MUNICÍPIO DE QUELIMANE
CONSELHO MUNICIPAL
PRESIDENTE
AV. Josina
Machel nº558, Caixa Postal nº 68, telefax: +24213218, email: cmcqgp@gmail.com-
Cidade de Quelimane
CARTA ABERTA AOS PARTICIPANTES DA III CONFERÊNCIA
NACIONAL RELIGIOSA
Senhor Presidente da República de Moçambique, Excelência,
Senhor Governador da Província da Zambézia, Excelência,
Senhor Ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e
Religiosos, Excelência,
Senhores Deputados, Excelências,
Senhores Membros do Governo, Excelências
Senhores Presidentes dos Tribunais Judicial e Fiscal Provincial,
Excelência,
Estimados Líderes Religiosos,
Sejam bem vindos ao solo municipal Quelimanense! Sejam
bem vindos a terra da galinha a zambeziana e da mukapatha! Sejam bem vindos a
terra das bicicletas e do nyambaro!
Permitam-se iniciar esta Carta Aberta dirigindo palavras
de louvor e aclamação à Sua Excelência, Senhor Presidente da República, Jacinto
Filipe Nhussi, entanto que o Mais Alto Magistrado da nossa Republica. As nossas
palavras de louvor e aclamação são estendidas à toda prestigiosa Assembleia Religiosa
que partindo de diferentes cantos do nosso país e do mundo, se juntaram a nós
para partilharmos experiências, ensinamentos, princípios e valores religiosos
que no dia-a-dia transmitimos aos nossos crentes, as nossas comunidades
religiosas e aos nossos povos.
Agradecemos aos organizadores do evento por terem escolhido
a nossa cidade, o nosso município, como sendo o altar apropriado para
realização desta III Conferência Nacional Religiosa, num momento tao precioso
da historia da nossa patria. Ao nossos ver, alguns factores influenciado a
escolha do Município da Cidade de Quelimane para a realização deste reencontro
religioso. Para além de uma opção meramente logística, relevante no contexto em
que nos confrontamos com a crise financeira e os apelos da racionalidade
económica e financeira, acreditamos que a vossa escolha também deveu-se ao
facto da Província da Zambézia e o Município da Cidade de Quelimane
desempenharem um papel importante no desenvolvimento e expansão dos princípios
e dos valores religiosos da fraternidade, do amor à Deus e ao próximo. Somos
uma Província religiosamente heterogénea com a capacidade de aceitarmos de
forma tolerante e fraterna, todos os tipos de diferenças. Somos reconhecidos
como uma Província heterogénea, pluralista, com maior número de crentes
professando diferentes religiões, entre elas:
·
Católica,
·
Anglicana
·
Islâmica
·
Sião/Zione
·
Hindu
·
Religião Evangélica/Pentecostal
- inclui as Igrejas Adventistas, Apostólicas, Baptistas,
Evangélicas, Luteranas, Metodistas, Presbiterianas,
A província da Zambézia de que somos capital, é um
verdadeiro mosaico religioso onde 40.0% da sua população professa a religião Crista
na sua vertente Católica. De
acordo com os dados oficiais, a população que professa a religião Islâmica representa entre dez a vinte
por cento da população da Zambézia. E desta, maior parte é da zona urbana
(10.8%). As outras religiões:
Zione, Evangélica, Luterana, Metodista são professadas por 14.6% da população
da Província. Os desafios da evangelização na província ainda persistem. Temos 15.2%
da nossa população que não professa nenhuma religião. A despeito das diferenças doutrinais, as diferentes instituições
religiosas existentes nesta Província estão unidas por uma visão comum do mundo
que ancora toda a vida na autoridade de um ser Sagrado e num ethos
compartilhado que se expressa através do amor, da paixão e da fraternidade
entre os homens.
A nossa Constituição da República de
Moçambique estabelece que somos um Estado laico. A laicidade do Estado assenta
na separação entre o Estado e as confissões religiosas. Mesmo com esta dimensão
da laicidade, precisamos de reconhecer o importante papel das confissões
religiosas na moralização da sociedade moçambicana, de um lado, assim como, precisamos
de reconhecer e valorizar as actividades das confissões religiosas visando
promover um clima de entendimento, tolerância, paz e da fraternidade, o
bem-estar espiritual e material dos cidadãos e o desenvolvimento económico e
social. A análise que fizemos a este pressuposto constitucional leva ao
entendimento de que, embora, Moçambique seja um Estado Constitucionalmente
laico, o Estado nos seus mais diversos níveis privados e público da sua
actuação funda-se nos princípios e valores religiosos da fraternidade, do amor
ao próximo. Estes princípios são valores e princípios que nos inspiram para o
respeito, a tolerância, o amor ao próximo, a fraternidade e a filantropia que
cada um de nós, como líderes religiosos, dirigentes das instituições públicas
ou privadas.
Em
Moçambique, na Zambézia e em Quelimane particularmente, nos mais diversos
processos históricos e políticos, as confissões religiosas desempenharam,
diferentes papeis quer nos processos de desenvolvimento político, económico e
social, assim como de reconciliação nacional. Refira-se que durante os conflitos
armados, que terminou com a assinatura do Acordo geral de Paz e a assinatura do
Acordo de Cessação de Hostilidades, as confissoes religiosas, como maior
destaque para a Igreja Católica e o Conselho Cristão de Moçambique defendiam
junto do governo e nao so. a política de reconciliação nacional.Por isso, no
actual diálogo político em que a Paz e Estabilidade Política estão sendo
ameaçadas, as Instituições Religiosas são convidadas a tornarem-se mais actuantes
na busca dos caminhos da Paz e da Estabilidade Nacional.
Neste momento crucial da historia da
nossa jovem democracia, seria importante recordar a Primeira Carta Encíclica de
Paulo aos Coríntios quando dizia o seguinte: ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse o
amor, seria como o metal que soa ou como o sino que treme. A carta do
Apostolo Paulo é uma das mais belas obras religiosas que encontramos na
Literatura e que achamos relevante partilharmos com os membros das diversas confissões
religiosas presentes nesta III Conferência Nacional
Religiosa e nao so. O
apóstolo Paulo inspirou-se de um antigo hino cristão e o adaptou para ajudar os
leitores da carta a entenderem seu recado e transmitirem a pedagogia do amor,
da fraternidade, da compaixão e da esperança. Paulo recorda-nos que o maior Dom
que possa existir na vida é o amor e a fraternidade dedicados à Deus e ao
Próximo.
O que Paulo afirma na sua carta
dirigida aos Coríntios também está em Mateus 22, 34-40 34. Sabendo os fariseus
que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se e um deles, na altura
entendido como o Doutor da Lei, perguntava a Jesus Cristo para pô-lo à prova: Mestre, qual é o maior mandamento da Lei de
Deus? Respondeu Jesus:
-
Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de toda tua
inteligência. Estes são os primeiros e maiores mandamentos;
-
Amarás teu próximo como a ti mesmo.
Nesses dois mandamentos encontramos
a inspiração, a fonte da luz, da esperança que orientam os profetas, as confissões
religiosas. Nestes mandamentos, as instituições do Estado e os municípios devem
buscar a fonte de inspiração e de actuação na defesa da fraternidade e da
irmandade.
Encontramos também dentro dos pilares do Alcorão a
fé da nossa religião islâmica que se opõe à exclusão, a separação, ao abandono,
a discriminação e estigmatizarão do próximo. No final da Surata Al Bacará diz: “Todos
os crentes creem em Allah, em Seus anjos, em Seus Livros e em Seus
mensageiros. Nós não fazemos distinção entre os Seus mensageiros.”
(Alcorão Sagrado, 2:285). Essa ética divina invocada pelo Alcorão é seguida por
todo muçulmano que visualizam todos os profetas e mensageiros com todo o
respeito, porque todos foram enviados por Deus com uma só mensagem: o de adorarmos somente a Allah, e não Lhe
atribuirmos parceiros. Portanto, são irmãos na convocação das pessoas para a
senda de Deus.
Meus Senhores e minhas Senhoras,
Realizamos a III Conferência
Nacional Religiosa num momento em que o país confronta-se com dois principais desafios
nos quais em cada dia a Paz e a Estabilidade Política encontram-se ameaçadas.
O
primeiro desafio tem o carácter político: nos
últimos dias, adensou o clima de desconfiança e tensão que envolve a política
moçambicana desde as eleições de 2014 e que levou aos confrontos armados de
Julho, na província de Tete. O ambiente de tensão que estamos vivendo tem
revelado que apesar da Paz alcançada em 1992 o processo de reconciliação, da
consolidacao da democracia, do amor e da fraternidade nacional ainda continuam
sendo frágeis. Negociamos armados, inspirados no odia, na vinganca! Negociamos
para aldrabar o outro, para humilhar e espezinhar o proximo! Negociamos para
derrotar ao proximo e podermos proclamar a nossa victoria! Um acordo que cria
vencidos e vencedores nao e, e nem sera, a solucao para os problemas de uns e
de outros! Um acordo baseado nesses principios e com toda a certeza, a materia
prima para o proximo troar de armas entre irmaos! Por isso, se quisermos
encontrar uma solução sustentável em relação às reivindicações apresentadas por
uma ou por outra formação política, deveremos alterar o nosso paradigma de
análise e observação do espectro de conflito em que o nosso sistema político
pode estar atravessando. Caros líderes religiosos, caros parlamentares, membros
do governo, do corpo diplomático, membros da sociedade civil amantes do povo
mocambicanos. O melhor medico nao aquele que nos receita o remedio mais doce,
menos amargo, ou menos doloroso, mas sim aquele que nos receita a medicacao
correcta, por mais amarga ou dolorosa que seja! O melhor amigo nao aquele que
nos elogia, mas sim aquele que mesmo sabendo da nossa possivel reaccao tem a
coragem de nos dizer a dura verdade sobre nossos actos e pensamentos! A
persistência do conflito em que o País vive e tem dificuldade de supera-lo
passa necessariamente pela necessidade de superação de alguns preconceitos
negativos com os quais fomos socializados desde a nossa infância, a
adolescência e teimamos em ainda conviver com eles. A sociedade moçambicana
precisa de desconstruir o conceito oposição=inimigo que deve ser extirpado e
excluído do campo político nacional. Precisamos de aceitar com humildade, o pensar
diferente com o sentido elevado da fraternidade, do amor e carinho ao próximo!
Todos, independentemente das nossas diferenças, pertencemos a este espaço,
chamado Mocambique Como filhos de Deus merecemos todo o respeito, a dignidade,
o amor e a concórdia. É dentro destes princípios onde enquadramos o discurso do
Senhor Presidente Felipe Nhysi quando declarou-se disposto a encontrar-se com o
líder da oposição para falar da Paz, da Reconciliação e do Desenvolvimento e
ultrapassar o potencial de risco e da guerra. Excias, o mundo onde o nosso pais
se encontra, esta numa competicao intensa entre regioes e entre paises!
Enquanto nos distraimos com querelas internas, outros paises vao tomando aquele
que e e deverioa ser o nosso lugar no ‘Concerto das Nacoes’! Quando acordarmos,
ja o comboio do progresso tera apitado tres vezes e partido...
O segundo desafio nacional tem um carácter económico: apesar de todos esforços feitos
pelo Estado e pelas confissões religiosas que lutam em prol do desenvolvimento
e crescimento económico, a maior parte da população moçambicana vive com níveis
de pobreza bastante alarmantes. A pobreza e a desnutrição continuam com níveis
bastante elevados. Nos últimos anos, o crescimento do consumo per capita diminuiu drasticamente e a
corrupção permanece alta. Nas zonas rurais prevalece a baixa produtividade em
virtude do baixo acesso aos fertilizantes e insumos agrícolas, fraco acesso ao
crédito e falta de infra-estruturas. Estes e outros aspectos concorreram para
que o cumprimento das metas dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM) não
fosse atingido.
A exclusao economica e uma ameaca a
paz e por isso deve merecer a atencao de todos os actores, incluindo as
confissoes religiosas.
Confrontados com os elementos do contexto político e
económico, em que o país esta vivendo actualmente, existem três passos
importantes que exigem uma reflexão:
a) Primeiro, precisamos
de desenvolver uma Campanha em favor da Fraternidade, da Concórdia e da
Reconciliação Nacional. A proposta de uma Campanha em favor da Fraternidade, da
Concórdia e da Reconciliação deverá envolver todos os moçambicanos sem
distinção das suas cores políticas, religiosas, culturais e nem étnicas. Com
base nessa campanha deveremos assumir que cada um de nós, líderes religiosos,
políticos e dirigentes sejam inspirados pelo princípio do Apóstolo Marcos que
nos ensina a ‘vivermos para servir o povo e não para nos servirmos do povo’.
b) Segundo, para além de uma Campanha
Nacional em favor da Fraternidade, da Concórdia e da Reconciliação, precisamos
de estabelecer um compromisso colectivo entre as Religiões e o Estado para que
se reflicta no respeito da Dignidade Humana, bem como na Justiça Social, no Serviço
da Igreja à sociedade. Aparece a preocupação das lideranças da Igreja com o seu
agir direccionando a sugestões pastorais para a vivência da Campanha da
Fraternidade nos diversos locais de culto e nao so como as mesquitas, dioceses,
paróquias, Sinagogas e comunidades.
c) Terceiro, o
projecto e a visão social que precisamos de estabelecer devem colocar no centro
da sua agenda a importância da dignidade
humana, do bem comum e da justiça social. Precisamos de reforçar o
papel das Religiões e coloca-la ao Serviço da sociedade. Precisamos de
reflectir muito mais o papel das lideranças da Igreja com o seu agir fraterno
direccionando sugestões pastorais para a vivência da Campanha da Fraternidade.
Terminamos esta Carta Aberta reiterando que cada um dos crentes
das nossas confissões religiosas; Cada um dos membros das nossas comunidades; cada
um dos membros das nossas formações políticas; cada um dos membros das nossas
instituições públicas ou privadas precisam do amor,da fraternidade, da justiça (social,
politica e social, e da concórdia, enfim da INCLUSAO. As nossas confissões
religiosas desempenham um papel importante para o alcance destes valores
preciosos procurados por todos.
Os nossos crentes, as nossas comunidades, as nossas
instituicoes religiosas precisam de encontrar o carácter superior do amor
transformado em obras produzidas em favor dos crentes e dos povos. Por isso,
cabe a cada de nós, presentes e ausentes deste fórum o compromisso colectivo
para a materialização dos anseios colectivos do nosso povo e da nossa patria.
Esta patria e de todos, nao devendo haver cidadaos da primeira e cidadaos da
segunda!
Sintam-se em casa na paz do Senhor!
PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DA
CIDADE DE QUELIMANE
Manuel de Araújo