Cólera mata em Cuamba

Doente de cólera transportado para enfermaria especializada no HG Mavalane (Arquivo)Cólera mata em Cuamba

O SURTO de cólera que assola o Município de Cuamba, na província do Niassa, já causou a morte de um total de doze pessoas dos cerca de 277 casos cumulativos da doença registados desde finais de Agosto último a esta parte pelas autoridades sanitárias que afirmam que apesar de todo o apoio logístico recebido do Governo e de parceiros, enfrentam dificuldades no sentido de controlar o surto devido a onda de desinformação levada a cabo por alguns círculos políticos.

Laisson Daniel, Director dos Serviços Distritais da Saúde Mulher e Acção Social em Cuamba, disse que a principal causa que está por detrás do surto de cólera que acontece pela primeira vez fora do tempo chuvoso, relaciona-se com a crise de disponibilidade de água potável que a cidade vive neste momento, aliada à falta de cultura de higiene colectiva por parte dos munícipes, o que agrava as condições de saneamento da urbe já precárias.

“A cidade atravessa um dos momentos críticos da sua história em razão da escassez gritante de água para o consumo. Nos poucos rios que ainda têm pouca água a correr, ela apresenta índices bastante altos de contaminação e mesmo assim constitui a alternativa das populações, porque os poços secaram completamente”– disse o entrevistado, acrescentando que para minimizar a situação cisternas rebocadas por tractores têm abastecido os lugares de aglomeração considerados prioritários, nomeadamente unidades sanitárias, lares e internatos, incluindo centros prisionais e mercados.

O sistema de distribuição de água da vila pertencente à empresa do ramo funciona com muita irregularidade, facto que fica à dever-se a escassez daquele precioso líquido na fonte localizada na zona de Metucue.

A média diária de entrada de doentes com cólera no centro de tratamento aberto no anexo do Hospital Rural de Cuamba é de sete, número considerado alto. Esta situação resulta da gravíssima situação de desinformação promovida, segundo ele, por alguns círculos políticos na oposição e que tem afectado os técnicos de saúde acusados de promotores da cólera.

“Temos notificado alguns casos de agressão aos nossos técnicos acusados de levar a cólera às comunidades a mando do Governo que alegadamente está a testar uma vacina contra a cólera. Por outro lado, mostram-se relutantes em acatar as orientações no sentido de usar o cloro que distribuímos com o apoio da Médicos Sem Fronteira a nível dos bairros para o tratamento da água contaminada dos rios e essa situação concorre para o agravamento do quadro epidemiológico da cidade”- explicou a fonte.
Laisson Daniel, indicou que a maior parte dos doze óbitos aconteceram nas comunidades, onde se sente a desinformação.

“Mas estamos apostados em alterar o actual quadro desfavorável à saúde, pois contamos com o apoio dos líderes da autoridade tradicional e de confissões religiosas” disse.

A Direcção Provincial da Saúde acaba de enviar a Cuamba um número não especificado de técnicos para reforçar o efectivo existente, visando conter o avanço da cólera para outros pontos do distrito de Cuamba e das províncias vizinhas de Nampula e Cabo Delgado.

O Governador Arnaldo Bimbe, que participou num encontro de nível regional em Nampula, alertou aos seus colegas Felismino Tocoli e Eliseu Machava sobre a possibilidade da cólera se alastrar para as suas províncias, sendo necessário desenhar estratégias comuns de intervenção baseadas na sensibilização das comunidades sobre as boas práticas de higiene individual e colectiva.

CARLOS TEMBE; In Noticias, Maputo, Quarta-Feira, 8 de Outubro de 2008.Para`mais detalhes clique aqui