Natal/ Dia da família em Moçambique
É extremamente difícil sintetizar sentimentos profundamente avassaladores, de alguém que viveu vinte e cinco anos fora da sua Terra, mas que agora vai passar as
Festas em casa!
A última vez que comemorara o dia da família (Natal) em Moçambique fora no longínquo ano de 1982. Era então um jovem de vinte e três anitos acabadinhos de fazer.
No ano seguinte o Natal fora passado num lugar muito frio, com temperaturas a rondar os 0 a 5 graus, no meio de pessoas desconhecidas (mais tarde esses desconhecidos tornarse-iam a sua família). Depois foram mais vinte e quatro Natais com temperaturas baixíssimas, nalguns casos no norte da Europa com o termómetro a marcar 3 ou 5 graus negativos.
Hoje 24 de Dezembro de 2008 em Vilanculo, o outrora jovem vive uma época festiva num ambiente muito quente. A azáfama é grande e os excessos de toda a natureza
abundam. Compram-se quantidades ilimitadas de refrescos, cervejas, caravelas (aguardente), vinhos “martelados” e há filas enormíssimas nas caixas ATM (Multibanco) que totalizam três em toda a Vila. No mercado local vendem-se
frutas, batatas, repolho, tomate, cenoura e outros legumes, muito raros e caros porque os solos nesta região são muito pobres, logo impróprios para a agricultura. Os transeuntes atropelam-se constantemente e limitam a circulação dos
carros. Há música barulhenta a ecoar de quase todos os cantos das barracas onde se vendem desde produtos de primeira necessidade a roupas, whisky, calçados, loiças, panelas, copos, pratos, materiais de construção, pão, velas, redes mosqueteiras, etc.
O calor abrasador com temperaturas a rondar os 35 graus centígrados é insuportável! Mas nada desencoraja essas pessoas de andarem à procura, freneticamente, de produtos
para as suas festas em família.
Este outrora jovem, alherara-se totalmente das compras para a festa, e compenetrara-se no seu projecto de 19 ha situado 10 km a Sul da Vila. De visita ao campo,
constatara que era absolutamente indispensável acelerar a sementeira de mapira e amendoim. Transmitiu essa preocupação aos trabalhadores e esses num golpe de magia acederam a comparecer ao trabalho no dia seguinte, precisamente 25 de Dezembro, dia da família. Ao encarregado, ordenara para convocar mais cinco elementos, pois havia que aproveitar a bendita chuva que já não caía há quase dez meses por essas bandas. O solo arenoso, paupérrimo para a prática agrícola, estava agora propícia para receber sementes, mas somente de certas espécies.
Ao princípio da tarde reunira-se com o Sr. Dark (um zimbabweano radicado em Moçambique que instala furos de água) para acertar a abertura de um poço para o
sistema de rega do projecto hortofrutifloricultor. Depois foi andar para cima e para baixo, em apoia à mudança de casa da Sra. Bárbara, uma cidadã de nacionalidade Suiça que vive em Moçambique há quase de vinte anos, e tem dedicado a sua vida a ajudar crianças carenciadas. O dia terminou cerca das vinte e uma horas, com um banho refrescante e noite de consoada em casa do Senhor Basílio e dona Mariana.
Este casal representa o que de melhor há em Vilanculo na arte de bem receber as pessoas de todas classes e posições sociais ou políticas. A filha Zefa, é uma mulher muito inteligente, atenta aos fenómenos de toda a natureza que ocorrem em Vilanculo e não só. É uma acelerada intelectualmente.
O jantar servido ao ar livre começou às vinte e duas horas e prolongou-se até uma e tal da manhã com muita conversa boa e agradável pelo meio.
No dia seguinte, quando eram cinco horas da man-hã já lá estavam 14 homens a trabalhar na sementeira. Fantástico!
Gritara para si mesmo vitória, pois um consultor de renome havia-o prevenido de aquelas gentes não gostavam de trabalhar e eram uns alcoólicos inveterados.
Ao meio dia em ponto, lá se deslocou ao campo para passar a refeição do dia da família com os trabalhadores. Eles eram a sua família, por isso declinara
outros convites na Vila.
O almoço foi maravilhoso, simples mas carregado de simbolismo e de sentido de gratidão. Notava no rosto de cada um dos trabalhadores. Espontaneamente eles bateram
palmas para saudar a iniciativa.
Este outrora jovem passa vida a ousar e provocar, sem intenção, todos os pseudo-intelectuais que se arrogam ao direito de tirar conclusões sobre a vida e percursos alheios, como se de magos da “ciência de adivinhação” se tratassem, ou donos legítimos da nacionalidade e territorialidade exclusiva, de uma Terra que também viu nascer outros também nacionais, cujo pecado original foi o de abandonarem
o seu País, por não aceitarem rumos em que não se reviam nem queriam.
A originalidade está no Povo. Esse mesmo Povo, por quem os melhores filhos desta Terra deram a vida, para lhes devolver a dignidade espezinhada. Hoje o seu destino
é um caminho errante porque ninguém quer mais importar-se com a sua vida deplorável. O Povo de que muitos se servem, tem uma grande tradição de obediência, por isso, tarda a hora da revolta! Esse mesmo Povo que respondia no passado “obrigado patrão” quando eram chicoteados, hoje diz “obrigado patrões” por não se importarem com o nosso destino!
Esse Povo, tem a virtude de contrariar teorias estereotipadas que o rotulam de preguiçoso e alcoólico. Tudo depende da forma como se lida e se quer estar com ele, até num dia da família.
Australian senator censured for heckling King
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Lidia Thorpe has been rebuked by the Senate for yelling "not my King"
during a protest last month.
1 hour ago
1 comment:
"um consultor de renome havia-o prevenido de aquelas gentes não gostavam de trabalhar e eram uns alcoólicos inveterados."
Adorei o ponto de vista de Gracio Abdula e o que transcrevi é o centro. Tenho tentado levantar o problema do rotulado aos pobres empregados de preguicosos, alcoólicos, ladrões, etc, etc. quando na verdade esses adjectivos são convenientes aos ditos patrões, isto é, os falsos empreendedores.
Ora temos empreendedores que o são porque tiveram a sorte de receber o dinheiro dos defundos BPD e BCM a mahala. Não sendo investimentos com responsabilidade de pagar de volta, não há preocupacão em rendimentos; temos os que tiram pessoalmente e sem autorizacão, dos cofres do Estado e fingem que são empreendedores; também temos os que mesmo investindo a partir dos seus salários, mas que não tendo nocão de empreenderismo pensam apenas no título de patrão, são mais consumistas.
O denominador comum entre estes falsos empreendedores é que põem as mãos nos bolsos ou arranjam capatazes para mandarem nos pobres empregados. O maior tempo passam nos lazeres. E, o que devem fazer os empregados?...Há piores escândalos dos nossos patrões e só chega acompanhando o video do McRoger para ver o que um patrão mocambicano é e espera-se que seja.
Gracio Abdula é dos empreendedores que conheco nos países nórdicos, incluindo Holanda. Pelo que conta no início desta crónica, ele deve ter aprendido muito por lá onde passou. Dono duma empresa sempre está lá na empresa. É o primeiro a chegar e o último a sair. Raramente tem fins de semana ou dias feriados nem férias...
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