Wednesday, 23 January 2008

Canal de Opinião: por Manuel Araújo

Quando a America espirra o mundo apanha gripe?

O ditado acima não poderia estar mais perto da verdade. De facto quando a América tosse ou espirra o mundo apanha a gripe. Isto a propósito da recente queda das bolsas de valores dos principais centros financeiros do mundo, desde Nova York, a Londres, Frankfurt, passando por Tokyo, Paris, Hong Kong.
A crise que em princípios de 2007 afectou o mercado de habitações nos EUA parece não ter fim, apesar das medidas draconianas tomadas pelos Bancos Centrais logo que se aperceberam dos contornos da crise.
Sendo a economia mundial movida pela economia dos EUA, os efeitos desta crise não se fizeram sentir apenas nos EUA.
Ontem no mundo inteiro, e hoje nos EUA (ontem era feriado alusivo ao Rev. Martin Luther King Jr), os mercados internacionais andaram nervosos apesar da promessa de injecção de biliões de dólares, feita pelo presidente Bush no seu regresso aos EUA, semana passada.
De Londres a Mumbai passando pela China, Tokyo, Frankurt e Paris, todos os índices das principais bolsas de valores mostraram perdas substanciais, o que levou a uma intervenção acentuada e pouco usual do FED, o Banco Central Americano ao tomar a mais radical medida nos últimos anos - baixar a sua meta em termos de juro para 75 pontos de base para 3.5%, medida esta tomada fora das programadas reuniões do FED. Em Londres o FTSE 100 sofreu a sua queda mais acentuada (5.5%) desde os ataques as torres gémeas em Nova Iorque a 11 de Setembro de 2001, o equivalente a perda de mais de 79 biliões de Libras (mais de 140 biliões de dólares). Os sectores das minas e petróleo foram os mais afectados. A BhP Billiton e a Rio Tinto os dois maiores gigantes na área dos minerais foram as empresas que mais sofreram tendo perdido cerca de 10 % do seu valor.
O NIKKEi do Japan registou uma queda de 4 a 6% (pior queda nos últimos 10 anos) enquanto que o DAX alemão e o CAC Francês tiveram percas estimadas em 7% e a Índia, teve de encerrar o mercado com medo dos efeitos nefastos, 6% .
A crise nos mercados mundiais parece ter como origem a percepção de que a economia norte-americana, a maior do mundo, e considerada o motor da economia mundial ira entrar em recessão brevemente.

Será que a terapia de choque usada pelo FED (o maior corte nos últimos 25 anos) irá amainar os ânimos e receios dos investidores? Para já parece que sim, pela observação do comportamento do Dow Jones, um dos índices do mercado mais importantes dos EUA que de alguma forma conseguiu evitar o pior. Analistas consideram que a actuação do FED foi insuficiente e tardia, dai que menos dia mais dia tenha que voltar a exercitar o seu poder discricionário. Contudo as conclusões definitivas sobre o impacto das medidas do FED americano serão conhecidas ainda hoje, nas derradeiras horas do fecho.
Num outro desenvolvimento, Mervyn King, Governador do Banco da Inglaterra, em discurso esta noite perante membros do Instituto de Directores da Grã-Bretanha, disse numa atitude considerada corajosa e sem papas na língua que 2008 será o ano mais difícil para a economia britânica desde que o Banco da Inglaterra ganhou a independência na condução da política monetária em 1997. Comparou a odisseia que o espera e a economia britânica em 2008 com a turbulenta viagem que o primeiro Europeu a atravessar o Atlântico, o Italiano Giovane ou John Cobbert enfrentou. Caracterizou ainda a economia mundial como estando a atravessar uma crise sem precedentes, tanto do lado da procura como da oferta. Citou a subida nos preços de energia (petróleo e gás) bem como produtos alimentares (provocados em grandeparte pela procura de petróleo e matéria prima pela China e Índia) como um sinal inequívoco de que os tempos que se aproximam serão duros, e que se espera que inflação acima do previsto (2%), com todas as consequências previsíveis. O barril de petróleo caiu da chapa cem para os 88.59 dólares americanos
Face a este quadro, a pergunta que legitimamente se pode fazer e simples. Se mesmo antes da América espirrar (apesar de estar com sinais), a Grã-Bretanha e as economias mais fortes do globo, já andam com sinais inequívocos de gripe, o que acontecera com economias debilitadas como a nossa?
E mais terá o nosso Governador do Banco a mesma predisposição para dialogar com os agentes económicos e prepará-los para os difíceis tempos que se avizinham?
Ou continuaremos a fingir que tudo esta bem e teremos a coragem de esconder a cabeça deixando o rabo de fora? Irá o nosso Banco Emissor tomar medidas para se precaver dos choques externos e proteger os agentes económicos? Que medidas terá na manga, numa altura em que a nossa industria encontra-se cada vez mais vulnerável a choques externos? Alguma medida fiscal ou monetária para aliviar os nossos agentes económicos?
Oxalá nossos programadores fiscais e monetários estejam atentos aos impactos que uma desaceleração da economia mundial poderá ter nas nossas contas nacionais e quiçá no bolso do pacato moçambicano! E que no fundo no fundo quem pagara pela sua desatenção será o camponês de Lalaua!
A ver vamos, pois ainda estamos em Janeiro, faltando ainda pesados 12 meses de gestão monetária, fiscal e quiçá orçamental?!
E mais não disse.

(Manuel de Araújo)

1 comment:

MANUEL DE ARAÚJO said...

Indeed.
O rapaz vai longe, vamos esperar as turbulencias do dia 5 de Fevereiro, se passar o teste,
estah aberto o caminho para o primeiro presidente negro naquele.
O George Bush estah a "apoiar" os democratas com politicas macroeconomicas mal
desenhadas. O pior eh que sendo uma powerhouse como o eh a America, o "tossir" deles
faz com que sangremos em Hong Kong, Shangai, Tokyo, Nova Iorque, Paris, Londres, e
onde hajam as grandes bolsas por causa do medo da economia americana entrar em
recessao, o que faz com que os investidores vendam as suas accoes. Um outro "perigo" eh
que com o aproximar do ano novo Chines e piorando com o medo de Nova Iorque
comecar a tremer, os Chineses comecaram a desfazer-se das suas accoes em Shangai e
Shenzhen e, o impacto vai ser ainda pior pois vai ser o momento propicio para a opep nao
soh reduzir a producao do crude, mas talvez ateh aumentar o preco do barril, chocando o
mundo.
Para aqueles que detem instrumentos financeiros, tenham muito cuidado porque os
proximos dias vao ser turbulentos nos mercados bolsistas. Uma das coisas estranhas do
capitalismo eh que quase tudo estah interligado, um discurso como este do grande Obama
nao soh acorda aqueles que muita das vezes fazem ouvido de mercador em relacao a
questao das minorias na america mas tambem a classe media vai notando que afinal de
contas algo estah mal no seu proprio solo, activando mensagens que vao as financas,
politica, e a sociedade no geral.
Obviamente que isso tem as suas repercursoes para aqueles pequenos como o nosso
Mocambique que maioritariamente vive de ajudas: do lado positivo, poderiamos apreciar
os nossos recursos naturais (infelizmente nao podemos porque estao em maos
estrangeiras) , mas do outro lado da moeda, os financiadores podem fechar o saco azul
para se concentrarem nas suas proprias economias que estao a sofrer, mesmo antes da
America entrar em recessao.
A grande questao serah, o que fazer?! Esta eh mais uma daquelas respostas que valem 1
milhao de dolares.
Mais, nao disse.
Dino Foi