Friday, 24 October 2008

Em Moçambique




Acesso ao crédito financeiro é inexistente

- considera S. Devarajan, economista-chefe do Banco Mundial para Africa

Maputo (Canal de Moçambique) - O economista-chefe do Banco Mundial para a Região de África, o americano Shantayanan Devarajan, disse em exclusivo ao «Canal» não compreender como é que se diz que Moçambique tem estado a registar um crescimento económico em mais de 8 por cento, “uma vez que todos os índices de acesso ao crédito financeiro estão abaixo do desejado”, tendo considerado o facto de um “paradoxo incompreensível”.
Intervindo durante a abertura do Fórum de Serviços Financeiros ao Alcance de Moçambique que reúne desde ontem representantes do Governo moçambicano, sociedade civil, bancos, Banco Mundial, GTZ - Cooperação Alemã, Guine Bissau, Angola, São Tome e Príncipe e outros parceiros, aquele funcionário do Banco Mundial, considerou que no país, o empréstimo aos camponeses, bem como ao sector familiar de uma forma geral, sobretudo nas zonas rurais, é “quase inexistente”. Afirmou que “os poucos chamados «empresários de sucesso» nunca dão empréstimos nas zonas rurais”.

Pobreza absoluta na estaca zero

Na ocasião, Stefan Nalletamby, do Fórum dos Serviços Financeiros ao Alcance da África, disse também que em Moçambique, “os investimentos não estão a corresponder ao que seria de esperar, sobretudo nas áreas da agricultura, agro-turismo e habitação”. Na sua opinião, para a população ter acesso aos financiamentos, torna-se necessário uma expansão geográfica da banca, sem a qual entende que “não será possível”. De acordo com a fonte, “a falta de bancos nas zonas rurais tem igualmente contribuído para a além da retracção de investimentos, para a consequente manutenção ou aumento dos índices da pobreza absoluta”.
Para Nalletamby, outro constrangimento que impede o desenvolvimento e o acesso a financiamentos às camadas populacionais descapitalizadas, é a falta de articulação entre o Executivo, sector privado e parceiros.
“Se houvesse coordenação entre estes, penso que tal poderia flexibilizar os investimentos”, afirmou Nalletamby, para quem a falta de um quadro jurídico compreensivo para o sector privado, bem como a ausência de apoio às pesquisas e partilha de informação, são os outros grandes entreves ao desenvolvimento financeiro do pais.
Sabe-se, entretanto, que tal como acontece na maior parte dos países da África sub-sahariana, em Moçambique apenas um porcento (1%) do Produto Interno Bruto (PIB), é dedicado ao crédito à habitação.
Na Africa subsahariana apenas 20 por cento da população tem uma conta bancária, segundo deu a conhecer a senhora Ute Heinbuch, da Cooperação Alemã em Moçambique.
Entretanto, o ministro moçambicano das Finanças, Manuel Chang, que procedeu à abertura do evento que termina hoje, reconheceu que no país, apenas 15,7 % da população, tem acesso a créditos.
De acordo com Chang, dos 128 distritos que o país tem, 70 % continuam sem bancos, e a par disso a sua população está privada de acesso aos financiamentos para o exercício de qualquer actividade. Contudo, o ministro garantiu que o Executivo esta a envidar esforços, no sentido de incentivar a banca e outras instituições credoras a mais expandirem-se para os distritos do país.
Quem se mostrou céptico com esta afirmação de Manuel Chang, foi o economista Adriano Rafael Pascoal, Presidente do Conselho de Administração do Banco de Comercio e Industria de Angola, a ponto de questionar se bastava os Governos criar incentivos para a expansão das empresas de micro-finanças, ou seria necessário antes de mais prepará-las?

(Bernardo Álvaro)

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