Wednesday, 2 April 2008

A OPINIAO DE NOE NHANTUMBO

Do Canal de Mocambique de hoje retiramos um texto interessante de Noe Nhantumbo com o titulo 'Recordando a OMM e a OJM'

Organizações Democráticas de Massas ou antes Organizações das Datas Comemorativas?

Beira (Canal de Moçambique) - A tentativa de sobrevivência das forças políticas e da construção de uma base com fins eleitoralistas levou a que se concebessem determinadas estratégias. Uma delas terá sem dúvida sido a criação ou transformação de organizações antes plenamente alinhadas e vivendo dentro de determinado partido como se de organizações de massas se tratasse. Se houve um determinado momento em que se procurou abertamente fazer crer que o advento do multipartidarismo tinha transformado tais organizações e as feito saírem do seio dos seus criadores ou mentores, isso foi sol de pouca dura. Agora tudo está claro como água cristalina. Afinal as ODMs – "Organizações Democráticas de Massas" não passam de braços activos de partido, viveiros e centros de recrutamento de membros. É aí que se faz a doutrinação e às vezes pelo que parece, até uma lavagem cerebral. O pronunciamento de algumas pessoas provenientes de ditas organizações de massas, hoje militando no partido por força da idade, deixa ver que tais pessoas não conseguem pensar ou expressar-se fora do âmbito daquilo que a doutrina oficial do partido advoga. Quem ouve essas pessoas fica com a impressão de que afinal, a aprendizagem democrática que deveria estar acontecendo nas ODMs, o desenvolvimento de um espírito patriótico e de uma capacidade de análise politica que aumentassem a capacidade dos moçambicanos, discernirem quais são os seus reais interesses nos diferentes momentos históricos, não está acontecendo. As pessoas não conseguem expressar-se fora da "caixa" em que estão metidas, não têm pensamento próprio. As ODMs transformaram parte de uma geração em caixas de repetição de chavões ultrapassados pela história. Isso tem consequências nefastas para o País quando de entre essas pessoas saem ou são escolhidos dirigentes governamentais com o objectivo de implementarem agendas supostamente destinadas a contribuírem para vencer a pobreza, esse termo politicamente correcto descoberto milagrosamente nos últimos tempos. Se de tanto falar de um tema ele por si acontecesse isso seria na verdade o milagre que os moçambicanos necessitam. No passado histórico recente, existência de organizações democráticas de massas estava dentro de um contexto que correspondia aos tempos e ao momento. Agora pretender que a OJM, OMM, ou a Organização dos Continuadores de Moçambique fazem qualquer sentido nos termos em que estão concebidas e funcionam é ir contra os tempos e a essência de um regime democrático. Convenhamos que quando faltam instrumentos ou visão para discernir caminhos que permitam fazer sobreviver ou garantir a sobrevivência de um partido político opta-se pelo caminho mais fácil. Usa-se a Primeira-dama para sustentar a inactividade de uma OMM que só se vê por alturas das datas comemorativas. Aliena-se um Sindicato a fins ou objectivos de um patronato parasita que se nega a entender que capitalismo faz-se com trabalho de qualidade, regras, e um posicionamento organizacional que permita que cada um faça aquilo que é o seu mandato e não aceitar prostituir-se politicamente em nome de alegadas disciplinas partidárias. Procura-se com o uso de fundos governamentais alimentar a inércia de organizações que nada fazem em beneficio do país, procurando-se desse modo garantir a continuidade de modelos que a história se encarregou de chumbar e rejeitar. Nem na ex-URSS se vê algo assim acontecendo. O saudosismo não faz história. Essa constrói-se com trabalho, com a capacidade de permitir que os moçambicanos se afirmem, cada um no seu campo de actividade, com o seu esforço e capacidade. Vamos este mês comemorar o 7 de Abril, dia consagrado à mulher moçambicana e vamos novamente assistir a uma enxurrada de bandeiras vermelhas e tentativas de fabricar heroínas, discriminando e não apresentando aos moçambicanos um discurso que os una através da inclusão dos heróis ou heroínas dos outros. Mais uma vez o tempo de antena televisiva e da rádio, o espaço na Imprensa escrita pública vão ser devotados ao engrandecimento de uns à custa do erário público. Antecipar campanhas eleitorais tem de ser feito à custa dos recursos dos partidos e não colocando a mão nos escassos recursos do Estado, mas aqui a banda continua a passear-se alegremente. Decerto não me vão convencer que toda a pompa e circunstância exibidos durante a visita da Primeira-dama a Sofala no quadro das comemorações do dia da Mulher de 2008 são provenientes dos cofres da OMM. Não conheço as suas contas mas é de crer que não sejam muito famosas. Comemorar as datas históricas e que ninguém pode negar que o sejam é lícito e serve também de ensinamento as gerações mais novas. Mas fazê-lo tem que ser um exercício patriótico que não lese os interesses dos moçambicanos no sentido de desenvolvimento do seu país de uma maneira inclusiva, transparente. Quantas vezes e com que recursos se efectuam visitas aos mesmos lugares? Qual é a razão concreta para todo este despesismo numa situação de escassez de recursos como todos reconhecem? As ODMs como as conhecemos, já teriam morrido e sido enterradas se não fosse o facto de serem apêndices de um partido político. A repetição e multiplicação de iniciativas visando o mesmo grupo alvo, a proliferação de organizações da sociedade civil camufladas em tal, mas que não passam de agentes activos de agendas políticas dos seus mentores, é uma ocupação estratégica de espaço e uma maneira de fazer politica em Moçambique. No fim, quando há algum sucesso ou mesmo quando não existe, pois suas acções baseiam-se mais em donativos e intervenções de organizações congéneres com origem na esquerda dos países desenvolvidos, o tal sucesso, é rapidamente atribuído ao partido. Ou não é isso que se assiste em Moçambique?
In Canal de Mocambique (Noé Nhantumbo)

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