Joaquim Chissano na palestra sobre política externa de Moçambique
A DIPLOMACIA silenciosa foi por vezes necessária e fundamental nas negociações empreendidas pelo Governo para o bem do país. O ex-Chefe do Estado, Joaquim Chissano, que confirmou o facto segunda-feira numa palestra que proferiu na Universidade A Politécnica, em Maputo, subordinada ao tema: “Política Externa de Moçambique: Passado, Presente e Futuro”, disse a título de exemplo, que as negociações com Ian Smith para a independência do Zimbabwe, que tiveram o envolvimento das autoridades governamentais moçambicanas, e os Acordos de Nkomati, para pôr fim à agressão sul-africana na época do “apartheid” ao país, bem como outras iniciativas visando convencer o mundo ocidental a apoiar a causa nacional decorreram num clima de silêncio.
Joaquim Chissano explicou que foi necessária uma diplomacia silenciosa para, por exemplo, convencer à ex-Primeira-Ministra britânica, Margareth Thacher, a mudar de posição e ficar amiga de Moçambique. O mesmo aconteceu em relação ao ex-Presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, que depois de vários contactos diplomáticos também mudou de opinião sobre a causa do país e manifestou-se aberto a apoiá-la.
Segundo o ex-estadista, a guerra fria teve um peso enorme na diplomacia moçambicana, exigindo das autoridades governamentais locais um gigantesco esforço para que o país fosse conhecido tanto no mundo ocidental como nos países do então bloco socialista liderado pela ex-União Soviética.
Joaquim Chissano respondia a uma pergunta na circunstância colocada por Ivone Soares, da Renamo, que pretendia saber as razões por que, alegadamente Moçambique primou por uma diplomacia silenciosa no tratamento da questão zimbabweana.
Para explicar as razões desta posição das autoridades governamentais moçambicanas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói, afirmou que o que se passou é que simplesmente a mesma não foi publicitada em jornais e outros meios de informação, justamente para garantir a manutenção dos canais de comunicação com todos os intervenientes na crise e levá-los ao diálogo.
Segundo Oldemiro Balói, uma diplomacia feita em jornais pode antagonizar os interesses em jogo. Disse que o acordo alcançado para a crise no Zimbabwe é de facto um acordo inclusivo. Porém, seguindo a máxima segundo a qual aos amigos se diz a verdade o ministro disse que “aos nossos amigos dissemos a verdade”.
Entretanto, o ex-Presidente da República afirmou, em conclusão, que Moçambique tornou-se um país incontornável no concerto das nações, sendo que o desafio é manter-se nessa qualidade. Segundo explicou, Moçambique tornou-se um país incontornável pela sua postura no conflito sino-soviético durante a luta de libertação nacional, a forma como resolveu o problema da guerra de desestabilização, como conseguiu tornar países hostis em amigos, pelas rápidas e positivas transformações socio-económicas, pelo desenvolvimento positivo das relações do género e, em suma, pela boa governação.
No que diz respeito aos desafios do presente e do futuro, Chissano apontou a globalização. Segundo afirmou, ela tem oportunidades boas e más, mas o que é facto certo é que somos globalizados em tudo.
A agenda da diplomacia do país deve responder aos desafios da integração regional, a luta contra a pobreza e pelo desenvolvimento, contra as doenças endémicas, o crime transnacional organizado e as alterações climáticas. A agenda deve ainda comportar a necessidade de consolidação da paz e aprofundamento da democracia em África e no mundo (relações internacionais mais democráticas), a reforma de organizações internacionais, a reforma do comércio internacional, a necessidade duma Nova Ordem Económica Internacional, sendo que os requisitos são o diálogo constante e conhecimento mútuo.
Joaquim Chissano ressalvou, no entanto, que as coisas podem mudar com o futuro, apontando a actual crise financeira mundial como sendo originada pelos erros de previsão sobre o futuro. O ex-Presidente da República afirmou que a acção de relacionamento do Estado moçambicano com o mundo exterior não é uma responsabilidade exclusiva do Governo, mas de todas as forças vivas da sociedade para que o país conquiste o seu lugar no planeta.
Explicando o paradigma sobre o qual a política externa do país foi viabilizada depois da independência, Chissano, que na altura era ministro dos Negócios Estrangeiros até à sua eleição para o cargo de Chefe do Estado, em 1986, afirmou que houve a necessidade de recrutamento de jovens que tinham o nível de 9ª classe. Muitos desses jovens foram formados “on the job trainning”, ou seja, com a prática do trabalho. Muito poucos na altura é que possuíam alguma formação em matéria de diplomacia e relações internacionais. Foram enviados para trabalhar nas embaixadas de Moçambique e nas Nações Unidas, em diversas comissões deste organismo supranacional, donde elaboravam relatórios para o país.
Joaquim Chissano disse que constrangimentos de ordem financeira e de pessoal pesaram na altura sobre as atribuições do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Aliás, afirmou que por causa de constrangimentos financeiros o país não consegue ter representação diplomática em todo o mundo.
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Maputo, Quarta-Feira, 18 de Fevereiro de 2009. Notícias
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