Tuesday, 4 November 2008

Barack Obama vai sorrir no dia 5 de Novembro?

As soltas de um apoiante

Por Raúl Chambote – 27 de Outubro de 2008

Quando restam apenas escassos dias para o mundo testemunhar uma das mais significativas mudanças na história da humanidade, ainda ficamos admirados com a impossibilidade do impossível. Quando ninguém imagiva que a “mão invisível” do mercado um dia haveria de se auto-regular ineficientemente e, visivelmente surrupiar do bolso dos contribuintes as parcas moedas, a fé da não possível mudança das coisas fez com que as chamadas forças do mercado fossem vistas como indicadores mais perfeitos a partir das quais as nossas vidas deveriam se conformar. Mas o quadro da crise financeira actual no mundo nos leva a reflectir e reavaliar como as decisões sobre modelos económicos permitem fortalecer o status económico, financeiro dum país. As actuas nacionalizações de instituições bancárias nos países desenvolvidos faz com que nos sintamos em desconforto sobre que passos seguir, quando os próprios proponentes da liberalização nos anos 80 já não acreditam nas forças do mercado para regular a economia. A que propósito serve esta longa introdução? Serve para comentar a mudança radical que vai ser testemunhada no dia 5 de Novembro 2008 em todo o mundo. Será desta vez que o sonho de Martin Luther King se realizará ou o grito de Bob Marley para o cumprimento do livro de profecia “to fulfil the book of profecy” se confirmará?

Quando Adolf Hitler não acreditava na capacidade de outras raças tornarem-se celebridades a realidade mostrou-lhe o contrário e, o extraordinário trabalho político realizado pelo candidato Democrata Barack Obama o afogaria de ciúmes de superioridade. Quando no início das pre-campanhas vimos a imagem da Hilary Clinton, vozes confirmavam que as presidenciais nos EUA estavam para McCain, Republicano e Hilary, Democrata. Tudo foi ao contrário. Há ainda factores desconhecidos nessa campanha, por exemplo, a chamada teoria do Bradley effect. Segundo Anne Applebaum, Bradley effect é uma teoria na gíria eleitoral americana que foi atribuída ao Tom Bradley, o mayor negro de Los Angeles que perdeu a campanha eleitoral para governador de California apesar de ter liderado as sondagens durante a campanha. Na essência a teoria diz que um certo número de eleitores brancos, aparentando ser progressistas, sempre dirão aos potenciais eleitores que tencionam votar num candidato negro, mas na prática não o fazem. Não importa agora o efeito Bradley, pois essa teoria nem ajuda a explicar porque o Tom Bradley perdeu as eleições. Mas também há outro factor inesperado, o chamado reverse-Bradley-effect, a noção adoptada depois dos eleitores brancos terem substimado o apoio que Barack Obama recebe dos negros. Outros factores inesperados apontam que os negros historicamente nos EUA aparecem em números bastante reduzidos nas mesas de voto. Essas eleições tem outro sentido para eles. Tudo indica que o voto deles será histórico. Para além do factor racial os jovens parecem ter aderido a chamada para a mudança, mas não se acredita muito no fervor dos jovens para assegurar a vitória do Obama.

De acordo com William Rees-Mogg, 24 de Outubro de 1929 é referido como o início da Grande Depressão que colocou o Wall Street nos Estados Unidos da America em pánico, e o ponto da sua recuperação relaciona-se com o 4 de Março de 1933, dia em que é proferido o discurso inaugural da presidência de Franklin Roosevelt. Na sua biografia, a qual é vista como uma das obras de referência dignas de leitura, Conrad Blacks observa que há somente dois discursos inaugurais de presidentes dos EUA que são bem conhecidos pelos Americanos: de John Kennedy em 1961 e o discurso de Abraham Lincoln que inaugura o seu segundo mandato aos 4 Março de 1865. As crianças são ensinadas nas escolas o grande juramento público de Lincoln, do qual faço tradução livre: “sem malícia para com ninguém; com caridade para todos, com firmeza no que é justo como Deus nos concede ver o que é justo”. Esse foi o compromisso de Lincoln para a reconciliação depois da Guerra Civil, mas o assassinato evitou que ele cumprisse a promessa.

Do pánico financeiro no Wall Street aos desconforto no Main Street nos EUA, os últimos dois meses da campanha presidencial nos EUA, trazem a imagem do profeta dos anos de 1930s. Me refiro ao discurso inaugural de Roosevelt que foi muitas vezes citado. Faço tradução livre aqui. “Esta grande nação prevalecerá sobre as vicissitues que vencera, vai reviver e prosperar. Antes de tudo deixem-me assegurar-vos a minha firme crença que a única coisa que podemos temer é o medo em si – sem nome, sem razão, terror injustificável que paralisam os esforços para converter o recuo em avanço”. É a chamada para mudança. As referências acima mostram que houve uma mudança na abordagem das coisas. Não são apenas os assuntos económicos, mas o debate da situação política no mundo e EUA em particular. Se isso é feito com ou sem rigor académico, isso é outro assunto, pois um olhar comparativo as similitudes de Barack Obama e Roosevelt, o profeta da esperança nos EUA, nos anos de 1930s, que fez frente ao Republican Herbert Hoover, oferecem um outro sabor analítico, da campanha McCain-Obama. Vamos às combinações Roosevelt-Barak?

Os candidatos Democratas Franklin Roosevelt em 1932 e Barack Obama em 2008. Nenhum desses homens teve qualificações académicas como economistas. Ambos são juristas e estudaram na Universidade de Havard. Em 1904, Roosevelt teve um ano extra na Universidade como editor do Crimson; Obama tornara-se editor da “The Havard Law Review”. Os dois homens foram ou são bons oradores, dom que os políticos necessitam para se comunicarem com abilidade e mover as emoções do público.

McCain tem pouca sorte pois tem de fazer campanha para o partido incumbente numa época de crise económica. No debate sobre o Plano de Paulson para mitigar a recente crise financeira os argumentos dos anos de 1930 resurgem no Congresso dos EUA. Os Republicanos, queriam, e de facto conseguiram avultadas somas para financiar os bancos em crise. Sua justificação assenta na defesa do sistema bancário, caso não fosse feita resultaria num choque económico e eventual colapso do sistema financeiro. Os Democratas queriam que o dinheiro fosse para as famílias da classe média com dificuldades financeiras, para os que se endividaram por causa de créditos de habitação e não aos bancos que providenciaram esses créditos. Nos anos de 1930, Roosevelt acreditava em conceder benefícios financeiros à classe média trabalhadora, mas Hoover, que tinha conhecimentos de economia, concedeu crédito aos bancos, embora as teorias económica não pudessem resolver o problema da crise. A acção enérgica do governo dos EUA nos anos de 1930s foi a denominada “Reconstruction Finance Corporation (RFC)”, que distribuira um montade de $10 biliões aos homens de negócios. Essa acção tem sido citada como tendo sido bem sucedida e fora atribuída, erróneamente, como parte do denominado New Deal de Roosevelt. Documentos referem que o RFC era da iniciativa de Hoover, ele insistira no princípio de que o RFC não deveria financiar indivíduos. Roosevelt, como governador de Nova Iorque, havia criado o Temporary Emergence Relief Administration em 1931, o qual provera alimentação, vestuário e em certas situações, empregos para pessoas.

Hoover foi culpado pela Depressão enquanto Roosevelt ganhava as eleições de 1932 com 472 votos contra 59, segundo o jornal The Times. McCain tem alguma vantagem sobre Hoover por não ser o candidado a sua própria sucessão. McCain tem criticado as políticas da administração Bush, todavia, McCain, como Hoover, é candidato do partido incumbente. Não há regras absolutas que determinem a derrota dum candidato do partido no poder só pelo facto de se estar numa crise. Não deixa de ser verdade que quanto maior for o pánico da crise económica piores serão as perspectivas de victória do partido no poder. Apesar da vitória, Roosevelt não conseguiu recuperação imediata da economia, mas o seu optimismo era contagiante ao ponto de logo após tomar posse gradualmente a confidencia na resolução da crise financeira começou a emergir. Os Democratas não tinham todas as respostas do problema, mas pareciam, ter poucas respostas erradas na condução de assuntos políticos e económicos comparativamente aos Republicanos de Hoover. Roosevelt acreditava no aumento da circulação da massa monetária no país que a sua redução ou contenção. Nos anos de 1930s Roosevelt era o profeta da esperança para os EUA, assim como o foi para o mundo livre nos anos de 1940s. Esta é outra vez a oportunidade dos Democratas. O mundo está a enfrentar uma outra crise financeira e perda da confiança ao systema financeiro, da qual a administração Republicana é geralmente culpada. Será que Barak Obama, se for eleito no dia 4 de Novembro 2008, vai restaurar a confiança como Franklin Roosevelt fez depois da sua victória retumbante em 1932?

raulchambote@hotmail.com

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