As Perguntas que não Foram Feitas à Mamã Graça
A Mamã Graça tem sido uma das poucas senhoras que permanece coerente desde a independência. Acima de ter sido esposa do nosso saudoso Presidente Samora Machel e agora esposa de um dos únicos homem mais carismáticos do nosso tempo, Nelson Mandela, ela é de um carácter e personalidade muito forte e que merece respeito.
Fui ver uma palestra por ela apresentada na Politécnica na quinta feira dia 10 de Setembro no período da tarde. O seu público era a massa jovem, embora uma boa parte de docentes daquela universidade estivessem presentes, bem assim como pessoas da geração dela, curiosos, fãs como eu, jornalistas e artistas. Ela teve uma plateia riquíssima.
A Mamã Graça falou brilhante, como é seu normal. Viajou no tempo e levou os jovens ao passado que só conhecessem através da literatura, falou de Kwame Nkrumah e Haile Sellassie, só não falou de Marcus Garvey porque este situa-se já há quase cem anos. Na verdade ela trouxe à palestra a vibração dos movimentos das independências para mostrar que tudo começa com um sonho, o sonho da mudança.
Exaltou os nossos heróis, quem na década 1960 eram jovens e alguns até adolescentes, mas que lideraram com sucesso o processo da independência. Eram jovens quando assumiram altos cargos na administração do Estado, chegou a mencionar Aires Ali que tornou-se director da Escola Secundária F. Manyanga ainda com 22 anos de idade. Mas não poupou os camaradas pela injustiça de não contarem ou contarem correctamente a nossa história.
A palestrante lamentou o facto de hoje, ainda vivos os jovens da independência, nenhum deles tenha a coragem e a coerência de vir e falar a verdade da nossa história. Ela reconheceu que todos os processos tem erros, mas muitas coisas boas também são feitas e que vale a pena partilhar com os jovens de hoje, para que eles sejam os homens que o país espera.
Ela também viajou ao futuro e mostrou à plateia jovem, o país que espera daqui a 50 anos. Foi uma óptima viagem no tempo, do futuro ao passado e do passado ao presente, uma viagem cheia de recados, elogios, críticas, cautelas e emoções. Para falar a verdade, gostei da palestra que terminou com um pequeno dialogo com os presentes que colocaram questões e apresentaram comentários.
É sobre esta parte que acho devia aprofundar um pouquinho com algumas questões. Acho que os presentes foram cautelosos demais no diálogo que tiveram com esta ilustre figura, talvez seja pelo famoso politicamente correcto, que todos ficaram ofuscados pelo brilho da palestrante. É que mesmo ela tendo dado tempo para todas reacções possíveis, já que a palestra era muito aberta, quase todos limitaram-se no geral e ela, também respondeu no geral e no geral, quase que não trouxe novidades, senão o óbvio.
Por exemplo, não chegou a ser feita a mamã Graça a grande pergunta sobre o enriquecimento dos jovens da independência. Uns a dizerem que têm o direito natural de ficar rico porque pegaram em armas para libertar o país e outros a dizerem que os tais jovem haviam sido mal percebidos. A realidade porem mostra que bem ou mal percebidos os tais jovens são a classe mais rica deste país. E os outros jovens, estes do nosso tempo, que armas devem pegar para enriquecer? Ou por outra: é sempre preciso pegar em armas?
Não foi perguntada à mamã Graça sobre o novo estilo de Golpes de Estado em África, com acordos e memorandos pré eleitorais e governos da unidade nacional quase fantoches, ao tipo zimbabueano ou queniano. Na sua qualidade de uma das personalidades mais influentes e conselheiras reconhecida no mundo, como vê o caminhar da democracia africana? O que acha de jovens corajosos como Rajoalina? Como acha que seria recebido pelos poderosos de Moçambique um tal fenómeno?
Não foi perguntada a mamã Graça sobre o seu comentário naquilo que são as grandes desigualdades deste país, com uma grande diferença de condições entre as cidades e os distritos. Chegando a haver lugares em Moçambique que não conhecem a presença do Estado. Porque é que se pretende interpretar Moçambique tendo Maputo como referência? Porque se discriminam os outros cantos deste país e porque é que a maior parte dos recursos ficam nesta grande cidade. Que dignidade se espera de jovens dos distritos fora de Maputo?
Não foi perguntada a palestrante sobre as últimas decisões da Comissão Nacional de Eleições. É verdade que enquanto começava a palestra, terminava a reunião que os 19 doadores pediram com o presidente da CNE para perceber como é que é possível abdicar da realização do direito material a favor de formalidades? Que democracia se pretende como eleições sem concorrentes? Dizem por ai que a nossa CNE está fortemente influenciada pelo partidão, não é este um outro tipo de golpe de estado? Também uma invenção dos africanos?
Não foi perguntada à palestrante sobre o que acha do fenómeno Anibalzinho, que é um jovem da nossa época e com um currículo criminoso muito pesado. Mas tudo indica que outros jovens mais velhos o alimentam. Como outro perguntou: “de quem é este cão”? Qual seria a opinião da palestrante? O que ela diria da arrogância dos nossos jovens dirigentes ao mentirem para a opinião pública e para todos os moçambicanos sobre a recaptura do Aníbal. Não bastava dizer sim ou não e não dar detalhes em vez de mentir? Será que são esses jovens que vão contar a história deste país?
Opa, devo parar por aqui. São tantas as perguntas que não foram feitas, umas relacionadas com a política deste pais e de África e outras com a capacidade da palestrante em conciliar o ser uma fiel militante do seu partido, uma influente activista social e ao mesmo tempo uma empresária que segundo os portugueses, com interesses na banca. Mas porque é que as perguntas não foram feitas? Se calhar porque não teriam respostas. E não precisamos sacrificar a mamã Graça, tanto que ela já presta um grande exemplo a jovens como eu que também acreditam no futuro deste país.
Muita vida e muita saúde mamã Graça. Acredito que ainda há-de ver o seu sonho realizado.
Retirado do http://athiopia.blogspot.com/
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2 hours ago
1 comment:
Grande análise crítica do Duma. Valeu mano.
Abraços
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