Monday 25 February 2008

'A MAO INVISIVEL' E A VIOLENCIA EM CHIMOIO: 6 MORTOS E MAIS DE 20 FERIDOS!


Tumultos provocam mortes e feridos em Chimoio
- populares lincham quatro supostos malfeitores e invadem uma unidade policial
- polícia mata a tiro dois e fere mais de uma dezena de manifestantes
Chimoio (Canal de Moçambique)

– Seis mortos e cerca de vinte feridos, sete dos quais em estado grave, é o balanço preliminar causado por tumultos ocorridos na manhã de sábado último envolvendo a população e agentes policiais. O confronto que foi originado por disputa da posse de
supostos cadastrados que estavam sob custódia policial, para além do banho de sangue provocou enormes estragos entre os quais destruições de montras dos estabelecimentos
comerciais, interrupções de vias de acesso e paralisação da vida económica da capital provincial de Manica.
Dos óbitos oficialmente registados, quatro foram linchados pela população e dois foram vítimas de baleamento por parte dos membros da Polícia da República de
Moçambique (PRM) que alegaram que tal fruto da tentativa de dispersar os manifestantes, que momentos após terem invadido e destruído a esquadra
policial, caminhavam para assaltar a outra que na altura acolhia os detidos
reclamados pelos populares.
Do número dos linchados pelos populares, uma vítima é do sexo feminino, respondia em vida por nome de Maria Sete. Esta que era acusada pelos residentes como guardiã dos
malfeitores, antes de ser eliminada físicamente pelos revoltosos viu a sua
residência vandalizada e ainda em vida enfiaram um pau aguçado nos seus
órgãos genitais, tendo no momento de agonia perdido muito sangue. Relatos
de pessoas que assistiram tais acontecimentos referem que mesmo com o pau no sexo, as pessoas ainda violentavam a vítima, que durante uma semana andava fugitiva da sua casa devido à ameaças da população.
Tudo começou com as investigações policiais que estavam sendo levados a cabo pelos agentes da lei e ordem com vista a neutralizar um perigoso grupo de malfeitores. Segundo apurou a nossa reportagem, paralelamente às diligências da polícia, os residentes também faziam a sua busca e tudo leva a crer que o fim, quando os supostos bandidos fossem neutralizados seriam mortos por linchamento.
Tais malfeitores, que tanto a polícia como os residentes andavam a sua procura
eram tidos como perigosos cadastrados e que sempre que fossem encarcerados eram
soltos pelas autoridades alegadamente por insuficiência de provas ou obtinham
liberdade pagando caução. Segundo depoimentos de populares, os supostos
bandidos bandidos espalharam o terror quando há duas semanas assaltaram a casa
de um professor primário, tendo para além de outros malefícios violado sexualmente
a esposa deste educador, numa cena presenciada por toda a família.
No sábado, o dia em que o copo transbordou, a população de vários bairros
da cidade de Chimoio, destacando-se os de 25 de Junho, Tambara 2 e Chinfura,
acordaram, seguindo todos os passos da polícia até que a mesma conseguiu fazer a
detenção de supostos malfeitores, e acto contínuo o povo exigiu as suas cabeças.
Chico Fambiranhi, um dos moradores de 25 de Junho, disse ao nosso jornal que ultimamente era pesadelo circular depois das 21 horas no seu bairro, porque os malfeitores estavam literalmente a dirigir o bairro, sob olhar impotente da
polícia.
“Não estamos contra a polícia, antes pelo contrário queremos ajudá-la no
combate ao crime. Eliminando físicamente pelo menos 50 por cento de ladrões que
são muitos na nossa província, poderíamos estar preocupados por outras coisas”.
Ira contra polícias. Após saber-se que a polícia atirou mortalmente contra dois cidadãos manifestantes e ferido outras com armas de fogo, muitos cidadãos condenaram esta posição, tendo alguns, prometido vingança.
“No lugar de defender os cidadãos honestos contra o crime, é a própria polícia
que mata as pessoas. Queremos reverter este tipo de situações. Porquê a polícia tem
de matar quando a causa defendida pela população é justa? Se assim as coisas
continuarem a revolta contra a polícia não vai tardar”, desabafou um cidadão
envolvido na manifestação.
“Pelo menos pessoalmente vi dois mortos e alguns feridos graves por causa das balas atiradas intensionalmente pela polícia. Isso é muito grave. Afinal de que lado está a nossa polícia. Do lado dos ladrões ou dos honestos?” questionou um dos manifestantes que pediu para não ser identificado.
Procuradores?
A população diz que a ideia de afectar magistrados do Ministério Público nas
esquadras policiais só acabam favorecendo os criminosos. Consideram que só os desonestos, é que são protegidos pela lei.
“Os procuradores são como estes ligados à defesa dos direitos humanos, eles
estragam tudo. Um ladrão quando leva uma coça corre de imediato e vai se queixar ao
procurador ou aos organismos de defesa dos direitos humanos, este é logo protegido,
porquê isso? Estes é que estão a promover a bandidagem”, disse Lúcio Dom Luis.
Etelvino Jossene, um outro cidadão, comentou à nossa reportagem, que os
próprios policiais se sentem desprotegidos pelas leis Moçambicanas, havendo a
necessidade de serem reformuladas.
“Tenho um conhecido que é membro da polícia que comenta que as leis não lhes
são favoráveis. Eles prendem mas muitas vezes o procurador ou juiz solta, isso é de
lei. A pergunta que se levanta é de quem é a culpa? Está visto que a policia trabalha, tanto que tem os bandidos na sua posse, os verdadeiros criminosos são os
procuradores sem preparação, que em troca de favores, ou talvez com medo de ameaças,
soltam os bandidos pondo-os na rua. Assim sendo os procuradores poderão continuar
a acumular fortuna a custa dos trabalhos de cinzentinhos”, disse.
PRM ainda no silêncio Embora a situação tenha regressado à calma, todas as sub-unidades policiais na província de Manica estão em alerta.
Os agentes continuam a circularem com frequência nos bairros, porque tiveram
informações que a população vai se revoltar contra a polícia devido as mortes
por baleamento.
Num breve contacto telefónico com o nosso jornal, Pedro Jemusse, do
departamento das relações públicas do comando provincial da PRM em Manica,
disse que tudo estava sob controlo e que a ordem e a segurança pública tinham sido
restabeleciddas. Sobre as mortes, os estragos e outras consequências causadas
por aqueles tumultos, o nosso interlocutor disse que a sua corporação se pronunciaria
em tempos oportuno.
(José Pedro e Crisóstomo
Nhamacherene)
In Canal de Mocambique (www.canalmoz.com)

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