Estado da Nacao por Machado da Graca

Publicamos com a devida venia e sem comentarios mais um Marco do Correio de Machado da Graca! Desta feita sobre o 'Estado da Nacao'


Meu caro David

Espero que tudo corra bem para ti e para toda a tua família. Do meu lado o meu estado é como o da Nação: é bom.
De resto fiquei muito contente por o Presidente Guebuza ter dito, mais uma vez, que o “estado da Nação é bom”.
Só não percebi bem uma coisa. Ele disse também que Moçambique está a mudar. Ora, se já nos anos anteriores ele tinha dito que o estado da Nação era bom, como é que agora, depois dessas mudanças, continua a ser apenas bom?
Talvez ele devesse ter dito que o estado da Nação agora é óptimo, mas não teve coragem, por modéstia.
Mas há uma coisa que é preocupante. A informação sobre o estado da Nação parece que não chegou a todo o país.
Tu achas que, se soubessem que o estado da Nação é bom, as pessoas de Gondola tinham saído à rua e enfrentado a Polícia, protestando contra a criminalidade impune, ao que parece com mortos e feridos pelo meio? É claro que não. Tinham ficado
em casa muito contentes pela bondade anunciada.
E as pessoas da Beira? Pensas que, se lhes tivesse chegado a notícia de que o estado da Nação é bom, eles teriam continuado a linchar pretensos malfeitores?
Nem pensar. Até porque esse tipo de atitude, quer no caso de Gondola, quer no da Beira, pode até pôr em causa a palavra do Chefe de Estado e isso seria muito aborrecido, podendo até ser considerado falta de respeito.
Mesmo os porta-vozes da Polícia deveriam ter mais em conta a comunicação de Armando Guebuza antes de darem as notícias para os jornais. Há poucos dias um desses porta-vozes informou que, nas duas semanas anteriores, tinha havido 16 ataques à mão armada na cidade de Maputo.
Ora isto, para além de parecer um desmentido ao Presidente, é igualmente uma falta de cortesia para com o próprio Ministro do Interior que nos anunciou, há uns meses, que até ao fim do ano a criminalidade estaria controlada na zona do grande Maputo.
Foram até tomadas medidas concretas, como a colocação de polícias junto aos principais bancos para reforçarem a vigilância feita pelas empresas de segurança privadas.
Só que, agora, os polícias que estavam junto de um banco se afastaram para tratar de um outro assunto qualquer e, por coincidência, os bandidos, que estavam por ali perto, aproveitaram esse afastamento para assaltar o banco.
Repara, David, como os bandidos tiveram a sorte de andarem na zona no momento em que os polícias se afastaram. Alguém, mal intencionado, até poderia insinuar que eles sabiam antecipadamente que os polícias se iriam afastar.
E, já que falamos destas coisas, lembrei-me do boato que correu, há dias, sobre a morte do Anibalzinho. Até com direito a palavras sentidas, na Assembleia da República, e desejos de paz à sua alma.
Só que, no dia seguinte, tivemos a Polícia a tentar imitar o Chefe de Estado, garantindo que o estado do Anibalzinho é bom. Que nunca foi melhor.
Ficámos até a saber que, ao contrário do que acontece com todos nós, quando o Anibalzinho está doente não tem que ir ao hospital. Há um médico que o vai atender “a casa”.
Privilégios, enfim...
E, dado que não te devo escrever antes do dia 25, um bom Dia da Família para ti e para os teus.
E, já agora, para toda a gente que tem a paciência de ler as cartas que vou enviando semanalmente.
Desejos de Boas Festas do