Friday 7 November 2008

A OPINIAO DE NOE NHANTUMBO

Miragem Democrática : Procedimentos práticos adiando a democracia em Moçambique...

Fala-se de que o objectivo é ver a democracia implantada e funcionando no país. Mas em termos práticos, os políticos pouco fazem para garantir que tal se transforme
em realidade vivida e sentida pelos cidadãos.
Multiplicam-se esforços para cimentar posições de poder e faz-se tudo para não possibilitar que a alternância no poder, um dos princípios básicos da democracia, aconteça.
Uma democracia que se resume a realização de eleições periódicas mas que não permite que os cidadãos usufruam de oportunidades de realização no domínio da economia
e de uma educação que signifiquem um empoderamento dos mesmos consubstancia uma política de aparências a que não se pode chamar de democracia.
Em Moçambique está havendo uma grande dificuldade de traduzir a aparente abertura política e pluralismo em alguma coisa tangível e de significado realmente novo
na vida das pessoas. Fica-se pelo verbo e raramente se vêem os políticos e seus partidos trabalhando no sentido de emprestar a substância necessária ao exercício da democracia.
A natureza e génese dos partidos políticos existentes estão quase sempre contra a emergência de um pensamento do tipo conducente a diálogos abertos e incondicionais
sobre os problemas do país e dos seus cidadãos.
Todas as manifestações políticas aparecem dominadas e apropriadas por uma elite pouco interessada em ver surgir uma democracia efectiva que faça sentido e contribua
para o desenvolvimento equilibrado do país. As agendas da elite são o enriquecimento próprio e exclusivo.
A intolerância se não é publicitada como política a seguir é o método posto em prática pelos adversários políticos.
No horizonte não se vislumbra vontade de agir no sentido de mudar o cenário porque alegadamente os poucos que possuem o poder perderiam suas posições cimeiras no
órgãos eleitorais, realização do censo eleitoral fazem-se segundo esquemas que não permitem que a alternância democrática no poder tenha hipóteses.
Os partidos políticos na maioria criações de seus líderes e sem abrangência nacional entram no jogo eleitoral para satisfazer egos e não com programas exequíveis. Não
existe preocupação de estudar nem de constituir alianças com possibilidades de vencer. Por troca de benefícios materiais e financeiros muita gente troca de camisola e apresenta-se disponível para fazer de encomenda política.
Nestas condições enfraquece-se o país e desviamse recursos essenciais para a realização de programas indispensáveis para as populações.
Numa situação de escassez de recursos montam-se campanhas e festivais de esbanjamento de fundos públicos em nome de uma agenda que se consubstancia pela manutenção no poder.
O atraso e desenvolvimento desigual que caracteriza o país é fruto de procedimentos concretos de uma elite distante dos problemas do país e pouco interessada em vêlos
resolvidos.
Urge repensar o que se quer com o país. É urgente que uma nova geração de políticos fazendo parte dos partidos políticos existentes se debruce sobre o que é o país e o
que se pretende que ele seja. Os moçambicanos não podem continuar condenados a uma governação medíocre, de mão estendida para os doadores internacionais quando existem
localmente recursos e potencialidades para fazer com que todos vivam com dignidade. A repetição de discursos corroídos pelo tempo e que nunca foram o sinónimo de um ataque concreto aos problemas do país tem de ser substituído por uma abordagem corajosa, historicamente necessária.
A força das alianças entre políticos engendradas durante o percurso histórico do país está minando os esforços em transformar Moçambique numa república viável capaz
de oferecer aos seus cidadãos condições de realização das suas necessidades.
Aquilo que de opções se tem oferecido aos moçambicanos tem sido continuamente um adiamento da democracia que faz falta ao país. Toda a embrulhada discursiva
que alimenta os órgãos de comunicação não passa de paliativos que se destinam a adormecer os cidadãos e a adiar a implantação de um sistema político em que os mesmos se vejam reflectidos como o centro da agenda. Não é segredo que a máquina eleitoral moçambicana não garante segurança de eleições justas, livres e transparentes.
Não é segredo para ninguém que a máquina da justiça está organizada para dificultar o acesso dos cidadãos a justiça. E quando as coisas estão montadas desta maneira é
simplesmente uma ilusão pretender que estamos vivendo em democracia.
Podem multiplicar-se os exercícios eleitorais mas enquanto não houver garantia de imparcialidade dos órgãos eleitorais as dificuldades no processo não serão eliminadas.
Moçambique tem de deixar de ser uma democracia de segunda ou de terceira.
Sem um crescimento dos políticos no que se refere ao seu papel e entendimento do que está em causa no país, continuaremos sofrendo de miragens democráticas sem jámais
viver em democracia.
A questão não é que não se estejam registando avanços ou progressos. Nãos e pode negar que alguma coisa está sendo feita mas também é verdade que os esforços tem
sido marginais e limitados. Sobressai quase sempre uma tentativa de catalogar tudo como normal e caminhando para a frente mesmo quando dificilmente se vislumbra alguma
coisa de concreto.
A elite parece mais preocupada em satisfazer a opinião dos seus parceiros internacionais e estes interessados que a situação permaneça imutável. As vantagens de uma cooperação que só beneficia sempre aos mesmos e nunca aos cidadãos no geral, está comprometendo o desenvolvimento nacional.
A independência política sem abordagem dos aspectos que a solidifiquem constitui uma barreira efectiva ao desenvolvimento político do país.
Tudo leva o seu tempo mas parece que os políticos que temos estão mais interessados em cimentar suas posições do que trabalhar para o empoderamento real dos seus
cidadãos.
Cabe aos moçambicanos acordarem e afirmarem-se no panorama político nacional. A democracia jamais será oferecida de bandeja.
Sem que os que sofrem pela falta de democracia política e económica se unam e lutem pela mudança nada acontecerá.
Se Barack Obama conseguiu fazer-se eleger na América também em Moçambique é possível uma alternância no poder. E isto não quer necessariamente dizer mudança do partido no poder como parece que muita gente tem medo ou receio.
Moçambique precisa de políticos visionários, com autoridade politica e politica para liderar um processo que leve a concretização das mudanças necessárias.
Tem de acabar o tempo de satisfação única dos interesses dos dirigentes.
É preciso acabar com as “lojas dos responsáveis” e transformar Moçambique num espaço democrático para os seus cidadãos.
O que é bom para os dirigentes também é necessário para os outros moçambicanos.

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