrice Muandula, Presidente da CEM
D. Ernesto Maguengue – delegado
D. Paulo Mandlate – delegado
D. Adriano Langa – delegado

Leigos: Senhor Ermelindo Monteiro
Senhora Dr. Filomena Elias.

O nosso trabalho e contribuição devem continuar, sobretudo, sob a forma de oração fervorosa e permanente, individual e colectiva.

Congresso sobre a Família

10. Estamos recebendo o material de lançamento para o Congresso Nacional sobre a Família. Isto significa que as Províncias Eclesiásticas, Dioceses, Paróquias, Comunidades e grupos eclesiais e apostólicos, são chamados ao trabalho de reflexão, apoiados no texto que agora é distribuído, trabalho esse que deve orientar-se pelo calendário de actividades elaborado pela CEM.

Olhando para a situação da Família, na nossa sociedade e não só, uma situação de crise e de perplexidade, as motivações deste Congresso são evidentes: estamos à procura de linhas de orientação e colunas de apoio para a própria Família.

A importância está em que a Família deve ver, realmente, igreja doméstica, fonte de valores humanos e cristãos, fonte e difusora da vida, testemunha viva do Evangelho.
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Os acontecimentos de Monginqual e Angoche

11. O povo moçambicano ficou chocado e abalado com as tragédias ocorridas entre os reclusos das cadeias de Monginqual e Angoche. Os dois casos mereceram comentários, debates e repúdios dos diferentes sectores da sociedade moçambicana e internacional. De facto, nunca será de mais condenar coisas deste género, pois, com tais factos, estamos perante violações dos mais elementares direitos da pessoa humana. Sejam quais forem as razões de uma detenção, o detido não perde a sua dignidade de pessoa e o seu direito à vida. A detenção não visa a eliminação física do detido mas, sim, a sua recuperação, através de métodos correccionais humanos e pedagógicos. A violência de qualquer género cria revolta em quem a sofre e criam uma situação de círculo vicioso, na medida em que, na primeira oportunidade, o detido violentado procura vingar-se da violência sofrida na prisão. De resto, expressamos o nosso não à pena de morte e, sobretudo, à pena de morte não declarada.


A nossa solidariedade

12. Por este meio, aproximamo-nos das famílias atingidas de luto resultante daquelas duas situações. Queremos fazer nossa a dor e a sua solidão. Imploramos a bênção e a consolação, da parte de Deus, fundada na esperança de uma vida sem fim, no outro mundo. Que o Senhor conceda às famílhas enlutadas o dom de perdoar e da reconciliação.

Apelo às autoridades

Tendo em conta que as mortes de Monginqual e Angoche ocorreram em instituições sob a responsabilidade do Estado, apelamos, a quem de direito, para uma maior responsabilidade, e que se revejam as condições das prisões em todo o País, pois, receamos que os casos ali acontecidos sejam denúncia de tantas outras situações graves que se vivem nas instituições prisionais pelo País fora.

As eleições que se avizinham

13. A pensar nos próximos actos eleitorais, queremos encorajar o povo, para que tome a peito o seu direito e o seu dever de votar. A participação activa nos pleitos eleitorais é o primeiro gesto a favor do bem social que cada um de nós deseja.

Não ao ódio e à intolerância

14. Infelizmente, apesar da educação cívica levada a cabo antes e durante os pleitos eleitorais, não se tem conseguido evitar os actos de violência, que têm resultado em dor, sofrimento e mortes inúteis. Tudo isto é consequência do ódio e da intolerância, frutos de extremismos políticos, que conduzem as pessoas a uma situação de total agitação. Procuremos construir o bem, tendo em vista uma sociedade a construção duma sociedade pacífica, fundada na civilização do amor.


Por eleições livres, justas e transparentes

15. Estas palavras, repetidas em toda parte e em cada pleito eleitoral, devem deixar de ser um slogan, devem deixar de ser um cântico velho e vazio. Cabe a cada um de nós dar-lhes um sentido sempre novo e um conteúdo concreto, em cada situação eleitoral.

Para isso, cada um de nós deve por de parte e longe de si a manipulação, a mentira, o ódio, a intolerância e o extremismo, de que já nos referimos.

Apelamos, portanto, a todas as forças vivas e, de modo particular, aos Partidos políticos, para que cada um procure alcançar a vitória com honestidade e sem recorrer à violência.

Fazemos lembrar e recomendamos à leitura da nossa carta pastoral do ano passado, publicada aquando das eleições autárquicas, pois, ainda ela é válida e actual.

Recepção na Presidência da República

16. A convite de Sua Excelência Senhor Presidente da República, os Bispos de Moçambique foram recebidos no Palácio da Ponta Vermelha, para uma recepção que se encerra no quadro da auscultação da sociedade civil, que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, tem levado a cabo, junto das forças vivas da sociedade moçambicana.

Foram abordados vários assuntos de interesse nacional e do interesse da Igreja.


Missa pelo Papa

17. Para assinalar o IV Aniversário da Eleição do actual Papa, Bento XVI, celebrou-se, no passado dia 26 de Abril, uma Missa de Acção de Graças e pelas intenções do Santo Padre, na Sé Catedral de Maputo. Nela, tomaram parte todos os Bispos da Conferência, considerável números de sacerdotes, religiosas e religiosos, alguns Ministros do Governo Moçambicano, Sua Excelência o Senhor ex-Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano, vários Embaixadores acreditados em Moçambique, algumas autoridades civis e um grande número de fiéis. Presidiu à solene Concelebração Eucarística Sua Excelência Reverendíssima o Senhor D. Tomé Makhwéliha, Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique.

Eleições internas

18. Cumprido o estabelecido nos Estatutos da Conferência Episcopal de Moçambique, durante os trabalhos desta primeira sessão anual da assembleia plenária, procedeu-se à eleição do Conselho Permanente da CEM e dos Presidentes das Comissões episcopais, para o triénio que agora começa.

Conselho Permanente

1. Presidente - D. Lúcio Andrice Muandula
2. Vice-Presidente – D. Francisco Chimoio
3. Secretário – D. Ernesto Maguengue
4. 1º Vogal – D. Adriano Langa
5. 2º Vogal – D. Jaime Pedro Gonçalves


Presidentes das Comissões Episcopais

Cáritas Moçambicana – D. Hilário da Cruz Massinga
CEMIRDE – D. Adriano Langa
Clero – D. Ernesto Maguengue
Cultura – D. Francisco João Silota
Diálogo Inter-religioso – D. Germano Grachane
Doutrina e Fé – D. Ernesto Maguengue
Ecumenismo – D. Élio Greselin
Educação Católica – D. Jaime Pedro Gonçalves
Evangelização – D. Germano Grachane
Família – D. Alexandre J. Maria dos Santos
Juventude – D. Francisco Chimoio
Justiça e Paz – D. Paulo Mandlate
Leigos – D. Tomé Makhweliha
Liturgia – D. Hilário da Cruz Massinga
Comunicação Social – D- Januário M. Nhangumbe
Missões – D. Germano Grachane
Pastoral Bíblica – D. Lúcio Andrice Muandula
Religiosos – D. Tomé Makhweliha
Saúde – D. Francisco João Silota
Seminários e Vocações – D. Jaime Pedro Gonçalves
Universidade Católica – D. Lúcio Andrice Muandula

Conclusão

“Eu venci o mundo”

19. Diante daquilo que alguma vez nos fez mal e nos causou sofrimento; diante do mal imaginário; diante dum horizonte não claro, quando devemos transpor montanhas, atravessar vales e rios caudalosos; o medo e o pessimismo andam à nossa volta, prontos para paralisar-nos. Assim aconteceu com os primeiros discípulos de Jesus, quando Ele lhes revelou a

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aproximação de momentos críticos e de grande provação. Aí precisamos de alguém para encorajar-nos. Hoje, como ontem, Jesus nos infunde coragem aos seus discípulos, perante os desafios de vária ordem. O Senhor Ressuscitado nos convida à serenidade: “Neste mundo experimentareis aflição, mas tende confiança, eu venci o mundo”. (Jo. 16, 33).

Esta é a palavra que, em nome de Jesus, vencedor da morte (o maior mal) queremos repetir para vós e para cada um, de modo particular aos nossos fiéis, para que sejam “mestres” da esperança, perante as muitas dificuldades que cada um enfrenta na sua vida particular e familiar e perante os desafios que a nossa sociedade nos apresenta. Exortamos aos adolescentes, aos jovens, aos adultos, aos militantes e líderes políticos, aos trabalhadores, aos empresários, a todos, a viverem a esperança e a contribuírem, positivamente, para que a mesma se transforme numa feliz realidade.

Que Maria, mulher de fé e de esperança, vos acompanhe a todos! Estendemos a nossa mão de pastores, num gesto de Bênção Apostólica, e invocamos sobre vós a abundância das graças do Senhor ressuscitado.

Maputo, 29 de Abril de 2009

P’ela Conferência Episcopal



+ Tomé Makhwéliha
Arcebispo de Nampula e
Presidente da CEM



Secretariado Geral da Conferência Episcopal
de Moçambique
Av. Paulo Samuel Kankhomba, 188-1º
C. Postal 286 Tel. 258.21. 49 07 66
Fax. 258.21. 49 07 66
M A P U T O – M O Ç A M B I Q U E

COMUNICADO DOS BISPOS CATÓLICOS DE MOÇAMBIQUE



ÀS

COMUNIDADES CRISTÃS,

AOS NOSSOS COLABORADORES DIRECTOS
A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE




Maputo, 29 de Abril de 2009

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