Monday 18 August 2008

Os tabus da minha terra: Porque e que as universidades nao podem ser regionais?

Li esta manha uma entrevista no Autarca que tem como titulo ' UCM não é uma universidade regionalista- Nega Dom Jaime Pedro Gonçalves, Magno Chanceler da Universidade que até o momento apenas encontra-se estabelecida nas províncias do Centro e Norte do País.
Confesso que nao entendi muito bem qual era o proposito da entrevista: se confrontar o Chanceler da Universidade sobre tais alegacoes ou entao se dizer que as universidades e quica outras entidades nao podem ser regionais ou regionalistas. E e aqui que o busilis da questao comeca. Qual a diferenca entre uma entidade regional e uma regionalista? E ja agora quem disse que o pais nao pode ter instituicoes regionais? E quem disse que criar ou possuir instituicoes regionais e ser-se regionalista? Afinal de contas o que e ser regionalista? E porque e que e mau ser regionalista? Que eu saiba, salvo erro, as unicas entidades (latu sensu) proibidas de serem regionais sao os partidos politicos.
Fico cada vez mais convencido que existe uma franja da populacao mocambicana cujos cerebros foram tao 'lavados' durante uma determinada epoca da construcao da nossa mocambicanidade que nao conseguem libertar-se de certos tabus e dogmas desse periodo. E o caso da regiao verus regionalismo parece ser um deles. Esses compatriotas meus nao conseguem ver que as regioes sao parte da nacao e que elas sao a base sem a qual nao se pode construir a Nacao. Esses compatriotas nao conseguem ver que o que causa a morte nao e a faca de per si, mas a intencao dolosa de quem a possui. Ou seja, que nao e forcoso 'matar a Tribo para construir a Nacao'. Que a tribo e a nacao nao so podem conviver harmoniosamente como podem-se fortalecer-se mutuamente. O que e mau e a instrumentalizacao dos objectos quer sociais quer materiais, e para os casos em apreco a faca, a tribo ou a regiao. Alias, e assim que interpreto o espirito da Lei 8/2003 sobre os Orgaos Locais do Estado (LOLE), de 19 de Maio de 2003, publicado no Boletim da Republica, I Serie, 2003 no 20. Esta Lei nao apenas parece reconhecer este principio, como vai mais longe ao garantir certa autonomia a tais entidades regionais.
Outro paralelismo que gostaria de fazer e que tambem me tem deixado perplexo, verifica-se na arena internacional. Parte consideravel da acima referida ranja, advoga na arena internacional, por exemplo, que nao se deve avancar para a Uniao Africana via Estados Unidos da Africa ou Comunidade Africana antes da consolidacao das integracoes regionais! Alisa o Plano de Lagos em 1980 assim o definiu. A questao que coloco e simples. Nao havera paralelismos entre a formacao de uma uniao continental e a formacao de nacoes e paises? Nao sera que tendo regioes mais fortes possamos consolidar a nossa nacao? Porque e que o que e valido para a arena africana nao pode ser valido para a arena nacional?
E como e que se podem ter regioes fortes sem centros educacionais locais que respondam aos desafios e prioridades locais?
Lembro-me com muito orgulho de ter sido chamado em plena Casa do Povo de 'Localista', por uma eminente cidada mocambicana (?). Sera mau amar aquilo que me e proximo desde que nao odei aquilo que nao me e?
Voltando ao caso em apreco nao seria mais correcto chamar a UEM que e gerida com nossos impostos de Universidade regionalista uma vez que levou mais de 25 anos para sair de Maputo? Ao contrario a UCM, que e gerida com dinheiros privados, em menos de 13 anos conseguiu abarcar mais de seis provincias? A Politecnica tambem gerida com recursos privados conseguiu em menos de 10 anos sair de Maputo abrindo uma delegacao na Cidade de Quelimane. O ISCTEM, onde lecciono so tem faculdades no Maputo, mas ninguem lhe chama de regionalista. A Universidade Sao Tomas tem faculdades em Maputo e em Xai-Xai, Gaza. O ISRI, que funciona com dinheiros do nosso imposto so tem cursos em Maputo. A UP apesar de ter sido pioneira das entidades universitarias publicas a sair de Maputo levou mais de 10 anos para o fazer. Sera que so se e regionalista quando nao se esta em Maputo?
Espero nao ter entornado o caldo! Para que nao me acusem de mas intencoes, segue o texto da entrevista na integra publicada no Autarca de hoje, Segunda feira, 18 de Agosto de 2008.

Beira (O Autarca) – O Magno Chanceler da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Dom Jaime Pedro Gonçalves, negou em entrevista ao nosso jornal que a sua instituição de ensino superior seja regionalista. Na mesma entrevista Dom Jaime reconhece a existência dessa interpretação, mas defende que ela não corresponde nem a intenção dos fundadores, neste caso os Bispos da Igreja Católica em Moçambique, e nem a prática.
“Portanto, esse conceito de que senta a primeira instituição de ensino superior a se estabelecer fora de Maputo, portanto abriu a sua sede na Cidade da Beira em 1995, decorrente da iniciativa dos Bispos para contribuir para a Paz, Estabilidade e Desenvolvimento no País. Hoje, a instituição conta com
Faculdades nas cidades da Beira, Chimoio, Cuamba, Nampula, Pemba e Tete UCM é regionalista, é reservada àlgumas regiões do País não corresponde a verdade. A prática, nós estamos a ver que ela está se estender para todo o País, e com muito agrado estamos a verificar que as outras universidades estão a fazer o mesmo, estão a deixar de ser reservadas apenas para o Maputo.
Temos o Unilúrio, Unizambeze e outras particulares como a Jean Piaget que não estão centralizadas em Maputo”– afirmou Dom Jaime.
Refira-se que a UCM representa a primeira instituicao de ensino superior a se estabelecer fora da cidade de Maputo, portanto abriu a sua sede na Cidade da Beira em 1995, decorrente da iniciativa dos Bispos de contribuir para a Paz, Estabilidade e Desenvolvimento.
Hoje a instituicao conta com faculdades na cidade da Beira, Chimoio, Cuamba, Nampula, pemba e Tete.

No próximo ano vai também expandir-se para Quelimane, cobrindo deste modo todas as sete províncias que compõem as regiões Centro e Norte do País.
O Chancer da UCM que é igualmente o Arcebispo da Beira referiu estar a par da interpretação de que a UCM estava ou então está para o Centro e Norte do País, e que provavelmente,
segundo a mesma explicação, não estaria para o Sul, pelo que então tem sido defendido por alguns círculos de opinião que se trata de uma universidade regionalista, ou seja, circunscrita
à uma certa região do País.
“Essa interpretação nós sabemos que existiu e sabemos também que há pessoas que tentaram inviabilizar a UCM alegando tais motivos e outros” desabafou, acrescentando que “isso não corresponde a verdade porque nos seus inícios, na projecção, na organização e no início das suas actividades a UCM destinou-se à servir todo o País”.
O Bispo esclareceu ainda que “o que aconteceu foi que a UEM estava mais ou menos circunscrita ao Sul, e ainda me lembro que o então Ministro da Educação ArnaldoNhavoto, falando
aos bispos à cerca do projecto da UCM, de facto ele salientou isso, dizendo que a UEM está mais para os alunos da zona Sul, porque tem mais possibilidades de hospedagem, ao passo que das outras partes do País está difícil porque não tem alojamento em Maputo”.
Nessa ordem de idéia, a UCM em vez de começar as suas actividades naquela parte onde já existia uma universidade, até com prestígio, privilegiou começar doutra parte onde nada
havia, tendo então iniciado a abertura de faculdades na Beira, Nampula, depois em Cuamba, agora está também presente em Pemba, em Tete e em Chimoio.
E, no próximo ano vai abrir Faculdade em Quelimane.

Maputo reservada à Teologia
Em relação a Zona Sul, a fonte indicou que desde o princípio existiu o projecto de a UCM se estabelecer em Maputo, cujo objectivo visa essencialmente “acudir” os alunos que a Igreja Católica tem a frequentarem o Sacerdote, os quais estudam a Filosofia no Seminário da Matola
e outros a Teologia no Seminário de São Piedésimo, que foi noutros tempos 8 de Março.
“Portanto, esses alunos estão preparados para iniciarem a Faculdade de Filosofia e a Fuculdade de Teologia.
Isso é que está reservado para a Cidade de Maputo” – salientou.
Todavia, explicou que a instalação das Faculdades de Filosofia e de Teologia segue os seus passos, porque a Teologia precisa de professores próprios, precisa de uma biblioteca pópria, precisa de um certo consentimento de Roma, porque a Teologia é muita delicada, podendo-se, inclusivamente, ensinar coisas que até são contra Deus.
Dom Jaime reforçou, afirmando que há todo um processo de instalação da Faculdade de Teologia em Maputo que exige o seu tempo. (Falume Chabane)

1 comment:

Anonymous said...

Caro Araújo,

Permita-se colocar os seguintes pontos:

1. Sobre a entrevista – parece-me que a intenção era confrontar o entrevistado com as alegações de que a UCM é regionalista. Todavia, a medida que a entrevista avança esse enfoque fica meio diluído.
2. Parece-me, outrossim, que as questões que levantas no início do teu post e as respostas que avançaste fizeram-te cair num autêntico paradoxo.
3. Por isso, julgo importante recorrer à Semântica para entendermos o alcance dos termos na origem de tal paradoxo. Assim, Regional é tudo aquilo que pertence a uma região. Regionalista é o defensor do regionalismo. E este, é o sistema dos que põem os interesses da sua região à frente dos interesses nacionais.
4. Ora, à luz destes parâmetros, podemos perceber o seguinte:
a) Não faz sentido acusar a UCM de regionalista, porque apesar de estar apenas no centro-norte, visa o alcance do interesse nacional (expansão do ensino superior, oferecer possibilidades de formação aos moçambicanos independentemente da sua origem/ proveniência geográfica).
b) O mal de ser regionalista ou criar instituições regionalistas (uma das tuas questões) é exactamente esse de descurar o interesse nacional.
c) Não há mal nenhum em o país ter instituições regionais, desde que elas se conformem com o interesse nacional estabelecido/ definido para a área dessa suposta instituição.
5. À semelhança da UCM, julgo que a UEM também não pode ser acusada de regionalista por ser “gerida com nossos impostos e que levou mais de 25 anos para sair de Maputo?” (estou a citar-te). Digo isto porque ao longo desse tempo todo a UEM esteve aberta para todos os moçambicanos, sem descriminação de espécie alguma, mormente a de proveniência geográfica. À míngua de capacidade de albergar todos os interessados, ela teve de definir critérios para a admissão. Podemos discordar e discutir se os critérios foram (ou são) os melhores, se não havia (há) outras alternativas, mas julgo que não devemos negar o facto da UEM ter estado ao serviço dos propósitos nacionais, no que diz respeito às oportunidades de formação dos moçambicanos.
6. Para concluir, julgo também que o teu argumento não perderia a plausibilidade que tem se tivesses expurgado todo o jargão sobre lavagens cerebrais e afins, porque parece-me não ser esse o caso.

Mas já agora Araújo,
Nesta questão do ensino superior, para mim o debate deve ser outro. Qual é a política do Governo para a expansão do ensino superior no país. Fico surpreso quando vejo na imprensa os anúncios de aberturas de novas universidades e institutos superiores politécnicos nas províncias e não encontro quais os pressupostos que norteiam as escolhas feitas.
Sendo tu um parlamentar (a representar o interesse nacional), e por isso com acesso à este tipo de documentos (que espero não sejam “classificados”), e eu um mero cidadão, permita-me interpelar-te: qual é apolítica do governo para a expansão do ensino superior? Como é que posso perceber que, por exemplo, Sofala tenha a delegação da UEM, a delegação da UP e ainda a sede da Unizambeze e Zambézia tenha apenas a delegação da UEM (para ciências marinhas, vai se lá saber porquê) e a delegação da UP? Como? Porque é que Zambézia tem de apanhar as migalhas (delegações) e não o miolo (a sede e início de uma universidade)?
Serei regionalista por causa destas perguntas? Não, quero entender como o interesse nacional é assegurado nestas matérias.

Já vai longo o comentário, foi obra do entusiasmo.

Um abraço

Sergio Braz