EDITORIAL
Conformismo e ruptura
Tarefa muito espinhosa espera o Presidente da República numa das suas derradeiras missões durante o ano prestes a findar.
Perante os tribunos do povo, os do seu partido e os da oposição, os que reflectem, mal ou bem, a democracia representativa que temos, Guebuza apresenta o Estado da Nação.
Como sempre, a ele e aos seus estrategos, competem as estratégias a seguir numa comunicação que pretende ser alicerçante em termos de percurso, objectivos e visão de futuro.
Como no passado recente, pode carimbar um discurso de vitórias e fantasias com o rótulo bom para consumo, como aqueles funcionários ridículos que nos cartórios notariais distribuem carimbos em todas as direcções, sem sequer perceberam muito bem o que estão a fazer e para que serve aquele ritual herdado.
É complicado trilhar caminhos velhos num ano em que começou com um erro político tremendo chamado 5 de Fevereiro e está à beira de terminar, com a palhaçada da terceira fuga do mecânico mais mediático do país.
E, neste domínio, reside um dos cismas ainda não resolvidos depois da independência. O desenvolvimento de um aparato de defesa, segurança, lei e ordem, que assegure objectivos de soberania e seja confiado pelos cidadãos desta república.
Samora Machel, claramente um cabo militar, claudicou ao tentar fazer a transição da força de guerrilha para um exército moderno e com a mobilidade táctica capaz de responder aos desafios que foram sendo colocados pelos adversários ao modelo de independência escolhido. Samora morreu, quando dramaticamente procurava encontrar um modelo e uma estrutura militar que respondesse às debilidades há muito diagnosticadas.
O Acordo de Roma, em 1992, anestesiou essas incapacidades, reduziu drasticamente a visibilidade e importância das Forças Armadas, para transformar a polícia numa força paramilitar e garante da Lei e Ordem. A herança da guerrilha, a herança do passado, permaneceu e permanece na polícia. A vontade e visão de modernidade que possa ter um engenheiro agrónomo inteligente, está provado, não são suficientes para desenvolver um corpo de Lei e Ordem em que os cidadãos se revejam. A sabotagem e obstaculização é mais que evidente.
As forças da Lei e Ordem são uma prioridade e uma das expectativas que foi rapidamente transferida para o Presidente da República, que é também o timoneiro político do país, a cabeça do executivo e o comandante das forças militares e militarizadas.
As lideranças políticas fazem-se de alianças e conjunturas. A liderança tem de decidir se este é o momento próprio para politicamente confrontar as alas gangterizadas e corrompidas que, através do sector da Lei e Ordem vêm manifestando abertamente, com sangue e tiros, que estão contra a transformação, contra um país melhor, moderno e desenvolvido. A liderança tem de decidir o espaço de conciliação e acomodação com os sectores que, não sendo claramente a face do crime e do imobilismo, são claramente aliados destes porque, psicologicamente, continuam a sentir que não foram suficientemente compensados pela independência.
Sem a resolução deste problema de fundo, temos pela frente a RDC e a Tailândia, fazer com sucesso a economia do possível procurando gerir os tumores e as gangrenas. As várias guerrilhas congolesas não impedem o funcionamento da florescente indústria mineira do Catanga. As enormes desigualdades sociais tailandesas não impedem o país de ser uma das Mecas do turismo internacional e ter uma das mais altas taxas de rentabilidade da produção orizícola. Mas os vulcões estão lá.
É esta reflexão que se espera ver aflorada pela liderança do país. Como responder estrategicamente aos desafios que se nos colocam sem decalcarmos as matrizes herdadas do colono — serviços, turismo e exportação de matérias-primas — sem abraçarmos emocionalmente os modismos das fontes alternativas de energia, ou, alavancarmos verdadeiramente o desenvolvimento na energia que sabemos que temos.
A crise, que começou por ser financeira e é agora uma crise económica profunda, exige da liderança, visão e diagnósticos desapaixonados que nos permitam traçar as nossas próprias estratégias a partir da constatação de que continuamos a ser ainda apenas periferia.
Finalmente, os moçambicanos têm expectativas em encontrar alguma sanidade mental nos caminhos para onde caminha a educação da juventude. É desastroso e prenunciador de catástrofe continuarem-se a abrir verdadeiros aviários de diplomas, sem qualidade e que está a formar o maior exército de desempregados descontentes para as próximas décadas, potencialmente com um efeito muito mais devastador que o pequeno ensaio que foi o 5 de Fevereiro.
É duro e difícil ser-se presidente de um país que se está a erguer praticamente do zero.
Mas é da liderança que se tem a expectativa de mudança, da gestão ordeira e harmoniosa dos conflitos, do desenvolvimento da auto-estima, da promoção da competência, da premiação do mérito e do avanço para a modernidade.
Da liderança espera-se que o poder não seja compartilhado por um bando de malfeitores e corruptos.
Para que o poder não caia na rua.
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