Monday, 6 October 2008

A Opiniao de Fahed Sacoor


CRÓNICA DA INGLATERRA - Jovens forçadas a combater

LI há pouco tempo uma reportagem num jornal local e achei interessante compartilhar com o amigo leitor, visto que o nome de Moçambique vem também incluído. Quando estamos fora do nosso “habitat” gostamos de ver e ouvir boas referências da terra, ficamos tristes quando o cenário é ao contrário.Maputo, Terça-Feira, 7 de Outubro de 2008:: Notícias
A reportagem aborda o problema da rapariga nos conflitos armados em muitas partes do mundo, que vêm dizimando milhares de pessoas incluindo jovens raparigas, que são obrigadas a “servir” com toda a sua força, incluindo o seu próprio corpo para escravas sexuais.

Mais de 100000 jovens raparigas, algumas com idades compreendidas entre 9 e 10 anos, são forçadas a guerrear em combates em todo o mundo. Um grande número delas está a combater na guerrilha, mas também há outras a combater ao lado das forças governamentais de cada país. Estas estatísticas não incluem menores do sexo masculino. Nestes conflitos as raparigas são raptadas, violadas e forçadas a prestar serviços contra a sua vontade e a lutar em conflitos armados nos 38 países nestas últimas duas décadas. Esta horrível exploração da mulher foi revelado pelos Serviços de Apoio às Crianças do Reino Unido, cuja chefe executiva é Marie Stauron. Ela refere que isto é uma desgraça internacional pois, as jovens têm todo o direito de protecção e segurança das guerras. Se não for dado um “travão” nisto agora, isto vai continuar nas gerações vindouras.

A situação está de tal forma deteriorada que envolve raparigas em combates com os seus 10 a 14 anos, como se verificou no Kosovo. No Congo, 12500 raparigas lutaram forçosamente tanto pelo Governo como pela guerrilha. Na Libéria até o ano de 2003 o número de jovens nestas condições cresceu até 8500. No Uganda mais 6500 raparigas foram raptadas pelos guerrilheiros. Na Índia há mais de 1000 e por aí em diante.

Os números têm vindo a duplicar nestes 12 anos, segundo as estatísticas. Se isso se mantiver nestes termos, estima-se que um total de 200 milhões de jovens raparigas que vivem nesses países em conflito fiquem afectadas.

A verdade é que no nosso país esse conflito terminou há 16 anos, mas infelizmente isso não vem referenciado nessa reportagem, pelo que, como cidadão, tive o cuidado de mandar um E-mail a esta organização, dando-lhes conta disso mesmo, para que nas próximas estatísticas o nome de Moçambique não seja incluído na lista, porque o conflito armado já acabou há mais de uma década e meia.

Esta organização luta para que as Nações Unidas dêem os direitos às jovens de se queixar contra os seus líderes, se as suas vidas forem afectadas por causa da guerra, esperando que ninguém vá ignorar esta petição.

A esposa do ex-primeiro-ministro britânico, a juíza Cherie Blair, também está pessoalmente envolvida nesta organização e disse que “essas jovens raparigas esperam que a comunidade internacional as proteja e não as vá decepcioná-las”.

Outros países envolvidos nesses conflitos são: Angola; Colômbia; Burma; Bósnia-Herzegovina; Iraque; Burundi; El Salvador; Camboja; Israel; Guatemala; Índia; ex-Jugoslávia; Líbano; R Congo; Honduras; Nepal; Macedónia; Palestina; Eritreia; México; Filipinas; Irlanda do Norte; Turquia; Etiópia; Nicarágua; Sri Lanka; Sudão; Libéria; Peru; Timor Leste; Uzbequistão; Ruanda; Serra Leoa; Somália; África de Sul; Uganda e Espanha.

Nesta lista não foi incluída a Grã-Bretanha, mas sabe-se que foram enviadas raparigas com idades inferiores aos 18 anos para a zona de guerra. Segundo a legislação britânica em vigor, só poderá incorporar nas forças armadas os indivíduos que tiverem completado os 17 anos de idade, mas não poderão tomar parte em combates antes de completar os 18 anos. Apesar disso, sabe-se que quatro jovens britânicas de 17 anos de idade foram mandadas para o Iraque entre 2003 e 2005. O ministro da Defesa britânico diz desconhecer essa situação.

Das milhares de histórias dessas jovens que diariamente são violadas dos seus direitos, eis uma pequena história da Lucy (nome fictício), que aos 12 anos de idade foi raptada pela resistência armada no Uganda e forçada a caminhar para o Sudão.

“Fomos usadas como escravas, fomos treinadas com armas para matar e mandadas para a batalha, mas muitas de nós não sabiam como lutar e manejar as armas, por isso foram presas fáceis e facilmente mortas”, disse a Lucy.

Aos 13 anos ela já era esposa de um comandante rebelde. Ela sofreu abusos sexuais e violência física de outras três rivais esposas do comandante, tentando muitas vezes suicidar-se por isso. Aliás, há também um grande numero de suicídios entre essas jovens.

Três anos mais tarde ela fugiu do Sudão para o Uganda com o marido. Este foi morto pelas tropas governamentais e levaram a ela como prisioneira.

Como detectaram que ela estava grávida, deram-lhe uma nova oportunidade na vida, contactando a família da Lucy, que deu as boas-vindas a ela. Neste momento está finalizando o curso de Medicina, enquanto a filha agora com 5 anitos fica em casa com os avôs.

“Tenho mais um ano de estudos, depois arranjo um emprego e a minha filha vai estudar advocacia para defender todas as outras raparigas que sofreram o que eu sofri”, disse a Lucy.

Infelizmente, como a Lucy quantas outras raparigas não estarão nesta situação triste e vergonhosa, tudo por culpa de guerras sem nexo?

Fahed Sacoor - fsacoor03@yahoo.com.br

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