Wednesday 30 September 2009

A OPINIAO DE DOMI CHIRONGO: ARQUITECTOS DA POBREZA

"Arquitectos da Pobreza" é o título do livro do escritor sul-africano Moeletsi Mbeki. Facto curioso deste livro é mencionar a pobreza logo no seu título. E, ao meu ver, sempre que isso acontece, todos os moçambicanos devem ficar atentos, pois é também de Moçambique que se está a falar.

Na Feira Internacional do Livro na Cidade do Cabo, Moeletsi esteve presente e apresentou o seu livro numa tertúlia organizada para o efeito. Se não fossem as outras obrigações, teria tido a oportunidade de discutir, questionar, debater com ele sobre o livro e para além deste. Entretanto, semanas depois o tema do livro foi capa num dos jornais de Moçambique e foi também discutido numa das sessões, dos habituais debates aos fins de semana, na RDPÁfrica.

Ora, quis hoje usar este título para falar da Feira Internacional do Livro no Zimbabwe. No momento em que escrevo estaria no encontro de Indaba, programado para anteceder a feira propriamente dita. Na verdade, fui convidado para representar Moçambique neste encontro e na feira. O que naturalmente, é um grande prestígio para mim. Uma vez que, tradicionalmente, se trata da maior feira na região da SADC antes do Sr. Mugabe entender ficar "louco". Mas esse é outro assunto. Agora que a situação está calma, é boa altura para engradecer os grandes feitos.

Acredito que pesou para o convite à Moçambique, o facto de termos tido boa prestação na Cidade do Cabo. E, para resgatar a hegemonia de Harare, nada melhor que convidar os melhores!

Os organizadores ofereceram-nos gratuitamente o espaço para expôr os livros moçambicanos. Em contrapartida deviamos pagar as nossas próprias passagens e estadia no Zimbabwe. Coisa simples, a valiar pela capacidade do nosso empresariado. Assim, empreendemos demarches para que tal se verificasse.

Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e até ligamos, e enviamos missiva, para Embaixada de Moçambique no Zimbabwe. A resposta que obtivemos foi nula. O Ministro de qualquer coisa, lá na Embaixada de Moçambique, chegou a dizer que não havia dinheiro e estavam em crise, tanto mais que o Ministério dos Negócios Estrangeiros ainda não tinha mandado verba. E por mais que mandasse não teriam como nos ajudar. Depois de uma longa conversa ao telefone, tentando convencer da importância deste evento para Moçambique, o fulano apenas vincou que não era possível qualquer ajuda. Contudo, podíamos tentar enviar uma missiva ao Embaixador, que estava ausente, a explicar a nossa pretensão. Mas não era possível, concluíu. Depois de desligar, pensei na possibilidade de ter um confrade como interlocutor na Embaixada ou alguém que tivesse mais sensibilidade Cultural. Era bom que assim fosse! Em momentos coloquei-me no lugar do fulano. E se realmente estivesse no seu lugar, daria o meu quarto emprestado e ia dormir na sala. Havia de compartilhar a minha refeição, por essa uma semana, e teria cinco ou mais anos de ganhos visíveis para o meu povo. Mas para não achar mal ao fulano, dei-lhe razão. Talvez ele tenha mesmo razão! E se assim é, melhor corrigirmos imediatamente. Talvez aqueles diplomatas não têm alojamento. Talvez aqueles diplomatas não passam refeições e estão abandonados no Zimbabwe. Eu que tive a sorte de entrar em contacto com um deles, venho por este meio apelar a quem de direito para efectuar deligências a fim de trazê-los de volta. São nossos compatriotas, não podem continuar a sofrer! Melhor é sofrer em casa.

Quanto ao Ministério da Educação e Cultura nem quero falar.

O apoio do empresariado nacional do qual acalentava grande esperança, mais uma vez decepcionou-me. Decepcionou a mim e decepciou a Moçambique.

Domi Chirongo


PS1: Se num evento tão importante como este, não há possibilidade de se representar o país, ainda por cima a custo zero (sem exigir "pocket money" e "prémio de jogo"), será que se pode combater a pobreza?

PS2: Se calhar só perdemos dinheiro ligando para a Embaixada de Moçambique no Zimbabwe. Se calhar só gastamos papel, tónel e tempo tentanto acreditar em apoios. Se calhar só estou a gastar tempo escrevendo este texto, pois os arquitectos da pobreza não ligam para tudo isso!

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