Será que estamos dispostos a mudar?
- Algumas reflexões sobre a igualdade entre mulheres e homens
Tendo tido o privilégio de participar nos processos de desenvolvimento de vários países por esse mundo fora – Suécia, Afeganistão, Guiné-Bissau, Laos, Sri Lanka, Tanzânia e, agora, Moçambique, – comecei, cada vez mais, a sentir-me parte duma comunidade global à qual todos pertencemos. Acho que há certas questões fundamentais que são pertença de todos ou, talvez devesse dizer, com as quais nos devemos todos comprometer e que, chegados a elas, não há pura e simplesmente nós e eles mas antes nós como indivíduos e nós como comunidade. A meu ver, a questão singular mais importante para toda a humanidade é colocarmo-nos a questão de “quem queremos ser?” Nós, como comunidade global, respondemos claramente a esta questão. Através da declaração Universal dos Direitos Humanos, que quase todos os países do mundo subscreveram, – afirmámos a uma só voz que queremos uma sociedade que respeite os direitos humanos e os princípios da igualdade.
Durante o curso da minha vida, aprendi também que tudo muda – desde o momento em que entrámos neste mundo como indivíduos, até ao dia em que o deixamos – a mudança acontece a cada minuto, ou mesmo segundo que passa. O desenvolvimento trata de mudança, o crescimento implica mudança, a educação, a política, a ciência, seja lá qual for o domínio que indicarmos, têm tudo a ver com mudança. E, como disse o famoso artista e poeta afro-americano Gil Scott-Heron “Já que a mudança é inevitável, nós deveríamos ter as rédeas sobre ela ao invés de nos deixarmos simplesmente arrastar ”.
Ao conduzirmos a mudança rumo a uma sociedade baseada na igualdade, devíamos estar conscientes de que todas as nossas acções, actividades e formas de expressão fazem parte do processo.
Bem, eu não pretendo ser um feminista, pós modernista, liberal, radical, capitalista, comunista ou qualquer outra forma de ismo mas, se partilhar a crença de que as mulheres devem ter iguais direitos políticos, sociais, legais, intelectuais e económicos aos dos homens (na Suécia, Moçambique, ou qualquer outro país) for feminismo, então, eu sou-o certamente. Seja acerca da convicção de que as raparigas devem ter as mesmas oportunidades que os rapazes de completarem a educação secundária e de terem oportunidades iguais e ambições iguais de perseguirem os seus destinos; seja acerca da crença de que as mulheres devem ter direitos absolutos sobre os seus próprios corpos, quer dentro, quer fora da instituição casamento; seja sobre o pensar-se na necessidade de aumentar os esforços para reduzir a taxa de mortalidade materna em Moçambique (entre as mais altas do mundo); seja na convicção de que a feminização do HIV e SIDA tem a ver com relações de poder desiguais entre homens e mulheres e achar que está errado que 50% das mulheres moçambicanas devam enfrentar, ao longo das suas vidas, violências físicas e sexuais; então, sim, sou um feminista. Se o apoio aos que directamente conduzem a mudança na perseguição da igualdade entre os géneros, faz de mim um feminista, então eu sou-o orgulhosamente!
A violência contra as mulheres não é nada que seja só específico de Moçambique, existe em todo o lado. Estima-se que um terço de todas as raparigas e mulheres enfrentem violações ou violência física de qualquer espécie pelo menos uma vez no decurso das suas vidas e, em Moçambique, esse dado é ainda mais elevado. De acordo com um estudo da OMS, datado de 2002, 90 a 95% dos actos violentos são levados a cabo por homens! Durante as últimas semanas, veio a público um certo número de casos em que homens bateram em mulheres que afirmavam amar. Eu acompanhei o debate que se seguiu com algum interesse. Será que há casos em que se justifica a agressão à parceira? Poderá algo feito ou alguma coisa dita por si ser motivo suficiente para que o seu parceiro se arrogue o direito de abusar física ou psicologicamente de si? Para mim, está mais que claro que a resposta é um claro e redundante não. Nunca é legítimo e, mais uma vez, trata-se do tipo de sociedade que queremos.
Como afirmei anteriormente, a desigualdade nas relações de poder entre mulheres e homens pode ser evidenciada em muitas e diferentes áreas e algumas das mudanças necessárias para uma sociedade mais igual são de natureza estrutural e exigem recursos e acções a muitos níveis. Há, contudo, coisas que nós, como indivíduos singulares, podemos fazer, em Moçambique, na Suécia, ou em qualquer outro país. Coisas que não exigem recursos, nenhuma espécie de organização sofisticada ou peritos altamente formados. Deixem-me dar-lhes um exemplo do que poderia ser feito no contexto da família ou dos amigos:
Nunca aceitem a violência contra mulheres ou crianças, seja dentro ou fora do lar. Não é um assunto de natureza privada e nunca é correcto. Sabemos que, em famílias onde a violência é uma forma de resolver conflitos, as crianças irão crescer na convicção de que essa é a forma correcta de tratar das questões. Há também a ideia errada de que a promoção dos direitos iguais entre homens e mulheres, é um assunto de mulher. Errado! É um assunto de todos. Na realidade, deveria sê-lo ainda mais de homens. Os homens, em grande medida, detêm o poder politico e económico e, consequentemente, o poder de mudar as coisas. É, portanto, importante que nós, os homens, comecemos a ver os nossos próprios papéis na manutenção de estruturas desiguais e na forma de as podermos mudar.
Na semana em que se comemora o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, sob o lema geral “Homens e mulheres juntos contra a violência doméstica”, gostaria, como o fiz no ano passado, de expressar o meu apoio aos movimentos por direitos e oportunidades iguais no seio das mulheres e dos homens. A aprovação da Lei Contra a Violência Doméstica seria um importante sinal dado pela sociedade de que a violência não pode ser tolerada, mesmo quando ela ocorra entre marido e esposa.
Para mim, trata-se de que tipo de sociedade queremos para nela viver e da compreensão que todos, como indivíduos e comunidades, através das nossas acções, pontos de vista e actividades, desempenhamos um papel na formulação dessa sociedade – essa mesma em que queremos viver.
Torvald Åkesson Embaixador da Suécia
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1 hour ago
1 comment:
Os paises mais desenvolvidos do mundo sao aqueles nos quais as mulheres mais foram espezinhadas na historia da humanidade. Nao existe relacao alguma entre desenvolvimento e igualdade de homens e mulheres. Nao a violencia, sim mas sem exageros de motivos. Mocambique precisa de uma Lei contra a violencia e nao so contra a violencia contra as mulheres, ou sera que os que nao sao mulheres devem ser violentados.
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