Pensionistas mendigam às portas dos cemitérios
“As pensões são irrisórias e não chegam para quase nada, tendo em conta o elevado nível de vida” – Raul Piloto, da Associação dos Aposentados de Moçambique
Quelimane (Canal de Moçambique) – Na cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia, os mendigos recorrem ultimamente às portas dos cemitérios, sobretudo o muçulmano, numa desesperada tentativa de fugir à miséria a que após anos de trabalho a servir o Estado ainda estão sujeitos. Fazem-no a fim de pedir esmolas às pessoas que por algum motivo para lá se deslocam. E estas sentem-se ofendidas por as autoridades nada fazerem para que este autêntico escândalo humano seja evitado. O «Canal de Moçambique» viu. No Cemitério dos Muçulmanos, vulgo «Cabrustana», deparamo-nos com mais de 50 mendigos pedindo esmolas às pessoas que saem, após funerais ou simples visitas às campas dos seus entes ou amigos. Alguns mendigos falaram à reportagem do «Canal de Moçambique» e explicaram que recorrem agora às portas de cemitérios porque, disse-nos um deles “quando vamos nas lojas as pessoas só nos dão pão e outros pequenos produtos e também nos abusam muito, mas aqui no cemitério já é diferente, porque dão-nos dinheiro, e muito, porque eles não trazem moedas”. Habitualmente, um pouco por todo o País, sobretudo nas cidades, às sextas-feiras os mendigos percorrem as lojas cujos proprietários são crentes muçulmanos. Matilde Muachiuana, residente do Bairro Sangariveira, na periferia de Quelimane, afirmou que para ir às lojas os mendigos, às sexta-feiras “dão muitas voltas” e “não compensa”. “O melhor é ficar nas entradas dos cemitérios, porque nas sexta-feiras andamos nas lojas em vão”. Mas apesar dos mendigos acharem os cemitérios locais mais rentáveis já os visitantes dos cemitérios mostram-se preocupados e agastados. “De acordo com as normas da moralidade e do bom senso, isto não deve ser feito, porque constitui um pecado aproveitar-se de situações tristes para tirar proveitos”, queixa-se um dos visados pela mendicidade à porta do cemitério «Cabrustana». Não é o único que anda indignado. As proporções que o caso assume – note-se que chega a haver mais de meia centena de mendigos todas as sextas-feiras às portas do cemitério islâmico – faz com que haja até já quem apela para a intervenção de quem de direito. Apurámos, entretanto, que parte significativa dos tais mendigos é de pensionistas do sistema de segurança social, que pelo facto das pensões serem insignificantes, se vêem obrigados a recorrem às ruas para ao pedirem esmolas verem a sua sobrevivência assegurada, o que dizem não ser possível se a tal não recorrerem. Raúl Piloto, secretário na Zambézia da Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), instado em Quelimane a pronunciar-se sobre o que está a acontecer começou por dizer que “as pensões são irrisórias e não chegam para quase nada, tendo em conta o elevado nível de vida”. Piloto, fez saber que neste momento a sua agremiação está negociando com o governo, através do Ministério do Trabalho, para que melhorem as pensões. “Estamos a propor que a pensão mínima seja igual ao salário mínimo do Estado”, apela Raul Piloto da APOSEMO. Com o problema a atingir o rubro, entre mendigos desesperados e os incómodos a que estes sujeitam os mais afortunados, fontes governamentais em Quelimane vão dizendo entretanto que “nos próximos tempos, uma equipe multi-sectorial vai desencadear uma campanha de recolha dos «sem tecto» para os acomodarem no Centro de Apoio a Velhice, pertencente a Direcção Provincial da Mulher e Acção Social”. Os governantes do País, fazendo eco de uma «palavra de ordem» de que o Presidente da República Armando Guebuza fez bandeira desde que assumiu a chefia do Estado, repetem exaustivamente, às vezes até pouco a propósito, que tudo é parte da luta contra a pobreza absoluta. E são frequentes as vezes que os sucessos dessa tal luta são exaltados, mas este é um quadro diabólico que mostra bem como o Estado trata quem levou uma vida a trabalhar, sobretudo para ele. E este retrato de Quelimane ainda se torna mais escandaloso quando colocado em paralelo com o fausto que os funcionários superiores reivindicam para eles a pretexto de que é necessário dar dignidade às instituições públicas. (Aunicio da Silva)
2008-01-07 06:21:00
Trump names fracking executive Chris Wright energy secretary
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Wright is expected to fulfil Trump's campaign promise to "drill, baby,
drill" and maximise US energy production.
3 hours ago
1 comment:
A falta de dignificação dos cidadãos que atingem o fim da sua actividade profissional, maioria das vezes por limite de idade, por acidentes de trabalho, doenças incapacitantes e outros, é um problema que também se verifica em Portugal.
Em Moçambique, segundo o articulista, a miséria também afecta muitos Pensionistas que trabalharam para o próprio Estado.
Depois hão os restantes Pensionistas oriundos do sector privado e outros.
A APOSEMO está a lutar para que a pensão mínima seja igualada ao salário mínimo do Estado.
Espero, e desejo, os melhores resultados dessas reivindicações, em nome desse sector da sociedade normalmente muito marginalizado.
Os Pensionistas tem pouca capacidade de luta por motivos vários – não podem fazer greve, muitos têm idade avançada, doenças incapacitantes, estão dispersos, não têm capacidade de organização, a força anímica é baixa, a auto-estima também, etc,
São muitas vezes encarados como um peso pela sociedade.
Que tipo de sociedade? Que cultura?
Uma sociedade que não respeita, pelo menos, as suas crianças e os seus idosos, não presta.
A boa sociedade deve ser inclusiva – todos somos úteis e necessários.
É preciso ter a sabedoria, e a vontade de implementar boas políticas de organização social a fim de aproveitar todos os recurso humanos disponíveis.
Em África os velhos são (eram) respeitados.
Fontes de conhecimento, de saber e experiência, são ouvidos e respeitados.
Estão completamente integrados na sociedade, através da família tradicional.
É uma grande marca cultural Africana que convém preservar. É um bom exemplo civilizacional.
Lembro-me bem dos madhalas e cocuanas dos meus tempos de mais juventude, há cerca de 45 anos atrás.
Das suas estórias sem pressa, pacientes, sábias.
E eu, matreiro, a puxar por eles. A cavar fundo, com jeito.
Quando a coisa estava difícil, partilhávamos uma Manica bem fresca.
Antes de começar a beber, deitávamos um pouco de cerveja, no caso, para o térreo chão em homenagem aos antepassados mortos.
Depois as estórias fluíam com mais descontracção e divertimento.
E eu não era o único a ficar espantado/admirado com muitas dessas estórias e história.
Os outros muanas (jovens) também.
Nos tempos em que eu era muana na Zambézia, bem junto do Zambeze, onde todos pescávamos pende, somba, nenge, giriri, cone-cone e outros, com os olhos bem abertos por causa dos jacarés.
Nesses tempos os cocuanas eram respeitados.
E agora?
O que está então a acontecer?
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