SÓ O QUE ACONTECEU - Caravana no rio Zambeze
ESTOU a bordo do “Marcopolo” da Caravana "CD em Movimento” É uma excursão que homenageia a cidade de Pemba. A terceira maior baía do mundo, que celebrou as suas bodas. Banhadas em ouro. A viagem é de regresso. Pemba/Maputo. 2.500 km de estrada.
Seguimos viagem ao rio Zambeze. Para tráz ficara Nicoadala. A meta daquela manhã era alcançar Chimuara. Uma das margens do rio Zambeze. Lado da Zambézia.
Estamos a aproximar ao rio. Todos andamos ansiosos. Vamos escalar o lugar onde se ergue a maior ponte de Moçambique. A dado momento, reparo que todos temos os pescoços içados como girafas. Mas de repente, à esquerda, um painel tira-nos do sério: “Rio Zambeze. Perigo. Cuidado com crocodilos”. Eh pá! Crocodilos? Que susto! Eu pelo menos, nunca tinha visto um letreiro do género. Era inovador. Conheço o tradicional “Cuidado com o cão”, ou “Aqui vende-se carapau” ( e sempre me questiono, mas porque o adverbio aqui? Faria sentido que alguém publicitasse carapau vendido na casa do vizinho ao lado?)
Ao lermos aquela placa sobre crocodilos, franzimos as testas e coçamos as cabeças. Não queríamos acabar num banquete daqueles bichos com dentes de zagaia!
A partir daquele anúncio a pulsação do coração acelerou. Pairou no ar um misto de medo e curiosidade (eu pelo menos gostaria de vê-los ao vivo...mas bem de longe...para não me transformarem num naco apetitoso, dentro daquelas bocarras!).
Chegamos. O sol de Chimuara sorri dando-nos as boas-vindas. São cerca das nove horas.
Como sempre, antes de desembarcarmos do “bus” ao volante de Mustafa Salimo, o “comandante da caravana”, o engenheiro Abdul Satar Náfio, deu o seu habitual “briefing”. Falou do tempo de permanência. Informou-nos que aguardava-nos doutro lado da margem, Caia, uma comitiva chefiada pelo administrador local, José Cuela António.
E foi quando esperávamos do batelão para atravessar, que eu “descobri” o lugar em transformação. O rio Zambeze, estava em mudanças. Erguia-se com todo o seu esplendor e vigor a mediática ponte de unidade nacional.
Eu que conhecia aquele lugar há anos parecia encontrar-me num outro ponto. Fico “louco” com a imponência das obras. Olho fixadamente. Não me mexo. Estou pasmado. E reparo que tal como eu, outros “caravanistas” também têm o queixo caído. E desatam em comentários. De especulação: porque na verdade ninguém entendia patavina sobre construção, tirando o Eng. Satar Náfio. Ouvi múltiplos comentários da jornalista Rosa Langa, Cremilde, Teodósio, Pedro, Bachir José, do biólogo Avelino (homem calmo e metódico), Ambrósio, Abdul Armando e Leonor. Partilhei ainda o raciocínio sempre lógico e coerente de Bernardino Rafael, (um oficial da PRM em Gaza. Bernardino é, para mim, exemplo de um agente que vai para além de um Chui. Ele é símbolo de policia moderno: culto. Um “kota” sempre bem-humorado.). Também fazia analises sobre a mega-ponte o Valério (coreógrafo) e Bonga ( não confundir com o cantor angolano).
Fico emocionado ao conferir aquilo que muitas vezes só lia em jornais e TVs. Desta vez, estou de forma presencial. Observo ao natural e a cores as imagens da obra.
Mas desta obra, tudo o que me chama a atenção são os pilares que emergem do caudaloso rio de crocodilos. São pilares de “venha ver”! Gigantescos como de obras babilónicas.
Os meus olhos ajoelham-se e prostram-se, rendendo-se às maravilhas do homem operário. Os pilares erguem-se como anjos aos céus. Ou como cogumelos gigantes.
Os meus olhos se ocupam a olhar somente aquela obra espantosa. Não consigo desviar o meu olhar para observar as barracas de espetadas, os vendedores ambulantes, as incontáveis bicicletas, os vendedores de galinhas “cafreal”, as catorzinhas que são “petiscos” dos camionistas. A tudo isto não ligo! Mando passear! Quero apenas contemplar aqueles pilares que me sorriem a partir das entranhas fundas do rio.
E sem perder tempo, (como se aqueles objectos fixos fugissem) puxei da minha câmara “Canon” digital e lá meti-me numa sessão fotográfica. E era “só foto”. “Só foto”. A preocupação de registar aqui e agora, aquilo que instantes depois passaria ao passado.
É indiscritível a sensação de cada “click”. A cada “click” soa-me nos ouvidos como badalo de uma sinagoga. A cada “kathla”, meu cérebro recebe uma informação que chega ao sistema nervoso central com aquela sensação de quem conquista um troféu!
Naquela hora, atrevo-me a vestir a capa e a encarnar os grandes mestres da fotografia nacional, um Naita Ussene, Sérgio Santimano, Funcho, Amadeu Marengula, Kok Nam, Alfredo Mueche, José Cabral, Rui Assubuji, Celeste Mac-Arthur
(da Beira). Até me inspiro e “quero ser”, quiçá o próprio Ricardo Rangel o “Doutor Honoris Causa” em História Visual! É verdade! Juro!
Entretanto, a sessão fotográfica é interrompida com a chegada do batelão. Os excursionistas do “CD em Movimento” embarcam. O batelão desliza docemente sobre as águas “crocodilosas” do rio. Durante a travessia, os pilares no meio do caudal apresentam um belo espectáculo. Parece que também se deslocam. Mas é o efeito de ilusão óptica.
Já em Caia, ouvimos atentamente o administrador António que nos descreveu o ritmo satisfatório do empreendimento. Mostrou-se um homem agradável e de fácil trato.
Ora, foi entretanto deste lado – Caia – que notei que esta obra era erguida por homens corajosos. Quase insubstituíveis. Operários apaixonados no que realizavam. Não se importavam com o sol “de Tete” que lhes batia em cheio! Estes operários são hoje autores anónimos que estão a assinar páginas importantes do nosso tempo. É das suas mãos que a nossa história económica também poderá estar a ser redesenhada.
Cada aconteceria sem eles! Eles estão a transformar Chimuara e Caia numa obra de arte.
E por causa de tudo isto que eu, na condição de cidadão anónimo, encontro motivos de sobra para propor aos construtores e o Governo para no final dos trabalhos erguerem uma lápide. Onde nela ficariam gravados os nomes de todos os que participaram nesta obra de orgulho nacional. Uma lista nominal, um a um: engenheiros, mestres, pedreiros, etc.
Contudo, o fim último é de valorizar o trabalho de equipa. O sentido seria o de honrar o operário anónimo. Que contribuiu à sua maneira na edificação da ponte. Será importante que não viremos as costas ao passado. Não façamos tábua rasa ao passado e nem nos divorciemos do tempo e dos homens anónimos que também escrevem a nossa história.
E sobre esta minha ousada proposta acerca da lápide, estou já a ouvir o ministro Felício Zacarias, no seu estilo característico, “Whá! Mas isto não basta só querer e prontos! As coisas não se fazem assim kwangwanha kwangwanha! E também não é qualquer um que entende vir propor sua ideia para ser implementada. Aqui há regras. Iwé! Whá!”.
A minha proposta pode ser patética do ponto de vista técnico. Mas eu só dei a minha ideia. Só e só! Mais nada!
Albino Moisés - moisesalbino@yahoo.com.br
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