Monday, 3 November 2008

CRÓNICAS DE VIAGEM À TERRA DO TIO SAM* (1) : “Your flight has gone Sir!”

É CERTO traduzir “Your flight has gone Sir!”, pela frase “ Sr, o seu voo já embarcou”. Quase que perdia sentidos de tanta aflição quando recebi esta mensagem de um agente dos serviços da companhia norte-americana Delta, no Aeroporto Internacional Oliver R. Tambo, África do Sul.

Afinal de contas eu tinha ficado em terra com todas as consequências daí resultantes. Eram cerca das 17:30 minutos do dia 3 de Outubro. O voo em que eu devia seguir era Delta 35 e partiria as 18:40 minutos, tendo como destino final Atlanta, mas com uma escala em Dacar, Senegal.

Eu tinha chegado a Joanesburgo ido da cidade de Maputo, num voo da “South African Airways”. O meu destino era a cidade de Washington D.C., a considerada terra reservada ao Estado Federal dos Estados Unidos de América (EUA), federação que conta actualmente com 50 estados.

“Hoje é impossível viajar. Volte amanhã à tarde, pois teremos mais um voo. Todavia, vai ter de pagar uma multa de duzentos dólares pela mudança de voo. Tens de chegar aqui três horas antes do voo”, estas são palavras do agente de serviço da Delta. Toda minha insistência no sentido de me deixar seguir, visto que o avião ainda estava em terra, foi em vão.

O meu argumento era de que cheguei demasiado tarde a Joanesburgo e tinha de cumprir os formalismos da migração e buscar a bagagem que tinha sido despachada para o porrão. Não tinha culpa nisso. Porém, mesmo assim, o homem me mandou reclamar junto à “South African Airways”, a companhia que me transportara de Maputo a Joanesburgo.

Para o meu desagrado, o avião ainda estava ali, mas o agente disse que nada podia fazer, pois os demais passageiros estavam a observar a última fase de segurança. Naquele tipo de voo, à boca da porta do avião é montado um outro dispositivo de segurança humano para fazer uma última verificação aos passageiros. Uma prática menos frequente.

Bem, doeu mas tinha de me conformar. Aliás, a morte de uma andorinha não é o fim da Primavera, como diz um adágio popular. Larguei o balcão e decidi relaxar e tomar a ocasião para visitar familiares e amigos que estudam e trabalham na “terra do rand”. E, ao invés de lamentarem o sucedido, eles tomaram a oportunidade para festejar a minha presença. Eles tomaram como base o facto de, certa vez, eu ter lhes ligado do mesmo aeroporto dizendo que tinha perdido um voo. Na verdade, nesse dia depois viajei, apesar de ter tido um percurso turbulento.

Já na tarde de domingo, 4 de Outubro, retomei a minha viagem rumo à “Terra do Tio Sam”. Depois de mais de nove horas de voo, partindo de Joanesburgo, desembarcámos no aeroporto Leopold Senghor, Dacar. Passageiros como eu, que tinhamos EUA como destino final não precisaram de desembarcar. Cerca de uma hora depois continuamos com a viagem. Foram mais de oito horas de voo. E, quando desembarcámos no aeroporto Hartsfield Jackson, em Atlanta, Geórgia, o meu sentimento foi de receio, apesar de toda a preparação. Afinal de contas já estava nos “States” onde as medidas de segurança são das mais rigorosas do mundo, sobretudo depois dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.

Passei sem sobressaltos, tendo em conta a imagem que eu tinha desenhado no que tange à segurança. De Atlanta (onde no regresso fui obrigado a passar uma noite devido à um atraso havido no voo que me levava ido de Nova Iorque), partimos para meu destino final, Washington DC.

A viagem não durou duas horas. Pouco tempo depois lá estávamos. Na verdade, de Maputo a Washington leva-se quase 24 horas. Todavia, o que é penoso, quanto a mim é a diferença dos horários que aparentemente tornam os dias de viagem mais longos. O dia acaba tendo mais de 24 horas, o que certamente reflecte-se pelo esgotamento que experimentamos após a chegada. Nisso, se acresce a diferença do tempo que faz.

Entrámos em Washington pelo Aeroporto Ronald Reagan. Dez minutos depois de ter deixado o avião recolhi a minha bagagem. Reparei aos lados. Um ambiente calmo, com gente a conversar e a passar refeições. Nas telas televisivas o principal assunto são as eleições presidenciais.

Hesitante em sair, contactei uma agente de segurança para me informar se havia outros formalismos migratórios ou alfandegários por observar. Nisso a agente perguntou: “Este é o seu último destino?”. “Sim”, respondi. “Então não há mais nada. Pode ir embora”, orientou-me sem exigir de mim mais nada.

Apanhei um táxi que levou cerca de 15 minutos para o hotel. Sentado, contemplando aquele verde que faz de Washington uma cidade diferente em termos de manutenção do verde, eu ia tentando perceber a manifestação dos embaraços de segurança nos aeroportos de que tanto se fala. Estava eu em terras americanas.

Na próxima crónica falarei mais sobre como senti na pele aspectos ligados à segurança na chamada “Terra do Tio Sam”.
*Só para ter uma ideia -Tio Sam foi criado na guerra de 1812 por soldados americanos de Nova Iorque que recebiam barris de carne com as iniciais U.S. (de United States) que significa Estados Unidos. Os soldados teriam brincado dizendo que as iniciais significariam Uncle Sam (Tio Sam), uma referência ao dono da companhia fornecedora da carne, Samuel Wilson, de Troy. Depois de algum desenvolvimento histórico, os Estados Unidos de América passaram a ser chamados Terra do Tio Sam.

ARSÉNIO MANHICE

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