Suposto rapto de 40 crianças : Detidos sete indivíduos em conexão com o caso
SETE indivíduos, entre os quais o motorista do camião que transportava os 40 menores supostamente raptados e que alegadamente seguiam a rota do tráfico, a partir das cidades de Maputo e Tete nas regiões Centro e Sul do país, encontram-se detidos na primeira esquadra da Polícia da República de Moçambique em Chimoio, segundo confirmou ontem a nossa Reportagem.Maputo, Quinta-Feira, 31 de Janeiro de 2008:: Notícias
Entre os detidos, constam Abdula Garcia, delegado da Madraça Hamza, na cidade de Nampula, Amade Mussa Bilaule e Amade Rachid Alfane, coordenador e secretário, respectivamente, da madraça, a considerada “criança mais velha” do grupo, com 25 anos de idade e Felisberto Joaquim Pinga, motorista do camião com a chapa de inscrição MBP-44-71, pelo qual se faziam transportar as referidas crianças.
Em declarações ao “Notícias”, os supostos dirigentes muçulmanos afirmaram que transportavam as crianças para a continuação dos seus estudos religiosos nas cidades de Maputo, Matola e Tete, mais precisamente nas chamadas instituições Hamza e Djame, na cidade de Maputo e Matola e Darul Hulume, em Tete.
As duas raparigas que igualmente fazem parte das 40 crianças, segundo Amade Mussa Bilale, que chefia a “delegação” dos petizes, tinham como destino o Colégio da Catembe, uma instituição de formação religiosa destinada especialmente para os estudantes femininos do alcorão.
Negaram tratar-se de uma situação de rapto ou tráfico de menores defendendo que, “levamos as crianças com o consentimento dos pais com o propósito de receberem formação para serem memorizadores do alcorão”, livro sagrado dos muçulmanos.
Segundo eles, isto pode ser provado pelo facto de os pais das crianças terem declarado por escrito e entregue pessoalmente seus filhos para fins educacionais, terem pago dinheiro das passagens e alimentação ao longo do percurso, no valor de 2.500 a 3.000 cada, para além do visto que disseram que disseram constar da lista dos menores em causa, emitido pelo Departamento dos Assuntos Religiosos da Direcção Provincial dos Registos e Notariado de Nampula.
Desafiaram a Polícia a contactar o Sheik Aminodine, da Madraça de Maputo e maulana Mohamade, de Tete, para confirmarem a veracidade das suas declarações, pois conforme revelaram, “são eles que, no destino, haviam de receber as crianças e que as encaminharia para os referidos colégios muçulmanos vocacionados ao ensino do Alcorão.
Por outro lado, solicitaram a Polícia a entrar em contacto com os pais dos menores e também com a direcção das madraças de Nampula, Maputo e Tete, a fim de colher mais elementos que possam provar a veracidade das suas declarações e sustentar a sua alegada inocência, perante a acusação de tráfico ou rapto de menores, que pesa sobre eles.
Informações colhidas junto de uma fonte do Comando Provincial da PRM de Manica e confirmadas pelos visado, indicam que as crianças em referência e que neste momento se encontram acomodadas no infantário provincial de Manica, em Chimoio foram recrutadas nos vários distritos e cidades das províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia e Zambézia.
A maioria destes menores com idades compreendidas entre os sete e 16 anos, sendo que também faz parte um jovem de 25 anos que igualmente está sob custódia policial para averiguações. Do universo das crianças, 24 tinham como destino Maputo e as restantes 16 seguiriam a Tete.
A nossa Reportagem conversou com os menores Zamane Juma, de Mossuril, em Nampula, Icra Mohamad, de Pemba, Cabo Delgado e Ramadane André, também de Pemba que confirmaram que foram autorizados pelos seus pais a viajarem para Maputo ou Tete, a fim de estudar o islamismo, tendo inclusivamente pago dinheiro para as passagens e outro para a alimentação ao longo do percurso.
Amade Bilaule revelou não ser pela primeira vez que se ocupa no transporte de menores para a sua colocação nos estabelecimentos de ensino de alcorão nas cidades de Maputo e Tete, declarando que o processo remonta desde o ano de 1999 e que neste momento, um outro grupo de 55 crianças encontra-se a estudar na Hamza, em Maputo, onde outras já foram graduadas como memorizadores de alcorão, nomeadamente hafezes, halimas e hafimas e leccionam o Alcorão em várias madraças do país.
Entretanto, a PRM reiterou ontem em declarações ao “Notícias” que até prova em contrário, a corporação está em presença de um caso de rapto de menores, reconhecimento, porém, que “pode ser um acto de rapto consentido pelos próprios pais, por motivo de pobreza”.
Pedro Manuel Gemusse disse que a Polícia vai continuar a averiguar o caso junto dos vários intervenientes citados pelos investigadores do caso, para além dos governos provinciais e instituições muçulmanas relacionados, para apurar a veracidade dos factos e decidir.
VICTOR MACHIRICA
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