Sunday, 24 February 2008

COM A DEVIDA VENIA REPRODUZO AQUI OS ACONTECIMENTOS DE CHIMOIO DE ACORDO COM O BLOG DO PROF. CARLOS SERRA OU SEJA O IMPACTO DA MAO INVISIVEL DO EDSON




23 Fevereiro 2008

Tiros em Chimoio: moradores quererem linchar onze homens (outros dois foram já linchados)






(19:17: fotos colhidas hoje em Chimoio e enviadas por Bordina Muala e Anilda Manjate da STV, a primeira e terceira, a contar de cima, são de linchados. Muito obrigado a ambas)
Duas pessoas linchadas, dois polícias feridos, nove feridos entre os moradores, a destruição parcial da 3.ª Esquadra da Polícia e de uma residência - eis o rescaldo de uma conturbada situação social na cidade de Chimoio neste momento, onde há minutos atrás a polícia disparava para o ar tentando conter uma multidão furiosa que quer linchar 11 homens acusados de assaltos com recurso a catanas. Mas outras duas pessoas foram entretanto linchadas, acusadas também de assaltos. O jornalista Castigo Luís da Rádio Moçambique acabou de me informar por via telefónica que habitantes de Chimoio interceptaram os 11 homens, posteriormente detidos pela polícia. Entretanto, uma multidão furiosa, que arremessa pedras, quer libertar os acusados para os linchar. Uma situação muito delicada (obrigado também ao Carmona do "Savana" e ao Arune Valy da Rádio Moçambique na Beira pela informação prestada).
1.ª adenda 10:oo: estou a escrever em computador de pessoa amiga, dado que estou a sofrer restrições de fornecimento de net por parte da minha provedora que me disse há momentos haver um "problema local". Espero que possa ter net nas próximas notas. Este texto sai, portanto, sem o cuidado imagético que costumo usar.
2.ª adenda às 11:oo: esta a situação mais grave vivida até agora numa cidade moçambicana por causa das acusações de roubo e da tentativa sumária de execução dos supostos culpados. Deverei falar sobre linchamentos logo à noite na TVM, cerca das 19:50.
3.ª adenda às 11:05: jornalistas estão em contacto permanente comigo.
4.ª adenda 11:36: net restabelecida no meu computador, após 3 dias de restrições severas.
5.ª adenda às 11:40: a polícia está em dificuldades pois moradores tentam libertar os onze detidos. Há informações sobre mais vítimas, mas preciso ainda de as confirmar.
6.ª adenda às 11:45: parece estarmos em Maputo, Beira e Chimoio perante uma necessidade popular de purificação total da vida através do linchamento de ladrões ou de suspeitos de roubo.
7.ª adenda às 12:06: as manifestações começaram cerca das 5 horas, de acordo com o jornalista Castigo Luís.
8.ª adenda às 12:08: há alguns dias atrás, coloquei nesta diário - mas também em intervenção na estação televisiva STV - a hipótese de que as manifestações de 5 de Fevereiro eram apenas a ponta do iceberg. Coloquei, igualmente, a hipótese de se poder cruzar as manifestações populares com os linchamentos. O que se está a passar na cidade de Chimoio é, por hipótese, o prosseguimento das manifestações de 5 de Fevereiro sob uma roupagem aparentemente diferente. Mas o fundo parece ser comum: uma grande insatisfação popular, um grande cansaço, uma grande necessidade de despoluir a vida.
9.ª adenda às 12:34: o que se passa em Chimoio não consta dos destaques do noticiário da Rádio Moçambique às 12:30.
10.ª adenda às 13:37: de acordo com as últimas informações do jornalista Castigo Luís, uma senhora foi linchada, acusada de albergar os supostos ladrões, que são 12 e não 11 como inicialmente me foi informado. Há 13 feridos, cinco dos quais polícias, estando detidas 29 pessoas acusadas de promover a manifestação. A cidade está agora calma.
11.ª adenda às 13:59: o que se passou em Chimoio foi uma espécie de Luís Cabral ampliado. E o que se passou em Chimoio não ocorreu na periferia, mas na prória cidade.
12.ª adenda às 14:04: com três linchamentos em Chimoio hoje, eleva-se para 13 o números de linchamentos publicamente reportados este ano em Moçambique (oito na Beira e dois em Maputo).
13.ª adenda às 16:15: o Castigo Luís acaba de me informar que a situação está calma agora em Chimoio.
14.ª adenda às 16:28: o jurista Custódio Duma, da Liga dos Direitos Humanos, também se refere à manifestações de Chimoio no seu blogue. Confira aqui.
15.ª adenda às 16:43: recordo que a presidente da Liga do Direitos Humanos, Alice Mabota, faz uma intervenção na próxima quarta-feira, dia 27, sobre o tema "Custo de vida: do baixo poder de aquisição aos protestos populares". O evento realiza-se às 14 horas, Maputo, salão da LDH. Leia ou recorde aqui.
16.ª adenda às 17:53: num inquérito realizado pela Direcção de Investigação e Extensão da Academia de Ciências Policiais na província de Maputo em Dezembro de 2006, 54% dos inquiridos de uma amostra de 398 indivíduos afirmaram que os linchamentos tinham por base a ausência de confiança na polícia. Fonte: ACIPOL, Relatório final 1.ª fase - Avaliação da implementação do Policiamento Comunitário em Moçambique (2001-2006). Maputo: Direcção de Investigação e Extensão, 2007, pp. 23-24.
17.ª adenda às 18:49: a cidade ficou literalmente paralizada hoje, tendo o comércio fechado. Moradores de todos os bairros estavam profundamente irritados com as acções dos criminosos. Uma criança foi mortalmente atropelada em circunstâncias que ainda não apurei. Agora a situação está calma e a polícia camarária remove as barricadas colocadas nas estradas. Isto é parte do que um ciadão de Chimoio acabou de me dizer telefonicamente.
18.ª adenda às 20;42: subiu para cinco o número de vítimas mortais das manifestações hoje em Cimoio, enquanto os feridos são 21, sete em estado grave, incluindo uma criança atropelada por um carro da polícia. Um jornalista, Luís Magama (não sei se escrevo correctamente o apelido), foi agredido pela polícia quando filmava (noticiário da TVM das 20 horas, no qual estive presente).
19.ª adenda às 22:52: uma diferença notável hoje entre duas empresas públicas de informação: enquanto a Rádio Moçambique abriu o seu noticiário das 12:30 com a iniciativa presidencial de apoio à mulher, a Televisão de Moçambique abriu o telejornal das 20:00 com as manifestações populares de Chimoio.
20.ª adenda às 00:05 de 24/02/08: à meia-noite, no noticiário da Rádio Moçambique, o governador de Manica, Maurício Vieira, leu um comunicado governamental, narrando os acontecimentos e condenando a violência desencadeada. O governador tratou os manifestantes por "populares", por "população" e "por população enfurecida". Mas não falou nem em "mão invisível" nem em "marginais". Reportou a existência de 22 feridos.
21.ª adenda às 00:30 de 24/02/08: saldo de linchamentos em Moçambique este ano: 14 (oito na Beira, dois em Maputo e quatro em Chimoio).

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