Monday, 6 October 2008

A Opiniao de Djenguenyenye Ndlovu



SIGAROWANE - Entrevista ao Estado

HÁ muito mais de um quarto do século que a minha vida é conduzida por fazer perguntas. Nunca deixo de as fazer, embora isso às vezes me traga chatices. Agora também já nem vale a pena mesmo. Nada ganharia deixando de perguntar. Acho que tal ousadia equivaleria a morrer. Hoje também tenho algumas perguntas, mas não consigo ver a quem as fazer. Sendo assim vou fazê-las ao Estado. O Estado moçambicano, claro.Maputo, Terça-Feira, 7 de Outubro de 2008:: Notícias
- Estado, gostaria de saber por que é que uma pessoa que mata é guardado pelos seus agentes?

- É tarefa do Estado manter em segurança os cidadãos protegendo-os dos criminosos, mantendo estes guardados. Mais, tendo transgredido as normas, têm de ficar guardados como castigo. Por outro lado, e pensando bem, se o Estado os deixasse em liberdade poderiam voltar a matar outras pessoas. Também para evitar que os familiares e amigos da pessoa morta se vinguem, fazendo justiça com as próprias mãos.

-Então os agentes do Estado protegem os assassinos para que os seus familiares não se vinguem?

- Sim. Para evitar que as pessoas façam justiça pelas próprias mãos.

- E como é que é feita essa justiça?
- Os agentes de Estado decidem sobre que justiça. Manter o assassino guardado pelos agentes do Estado durante algum tempo, anos.

- Depois sai e vai matar outra vez...

- Pode acontecer que sim, mas também pode ficar regenerado durante o tempo que estiver guardado pelos agentes do Estado.

- Mas o morto esse não ressuscita mais. A mulher jamais verá aquele marido. Os filhos serão órfãos de pai em todas as suas vidas. Os pais terão perdido um filho. Enfim...

- Essas coisas são assim. É a lei da vida.

- A lei da vida diz que um pode matar e voltar a passear?

- Ele volta a passear depois de ficar guardado pelos agentes do Estado.

- Guardado pelos agentes do Estado e alimentado pelos órfãos. Alimentado pela viúva. Alimentado pelos pais do morto. Alimentado pelos amigos do morto. Acha que é justo isso, Sr. Estado?

- Não é isso. Ele é alimentado pelo Estado.

- E onde é que o Estado vai buscar os recursos para alimentar esse assassino? Para pagar salários e alimentar esses agentes que guardam o assassino? Não é nos impostos? E quem paga imposto, Sr. Estado? Não é quem produz?

- Olha que quem manda é o Estado. Deixa de questionar o Estado. Afinal o que é queres?

- Fazer perguntas. Por exemplo, como é que uma pessoa que rouba ao Estado, a uma instituição pública, é guardado pelos agentes de Estado. Às vezes por tempos que vão a dezenas de anos. Dezenas de anos a ser alimentado por aqueles a quem roubou. Acha isso justo Sr. Estado?

- A lei diz que quem roubou fica guardado e...

- Quer dizer, o Estado não acha que quem roubou deve pagar?

- Deve pagar sim, mas fica guardado.

- Mas vai pagar como se não produz nada?

- Lá eles conseguem.

- Está a dizer que mesmo guardados, fazem trabalho fora daquelas paredes. Trabalho que lhes dá renda?

- Epá...

- Então se alguém está farto das voltas que a vida dá, rouba ao Estado e depois fica guardado. Não paga impostos. Não precisa comprar comida. Não precisa chatear-se com problemas de saúde que disso tudo o Estado toma conta.

- O Sr. devia estar guardado. Está a provocar o Estado.

- Mas pela conversa que tivemos até nem seria mau, mas eu não vou ser guardado apenas porque fiz perguntas. Aliás, estou autorizado pelo Estado a fazer perguntas. Mas falando sério, acha que as minhas perguntas não fazem sentido Sr. Estado?

- Até têm algum sentido, mas acho que os deputados da Assembleia da República poderiam responder melhor a essas perguntas.

- Acha?

- Sim. Estou certo disso.

- Então vou entrevistá-los. Os 250.

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