''O Brasil, nestes últimos 45 dias, teve mais artigos escritos favoráveis ao Brasil no mundo inteiro, do que nos últimos 100 anos'', avaliou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso de improviso para os novos diplomatas, no Palácio do Itamaraty. No Dia do Diplomata, Lula preveniu contra a arrogância, mas destacou que não foi fácil ''a gente derrotar a idéia da Área de Livre Comércio, a Alca, que os Estados Unidos queriam impor ao Brasil'' e fez um saboroso relato de como nasceu o G20.
Lula no Itamaraty: ''Não foi fácil''
A fala presidencial foi precedida pelas do chanceler Celso Amorim e do secretário-geral das Relações Exteriores (segundo cargo do Itamaraty),Samuel Pinheiro Guimarães. O ambiente é de certa exultação com os êxitos recentes na imagem internacional do país: ''Lula é 'o cara' e o Brasil é 'o país'''', brincou Amorim.
Diplomacia sim, ingerência não
O presidente falou de temas caros à corporação – como quando defendeu os diplomatas de carreira e criticou a prática de ''colocar um político derrotado no lugar do embaixador'' – lição que diz ter aprendido ''do primeiro para o segundo mandato''. Prometeu também ''muito mais trabalho'' para a diplomacia brasileira, aproveitando para alfinetar as ingerências dos EUA
''Eu não tenho dúvida nenhuma de que quem vier, a partir de 2010, com a dinâmica da política internacional brasileira, as pessoas saberão que é preciso contratar mais gente. Não precisamos chegar aos 14 mil dos Estados Unidos, até porque nós não queremos ter tanta ingerência, nós queremos apenas fazer diplomacia'' , ironizou.
Lula colocou como tarefa dos novos diplomatas ''consolidar o que nós começamos a fazer'' e destacou algumas conquistas: ''Não pensem que foi fácil recuperar o Mercosul, não pensem que foi fácil a gente derrotar a idéia da Área de Livre Comércio, a Alca, que os Estados Unidos queriam impor ao Brasil na década de 90. Não pensem que foi fácil construir a Unasul'', comentou.
Chamamento à humildade
O presidente, como a platéia, está visivelmente orgulhoso da imagem internacional do Brasil, especialmente por seu papel na reunião do G20 (grupo grandes de países desenvolvidos e em desenvolvimento, criado sob o impacto da crise global), no mês passado em Londres. Fez porém um chamamento contra a arrogância.
''Quanto mais o Brasil tiver importância no cenário político mundial, mais humildade vocês precisam ter. A arrogância estará falida na diplomacia de um país como o Brasil, até porque não faz parte da nossa índole, não faz parte das características do povo brasileiro a arrogância - se bem que temos – nós também não somos imunes'', comentou.
Lula citou o ex-líder soviético Mihail Gorbachev como exemplo de que não se pode ''trabalhar com a ilusão dos elogios'', concluindo: ''Quando você começa a acreditar muito nisso e para de olhar o teu chão, você começa a fazer política a partir dos elogios e esquece a realidade. Aí é o caminho do fracasso.''
Do G8 ao G13, o G14 e o G20
''Sem nenhuma arrogância'', Lula narrou sob o seu ponto de vista o nascimento do G20:
''Eu fui a Berlim no ano retrasado. Quando nós tivemos uma reunião do G5 (China, Índia, Brasil, [México] e África do Sul) nós aprovamos um documento. Chegamos em Berlim, nós fomos para a mesa e eu fui o orador do G5. Entreguei o documento para a Angela Merkel e ela concordou com o meu documento: 'Não, o G8 aceita o seu documento'. Eu disse: 'Minha querida, o teu documento é antagônico ao meu, como é que você aceita o meu assim? Vocês estão dizendo uma coisa e nós estamos dizendo outra.
Aí eu comuniquei que eu não iria mais ao G8. É um cafezinho muito caro. Pegar um avião daqui para Berlim para fazer aquela reunião que a gente fazia... Sempre é importante, porque você sempre conversa com alguém. Mas o dado importante é que eu disse que não ia mais, comuniquei ao Celso que não ia mais, que não dava para fazer umauma viagem de 12 horas para chegar lá, ficar 10 minutos em uma reunião em que eles já tinham decidido tudo, já tinham elaborado tudo. Eles podem continuar fazendo a reunião deles, mas eu não sou obrigado a ir.
Bem, a partir desse momento - tínhamos combinado isso com a Índia, que também disse que não iria mais; com a China, que também disse que não iria mais - a partir daí, o G8 começou a mudar, e já começou a se fazer o discurso de que não tinha mais nenhuma razão de ter G8, era preciso ter G13 ou G14. De vez em quando eles arrumam um país a mais para colocar, e como nós somos como coração de mãe, quanto mais arrumar, mais a gente aceita, vai colocando... Nós não temos preconceito de entrarem mais países. O G8 já não é mais G8, o G13 não é mais G13, o G14 não é mais G14. O dado concreto, depois da reunião de Londres, do G20, é que o que ficou configurado de articulação política mundial que pode decidir, em momentos de crise, é exatamente o G20. Vejam que nós demos um passo extremamente importante.' '
O patrimônio da simpatia
Lula defendeu também que ''a compreensão de que a cabeça pensa onde os nossos pés pisam não pode valer para a diplomacia brasileira. A nossa cabeça tem que ser mais ampla, mais arejada, e saber que poucos países do mundo têm a inserção que nós poderemos ter, pela simpatia que tem.''
Na visão do presidente, este patrimônio, que inclui o futebol e o samba, ''é uma vantagem comparativa do Brasil''. Ele deve se unir à competência do Instituto Rio Branco, ''que é um centro de excelência, não apenas de competência profissional mas, sobretudo, de responsabilidade em defesa da soberania do nosso país''.
Da redação, com Presidência da República
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