Paulina Chiziane voa com “As Andorinhas”
A ESCRITORA Paulina Chiziane lança hoje em Maputo o seu mais recente livro, “As Andorinhas”, uma trilogia de três contos em que evoca o percurso de Ngungunhane, Eduardo Mondlane e Lurdes Mutola, relevando o seu papel inspirador para a actual e futuras gerações dos moçambicanos. A obra, chancelada pela Índico, é a sexta desta autora, que é a mulher moçambicana que mais livros publicou.
Paulina Chiziane casou algumas lendas e a história de vida destas três personalidades para “ajudar a compreender o Moçambique de hoje, em parte por influência do que aconteceu no passado”.
Paulina Chiziane escreveu os contos que agora publica em “As Andorinhas” há vários meses, depois de reler um dos livros que ela considera “um dos mais marcantes” da literatura moçambicana: “Chitlango, o Filho do Chefe”, de Eduardo Mondlane. Também inspirou-se em lendas à volta da figura do último rei do Estado de Gaza, contadas no seio dos chopes, etnia de que faz parte.
“É conhecida a aversão que Ngungunhane tinha aos chopes. Pertenço a este grupo e fui ouvindo no meu meio muitas histórias à volta dele. O seu poderio era por todos conhecido e respeitado. Conta-se que uma certa vez ele ordenou silêncio e umas pequenas criaturas, as andorinhas, perturbaram, do cimo de uma árvore, o seu descanso. Uma delas defecou lá de cima para a cabeça do rei. Na fúria que lhe era característico, o imperador chamou os seus homens e ordenou-os que caçassem todas as andorinhas. E o resultado dessa determinação é que eles saíram à caça das andorinhas, porque o rei as queria vivas junto de si para as castigar e pelo caminho acabaram por confrontar-se com os portugueses. O fim é o que todos já sabemos: o império chegou ao fim, o imperador foi preso e o seu poder acabou, por causa de uma andorinha”, explicou, em recente entrevista ao “Notícias”, esta escritora que se considera “contadora de histórias”.
O conto inspirado na vida e postura de Ngungunhane, ironicamente intitulado “Quem Manda Aqui?”, precede àquela que parece ser a estória central do novo livro de Paulina Chiziane. Eduardo Mondlane é para esta escritora um herói cuja importância ultrapassa os limites da luta pela autodeterminação dos moçambicanos. “Eduardo Mondlane carrega em si uma postura que devia servir de inspiração para todos nós, porque a sua importância ultrapassa também o que os nossos manuais de História dizem. Os moçambicanos devem olhar para ele e para aqueles que o educaram. A mim impressiona muito a sua simplicidade, que infelizmente não é característica de muitos de nós”, conta a escritora.
“Mondlane é uma pessoa poderosa, mas simples, ensinadora e cativante. Para além disso, as pessoas que o rodearam, nomeadamente as duas mulheres que o educaram (mãe viúva e avó) também são de grande mérito, porque, pobres, fizeram de uma criança também pobre um grande homem. Um homem que inspirou um povo num momento particular da nossa caminhada, mas em quem todos se deviam inspirar nos dias que correm. As mulheres que o educaram também são pessoas em quem nós devíamos olhar para educarmos os nossos filhos”.
O conto em Paulina Chiziane viaja em torno de Mondlane intitula-se “Maundlane, o Criador” e prenuncia um outro, “Mutola, a Ungida”, sobre aquela que os moçambicanos têm como a menina de ouro. “Ela é muito mais do que uma mulher dourada. A história dela faz lembrar a de Eduardo Mondlane, é uma história de luta, de humildade, de contágio, que faz um povo jubilar. É assim que eu a vejo”.
Ao publicar este conjunto de textos Paulina Chiziane pretende-nos chamar para aquilo a que ela chama “uma necessidade urgente” no nosso país: “há muito que nós não produzimos personalidades fortes, do tamanho e envergadura de um Eduardo Mondlane, por exemplo. Sinceramente, a única que nós produzimos foi precisamente a Lurdes. Onde mais, para além da geração da luta de libertação nacional irão os nossos jovens e crianças buscar inspiração?”.
Maputo, Quinta-Feira, 29 de Janeiro de 2009. In Notícias
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