Sunday 10 May 2009

AGRICULTURA - Renasce esperança na produção de copra




Estão a renascer esperanças no concernente à produção de copra na província da Zambézia, cujos coqueiros encontram-se a braços com a doença de amarelecimento letal do coqueiro, que nos últimos anos estima-se tenha dizimado mais de seis milhões de plantas. Na tentativa de contrariar a situação, descrita como catastrófica para o rendimento das pessoas e economia da província, cerca de 650 mil plantas resistentes à doença serão colocadas à disposição dos produtores até 2013.

Maputo, Sexta-Feira, 8 de Maio de 2009:: Notícias
Trata-se de um projecto que está a ser implementado no âmbito a Millenium Challange Account Moçambique, avaliado em 17.4 milhões de dólares norte-americanos, que para além de quase todos os distritos costeiros da Zambézia, abrange mais dois da província de Nampula.

Os 17.4 milhões de dólares destinam-se ao financiamento de programas de aumento de rendimentos agrícolas. Estas verbas são parte integrante de um global de 506.9 colocado a disposição de Moçambique, em Junho de 2007, pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA) destinados a apoiar o crescimento económico e redução da pobreza, indicadores medidos através do desenvolvimento do sector privado e melhoria do bem estar da população.

Actualmente, devido ao amarelecimento letal o cenário dos palmares da Zambézia é de devastação quase que total, o que à partida, hipoteca a cultura que até há bem pouco tempo constituía, por um lado a principal fonte de rendimento e de emprego para a população e, por outro, suporte da economia da província.

No distrito de Nicuadala, por exemplo, extensas áreas outrora ocupadas por plantações do sector familiar e do grupo Madal apresentam-se desertas, fazendo lembrar, os caules que ainda restam, postes de transporte de energia sem os respectivos fios condutores, uma situação que se repete conforme soubemos, em todos os distritos.

Estudos recentes efectuados com recurso a fotografia aérea indicam que a província da Zambézia pode ter morrido perdido, vítimas do amarelecimento letal, nos últimos anos, qualquer coisa como seis milhões de coqueiros.

As perdas devido a doença de amarelecimento letal do coqueiro subiram de três a cinco porcento entre 2004 e 2005 para cerca de 25 porcento em 2007, numa altura em que os palmares começam a ser igualmente atacados por pragas.

O agravamento dos índices da doença e incidência de pragas resultou, por sua vez, segundo dados estatísticos, na queda da produção de 500 mil toneladas de copra/ano para não muito acima de 100 mil toneladas, uma redução que não apenas se reflecte negativamente na renda dos camponeses, como também na própria economia da província.

As poucas pessoas que ainda conseguem alguma colheita de coco colocam o produto no mercado a preços quer chegam a atingir cinco meticais por unidade, contra um metical a dois anteriormente.

Diferentemente das outras culturas o coqueiro tem a vantagem de oferecer vários subprodutos durante todo o ano, nomeadamente o coco para o fabrico de óleo e sabão, a madeira para a construção e mobiliário, a palha usada para a cobertura de casas bem como a seiva da floração para a produção de bebida alcoólica. É daí que o coqueiro tem sido chamada a “árvore das 100 aplicações”.

Josef Pudivitr, especialista de coqueiro contrato pelo projecto, explica que até ao final do programa, em 2013, está previsto o plantio de pelo menos 650 mil plantas em substituição de palmares doentes que estão a ser abatidos e queimados para conter a propagação do doença.

O combate contra a doença do amarelecimento irá consistir na eliminação dos coqueiros infectados e o replantio.

A nível da Zambézia, o pontapé de saída do projecto para a reposição do palmar foram escolhidos os distritos de Inhassunge e Nicoadala, onde estão a ser distribuídas mudas pela população, uma população, aliás bastante experimentada em matéria de coco.

É convicção do Governo moçambicano e da Millenium Challange Account Moçambique que o projecto de relançamento do coqueiro está a ser bem acolhido pela população, tendo em conta a sua tradição nesta área.

Para o efeito, no caso concreto da Zambézia a opção técnica recaiu na variedade gigante verde local, tida como tolerante à doença associado ao facto de a população estar habituada a lidar com a mesma. Antes do projecto foram experimentadas variedades híbridas que acabaram sucumbido a doença.

De acordo com o programa, entre 2009 e 2010, serão plantados 300 mil coqueiros, sendo 150 para este ano e igual número para o próximo.

POPULAÇÃO PEDE MAIS COQUEIROS

Maputo, Sexta-Feira, 8 de Maio de 2009:: Notícias
O director distrital de Actividades Econ­ómicas de Inhassunge, Malemunge Andrade, disse ao “Notícias” que assiste-se a uma grande aderência da população ao processo de reposição do coqueiro. Se a previsão, numa primeira fase, era distribuir 20 mil, a cifra teve de ser elevada para 23 mil, na tentativa de corresponder aos anseios dos camponeses.

“Mesmo assim, a avaliar pelos pedidos que nos têm chegado, penso que ainda estamos muito longe de satisfazer a procura, devido fundamentalmente a alguns problemas de acesso as mudas. As plantas custam dinheiro”, referiu o director.

Malemunge Andrade explicou que os efeitos do amarelecimento letal tendem a agravar-se desde 2002. “Vários hectares que estavam ocupadas por palmares apresentam-se hoje quase que desérticas. Por isso a população de Inhassunge está na expectativa de ver reposta a sua principal fonte de rendimento”, quem acredita que melhores dias, em termos de produção de copra, poderão estar de volta dentro de alguns anos.

Segundo o director distrital das Actividades Económicas de Inhassunge, dependendo da área, os beneficiários podem receber até 50 plantas, uma medida adoptada para fazer face a exiguidade das mudas. “Mas estamos cientes de que a população precisaria de muito mais”.

Questionado sobre o impacto que o replantio do palmar está a ter em Inhassunge, Mulemuge Andrade disse: por enquanto é difícil falar do impacto, tendo em conta que o projecta está a começar a ser implementado a partir deste ano, portanto, termos que esperar entre seis e oito anos para antes de colher os primeiros frutos.

Enquanto os coqueiros não começam a frutificar, ao abrigo do projecto de aumento de rendimentos agrícola, está em curso, em Inhassunge e noutros distritos abrangidos pelo programa, trabalhos para incentivar novas culturas alimentares, com destaque para cereais e feijões.

Em Inhassunge, onde de acordo com os resultados do último censo populacional vivem 81.890 habitantes o programa de relançamento do coqueiro prevê trabalhar numa área de 250 hectares, o que corresponde a mais ou menos 70 mil mudas.

Enquanto isso, o director distrital das Actividades Económicas em Nicuadala, Hilário Costa, entende que o projecto de reposição do coqueiro vem salvar o recurso de sobrevivência da população e, provavelmente produzir matéria prima para que empresas do ramo voltem a laborar em pleno, incrementado o volume de exportações da província.

Entretanto, Joana Valentim, uma beneficiária residente na aldeia de Marrubane, posto administrativo, na localidade do Madal, em Nicoadala, mostrou-se satisfeita com o projecto, embora tenha lamentado o facto de as quantidades das mudas alocadas aos camponeses sejam limitadas. Recebeu apenas cinco mudas, das quais duas morreram.

“Estou satisfeita por receber plantas porque, com o dinheiro resultante da venda de cocos, poderei colocar os meus filhos a estudarem e comprar outros produtos de que necessito”, disse Joana Valentim, numa breve conversa com a nossa Reportagem.

DOENÇA ASSOLA 25 POR CENTO DAS PLANTAS

Maputo, Sexta-Feira, 8 de Maio de 2009:: Notícias
O director provincial da Agricultura na Zambézia, Mahomed Valá, disse que o nível de enfermidade nos coqueiros subiu de 10 porcento para cerca de 25 porcento, dos mais de 10 milhões de plantas que existiam pelo menos até 2002.

Como resultado da doença, segundo, o director provincial, a produção de copra na província da Zambézia registou uma queda drástica, ao cair de 46.6 mil toneladas entre 2004 e 2005 para cerca de 12 mil toneladas em 2008.

Mahomed explicou igualmente que enquanto decorre a fase de reposição dos coqueiros o governo provincial, em parceria com a MCA está a fomentar culturas alimentares para garantir o sustento da população.

Cobrindo uma área estimada em 15 milhões de hectares, antes da eclosão do amarelecimento letal, cobria mais ou menos a renda a renda de 15 porcento da população costeira. “O nosso desafio é salvaguardar aquilo que constituiu a principal fonte de rendimento da população e sustento da economia da Zambézia”.

Conforme explicou, Momed Valá, antes deste projecto o MCA e o Governo, em parceria com o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), procuraram identificar variedades moçambicanas de coqueiro que se mostrasse tolerantes a doença. Foram investidos para o efeito 250 milhões de meticais.

Em ralação às fontes de fornecimento de mudas, o director provincial da Agricultura destacou o grupo Madal, uma empresa que outroura desempenhou papel de relevo não só nas exportações da copra, como também na garantia de postos de trabalho para a população.

Esta empresa tem viveiros cujas plântulas, depois de devidamente seleccionadas são depois alocadas ao projecto para serem distribuídas pela população.

“O grupo Madal está preocupado com a situação e ajudou nos a colocar 21 mil mudas no distrito de Inhassunge. Esperamos que com o envolvimento do sector privado possamos estar numa recuperação na ordem dos 25 por cento, nos próximos anos”, referiu Momed Valá.

O projecto da MCA tem uma componente forte de desenvolvimento humano para a qual foi contratado o Instituto de Comunicação Social (ICS) que se ocupa da divulgação do projecto e das melhores variedades e técnicas de cultivo.

SINTOMAS DA DOENÇA

Maputo, Sexta-Feira, 8 de Maio de 2009:: Notícias
Entre os sintomas do amarelecimento destacam-se a coloração preta das flores, queda precoce dos frutos e das folhas. Quando assim acontece o aconselhamento técnico recomenda o abate da planta como forma de evitar a propagação da doença.

O amarelecimento letal do coqueiro (Coconut Lethal Yellowing) é uma doença causada por um agente patogénico que atinge os palmares. Começou na costa atlântica e do pacífico e algumas ilhas da América do Norte e América Central. Desde há algum tempo esta doença tem sido causa da morte dos coqueiros em vários países de África, incluindo Moçambique.

A praga ataca os coqueiros e outras palmáceas e está disseminar-se rapidamente. Registada a praga numa área, a paisagem muda em poucos de meses. Os coqueiros afectados lembram postes após uma explosão. As plantas atacadas morrem em três ou seis meses após o aparecimento dos primeiros sintomas.

Em 1980 a praga foi responsável pela morte de mais de sete milhões de palmeiras na Jamaica. Epidemias similares à da Jamaica ocorreram também em Cuba, Haiti, República Dominicana, Bahamas e Flórida. Em 1997 a praga chegou a Cozumel e Cancún no México e seguiu pela península de Yucatán até Honduras.

1 comment:

Unknown said...

Alexandre Barroso Rafael

Tenho acompanhado com a questao com uma lagrima no canto de um olho, na verdade 30 - 40% dos palmares da zona da Madal, Inhasunge, Chinde e Pebane foram atacados por esta doenca...ficou ainda mais triste quando sinto que o governo ao longo destes anos todos nao tem feito quase nada para reverter esta situacao!

E mais nao disse...