Monday, 25 February 2008

PARA REFLECTIR! O SONHO DOS RATOS!

O sonho dos ratos....

Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do soalho de uma casa
velha.
Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos
e jovens, fortes e fracos, do campo e da cidade.
Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em
torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho
dos seus narizes.
Comer o queijo seria a suprema felicidade...

Bem pertinho é modo de dizer. Na verdade, o queijo estava imensamente longe,
porque entre ele e os ratos estava um gato...
O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca.
Por vezes fingia dormir.
Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco
para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho...

Os ratos odiavam o gato.
Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam.
O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam
que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro...

Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos,
denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram
mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos.

Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam
iguais.
"Quando se estabelecer a ditadura dos ratos", diziam os camundongos, "então
todos serão felizes"...

- O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.

- Socializaremos o queijo, dizia outro.

Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções.
Era comovente ver tanta fraternidade.
Como seria bonito quando o gato morresse!
Sonhavam. Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele
crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não
diminuem:
crescem sempre.

E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: " o queijo, já!"...

Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela
manhã, o gato tinha sumido.
O queijo continuava lá, mais belo do que nunca.
Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco.
Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato.
Mas não era. O gato havia desaparecido mesmo.
Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria.
Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum.

E foi então que a transformação aconteceu.
Bastou a primeira mordida.
Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos
queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.

Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para
cada um.
Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos.
Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto do queijo haviam
comido. E os olhares se enfureceram.
Arreganharam os dentes.
Esqueceram- se do gato.

Eram seus próprios inimigos.
A briga começou.
Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas.
E, acto contínuo, começaram a brigar entre si.
Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a
ordem.

O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos:

"Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser
dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo
dono".

Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram
condenados a ficar esperando.

Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que
havia acontecido. O mais inexplicável era a transformação que se operara no
focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do
gato, o olhar malvado, os dentes à mostra.

Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de
antes e os ratos de agora.
E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que
fica dono do queijo vira gato. Não é por acidente que os nomes são tão
parecidos.

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