Sunday 30 November 2008

A OPINIAO DE PEDRO NACUO

EXTRAS - Obama: uma nova bebida?
FAZIA muito tempo que não nos encontrávamos no JAMALITO, uma histórica barraca que diz muito a cada um que vive ou que já viveu em Pemba. Faz parte do currículo de uma boa gente que nos está a ler neste momento, porque há muito que sabe acolher os seus clientes. Nós outros começámos a frequentá-la quando a exuberante e frondosa árvore que se impôs no meio do recinto, agora autêntico restaurante, era uma plantazinha e urgia a sua defesa para que não fosse esmagada pelos pés de gente bem animada. Então púnhamos uma cadeira em cima dela para defendê-la.

Pertença de gente “sem problemas”, há-de ser por isso que ninguém se divorcia totalmente do JAMALITO, havendo muita boa gente que já não põe lá os pés, simplesmente porque subiu na vida, na cadeira e agora fica-lhe mal ir revisitar a nossa barraca. Mesmo assim, em conversas telefónicas ou por via de mensagens nos pergunta como está o nosso sítio e, às vezes, mandamos MMS para ilustrar como agora está, esta que ainda se chama barraca apenas para satisfazer o facto de que se situa no recinto do Desportivo, conhecido como local onde se localizam as mais famosas barracas de Pemba, agora subalternizadas pelas sazonais do Conselho Municipal, junto à praça 25 de Setembro, criadas por ocasião dos 50 anos da cidade.
Desta vez foi porque o Professor Tiago, abramos um parênteses para dizer que se trata dum professor que tem essa qualidade como o seu verdadeiro nome, é professor Tiago para cada um, até parece ser o único na terra onde vivemos, fez acostumar as pessoas que ele é professor e que gosta de o ser. Muitos não conhecem o seu nome completo e outros nunca o viram a dar aulas, mas todos chamam-no professor Tiago. E o é, de profissão que já leva perto de 30 anos!
Foi ele que nos juntou para um bate-papo, no JAMALITO, na ressaca das eleições autárquicas, que nos haviam divorciado momentaneamente dos nossos amigos habituais. Uns porque se tinham deslocado a outros pontos da província em trabalho ligado às mesmas, seja como profissionais, seja, provavelmente, como indivíduos que estiveram no cerne da propalada burla eleitoral, indo votar onde nem vivem, outros ainda porque passaram a viver no lugar onde não se recensearam, etc., etc.
Sobre eleições ficou o facto de o Grupo Mecula ter decidido, em Pemba, não fazer as suas habituais carreiras, no dia 19 de Novembro. A ideia era permitir que os seus funcionários votassem e ao fazê-lo acabou prestando um mau serviço. É que muitos cidadãos vivendo agora em Pemba deveriam votar em Mueda, Mocímboa da Praia, Nacala-Porto ou na cidade de Nampula. Outros destas autarquias achavam que naquele mesmo dia poderiam ir à Pemba ou a cada um destes municípios a tempo de votarem. Não conseguiram. Não foram. Não havia transporte. Matéria para estudo nos próximos pleitos, sobre como, na verdade, fazer em relação às tripulações dos meios colectivos de transporte…
Eleições, por assim dizer, era o tema, que ia ficando cada vez mais convidativo à medida que se procuravam as causas de muita coisa que aconteceu: civismo, participação, pesada derrota ou robusta vitória, aparente roubalheira, pobreza e muita outra coisa que nos conduziu ao actualmente incontornável assunto, Daviz Simango, na sua qualidade de “fenómeno político dos últimos 30 anos”, segundo o sociólogo Carlos Serra, e nos arrastámos para um nome ainda mais inevitável da actualidade, Barack Obama.
Na vizinhança, um quadro sénior da Educação, conhecido pelos seus apetites alcoólicos, com médios conhecimentos sobre muita coisa, incluindo no que à sua profissão diz respeito, mas deficitário em informações sobre o dia-a-dia do mundo, queria um help da mesa do professor Tiago. Pediu que lhe ajudassem numa 2M, ou Laurentina preta, mas de preferência um Jet (combustível para aviões), para que ele levantasse o voo imediatamente. Quem não é novato nessas andanças, entendeu logo que o quadro da Educação queria um Zed, Tentação, Royal ou outra bebida espirituosa qualquer, daquelas quentes, muitas das quais fabricadas na Matola ou na cidade portuária de Nacala. Que ele não tinha tempo a perder, queria voar num instante. Em plena tarde da segunda-feira, desta semana que termina hoje.
Infelizmente não estava a ser atendido com a rapidez que achava lhe assistia como razão, a mesa do professor Tiago continuou a falar da ressaca das eleições, numa discussão mais aprofundada e de alguma forma académica. Já havia um moderador, por sinal um jurista, igualmente professor, de tal jeito que ninguém dava ouvidos ao outro quadro da Educação com a flexibilidade que pretendia.
Metidos nas suas comparações os convidados do professor Tiago, eis que, sem se saber de facto se a despropósito, pronuncia-se o nome do senhor que a partir do dia 20 de Janeiro é Presidente dos Estados Unidos da América, que os povos e nações pobres vêem-no como o salvador, pacificador, contra ideias de quem já disse que ele é americano, seja negro ou preto, é americano, comportar-se-á como o fazem os americanos. Que não haja falsas expectativas!
O nosso quadro então, que esperava apenas alguma bebida em satisfação ao seu pedido de socorro, com a sinceridade de quem espera pela ajuda, eis que pergunta se Obama era uma nova marca de bebida. Não foi fácil saber que ele não estava a brincar com a questão, que nunca tinha ouvido falar desse senhor e confessou que estava preparado para receber a nova bebida.
Que não estou a mentir sabem aqueles que tiveram a sorte de assistir a este exercício, na tarde da segunda-feira desta semana.
• PEDRO NACUO in Noticias

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