Friday, 4 January 2008

A OPINIAO DE RAUL CHAMBOTE SOBRE A POBREZA!

Combate Folclórico da Pobreza

Maputo (Canal de Moçambique) - Abstracto. Quatro palavras: redução da pobreza, participação, empowerment e ownership, recentemente, ganharam considerável aceitação na nova linguagem de desenvolvimento. Carregando o fascínio de optimismo e determinação, impregnadas de considerável poder normativo, essas palavras ainda permanecem vazias de significância prática no esteio de implementação de políticas de desenvolvimento em três níveis, nomeadamente, a nível político, com dupla dimensão: externa e interna. Tanto os Parceiros de Cooperação (PdCs) como proponentes da agenda, como os Estados Implementadores (EIs) dessa agenda, assumem uma atitude da ética de conveniência que de convicção, sobre as metas que são apregoadas para o combate à pobreza. Dependência a fundos externos para a gestão dum Estado, pode estar no centro dessa atitude por parte dos Estados Implementadores; a nível institucional: a dinâmica de implementação dessa agenda no quadro institucional ignora o contexto estrutural político social que de longe difere da do quadro institucional dos PdC e o exército das ONGs; a nível dos pobres onde a redução da pobreza deve ocorrer, ou por outra, a razão da existência dessa agenda que, por óbvias razões, somos tentados a concluir que a agenda pro-pobres não é deveras pro-pobres, mas sim dos PdCs e EIs. Enquanto palavras que indicam certa responsabilidade social por parte da acção humana, a sua presença na linguagem diária da maioria das proeminentes agências de desenvolvimento, ONGs internacionais e nacionais, PdCs, EIs e até algumas instituições de pesquisa aparece, à primeira vista, representar uma viragem na abordagem. Que diferença isso faz? Conduziu à alguma mudança significativa em termos de políticas advogadas para combater a pobreza e incrementar o desenvolvimento desde o ano de 2000? Que auto-estima pode uma família ter se sempre depender dos préstimos serviços do vizinho para alimentar os filhos? Um spot publicitário de Sabão Brisa que passa nas estações televisivas de Moçambique oferece uma imagem didáctica da evasão de responsabilidade a um problema identificado. A questão de formulação e interpretação dos resultados derivados da implementação de políticas de desenvolvimento nos nossos dias têm sido vistas de diferentes maneiras. Umas situam suas análises centrando-se nos decisores políticos e outras dão maior enfoque aos pobres, e outras ainda, às instituições responsáveis a trazer o almejado benefício à dinâmica de reformas. Uma outra via para abordar essa situação seria uma leitura compreensiva àquilo que actualmente tem sido feito em nome da participação, empowerment, ownership e redução da pobreza, e questionar até que ponto isto representa mudanças reais na prática – ou é simplesmente apropriação da musicalidade sonora das palavras para produzir um tom agradável ao negócio. Porque insistir em questionar algo que quase reúne consenso generalizado no seio da comunidade de desenvolvimento, quer dizer entre os PdCs e EIs? Nos últimos dez anos, pesquisadores viraram suas atenções a estas questões Mosse (2004), e nos parece que o dito popular Gitonga que reza “negócio nha parte, família nha parte”, configura a dificuldade pertença de colocar a limpo o que os EIs recebem à luz do discurso de redução da pobreza e o que isso implica para o aumento da mesma na vida das populações desses Estados. (*) Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia, pelo Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI). Fez Filosofia e Estudos Religiosos, pelo Saint Bonaventure College, Lusaka. No spot publicitário aparece sentada a porta de casa um casal relativamente distante um do outro. Nisso passa o vizinho vestido de roupa limpa e bem engomada. Nem mais nem menos o marido aproxima-se da esposa e diz numa atitude de responsabilizar a mulher pela sujidade da camisa dele: “vês como o vizinho anda limpo?”. Instantes depois a vizinha leva-os uma barra de sabão. Só depois disso é que o spot fecha mostrando o casal tendo já comprado uma caixa de sabão. 2 Gitonga é um dos grupos étno-linguísticos da Província de Inhambane, no sul de Moçambique. (Raúl Meneses Chambote)

1 comment:

MANUEL DE ARAÚJO said...

Esta de parabens o Jovem Raul pela brilhante analise! Falando e que nos entendemos! Forca!